behind the green tie.

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August 27, 1978. [22:09 PM.] ✧

Eu estava em minha cama, coberta da cabeça aos pés por camadas e mais camadas de cobertores. Chovia, mas nem o som da chuva era capaz de mascarar o som da discussão acalorada no andar de baixo.

Eu já estava acostumada com aquilo, mas desta vez parecia mais grave. O som de louças quebrando era constante, e me fazia tremer toda vez que uma nova espatifava-se no chão.

Os sons da discussão pareciam cada vez mais próximos, e eu coloquei a cabeça para fora das cobertas bem a tempo de ver appa passar como un raio pela porta aberta do meu quarto, omma passou logo depois, gritando para ele não ignorá-la daquela maneira, furiosa.

Lembro-me de ter saído da cama na ponta dos pés, seguindo na mesma direção que eles, a caminho do quarto do casal. Lembro de espiar pela porta, que estava entreaberta e ver appa jogar suas roupas com pressa em uma grande mala azul.

Omma estava encostada perto da janela, com as duas mãos cobrindo seu rosto, e pelo tremor em seus ombros, eu soube que estava chorando.

 Eu não entendia direito o que estava acontecendo, só queria saber o porquê de ela estar tão triste, e por que ele estava fazendo as malas, já que ele nunca viajava à noite. O silêncio no quarto só era cortado pelos trovões do lado de fora e soluços de minha omma do lado de dentro.

"Baebeom, por favor... não vá."

Ela falou em voz baixa, com o rosto brilhante por conta das lágrimas, entre soluços reprimidos. Mas ele não respondeu, fechou a mala com um baque surdo e passou pela porta sem nem mesmo me notar encolhida em um canto do corredor para não ser pega espiando atrás da porta.

Não tive coragem de entrar no quarto para consolar a omma. Então voltei para o meu próprio quarto, me cobri da cabeça aos pés de novo, e chorei até dormir.

No dia seguinte, bem cedo, quando omma ainda dormia agarrada ao travesseiro dele eu entrei no quarto e procurei qualquer coisa dele que eu pudesse guardar, alguma coisa que ele talvez houvesse esquecido de levar seja lá para onde estivesse indo.

Algo que eu pudesse guardar para dar para ele quando ele percebesse que havia esquecido e voltasse para buscar, e então quando ele voltasse eu o abraçaria e pediria que ele perdoasse a mamãe por exagerado com a bebida de novo.

Omma não bebeu mais. Porque ela morreu, e cadáveres não bebem. Tirou a própria vida cerca de uma semana depois de ele ter ido embora. Eu achei esta gravata verde, jogada no fundo de uma das gavetas da cômoda e a guardei para quando ele viesse buscá-la, mas ele nunca veio.

dear diary;; kimjongdaeOnde histórias criam vida. Descubra agora