January 15, 1993. [18:22 PM.] ✧
Eu deveria ter ido embora, eu sei que deveria. Mas minha barriga roncava, e o cheiro da comida estava tão bom. Lá fora chovia, uma chuva bonita que decorava as janelas e as ruas. Lá fora estava frio, mas do lado de dentro era quente e aconchegante.
O apartamento dele é uma bagunça, não é sujo, quando você entra, a primeira coisa que se nota é que ele limpa, mas não arruma. Isso é fofo, e de certa forma ingênuo. O cheiro gostoso de comida impregnava o ambiente, me fazendo inspirar profundamente várias vezes. Ele estava fazendo Bibimbap, minha comida favorita em todo o universo.
E eu quero acreditar que não foi simples acaso, que ele lembrou-se de quando eu disse isso a ele. Que quis fazer para me agradar. Mas me agradar porque gosta de mim, não porque está com pena da maluca suicida.
Assim como quero acreditar que me convidou para almoçar em sua casa porque gosta da minha companhia, não por medo de que eu possa tentar algo de novo. Era nisso que eu pensava enquanto olhava ele cozinhar, de costas para mim. A cozinha era estilo "americana" e eu podia acompanhar tudo de camarote, sentada na bancada que a separava da cozinha.
Mas eu não prestava muita atenção ao processo de preparar o bibimbap em si, era mais interessante olhar o modo como ele o preparava. Seu cabelo loiro estava preso para trás com uma bandana, deixando a mostra sua testa e suas sobrancelhas escuras, que estavam franzidas e seus lábios contraídos repuxados em um canto, em um sorriso quase imperceptível.
Sem nem mesmo perceber, eu estava imitando suas expressões faciais. Ele olhou para mim, levantou uma das sobrancelhas como se estivesse me desafiando a tentar imitá-lo, porque sabe que eu não consigo fazer isso.
E eu ri, porque percebi o que eu estava fazendo e porque ele fica engraçado fazendo isso. Eu ri porque me sentia bem, e estava ansiosa para comer comida de verdade de novo. Mas depois, senti vontade de chorar, porque lembrei de minha vó, e de que o bibimbap dela era o melhor.
E não consegui mais sustentar nossa conversa enquanto ele cozinhava porque senti que se abrisse a boca, começaria a soluçar. Ele percebeu meu silêncio repentino, e eu nem tentei esconder as lágrimas. Ele desligou o fogo, contornou a bancada para ficar na minha frente, se abaixou, e me abraçou.
Eu nem tentei afastá-lo, porque não queria. Queria que ele me abraçasse, queria que me beijasse, e que fizesse todas as coisas que vêm depois do beijo. Queria que fizesse comida para mim e me desse banho. Eu queria tudo, eu quero tudo. Eu tirei o rosto do ombro dele, ciente de que o suéter caro já estava imundo de meleca e lágrimas.
"A comida, estou morrendo de fome."
Eu disse, tentando meu melhor sorriso. Ele me olhou nos olhos, como se tentasse me decifrar. Muito sério, então limpou minhas lágrimas com a ponta dos dedos.
"Por que quando olho para você sinto que estou apenas olhando pela fresta de uma porta fechada? Por que sinto que nunca consigo ver o que tem atrás da porta?"
"Ninguém conhece ninguém por completo, é por isso."
"Sinto que não te conheço nem um pouco."
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dear diary;; kimjongdae
Fanfictiono diário de baehim no inverno em que ela perdeu a avó, e descobriu o amor.