Capítulo 21 ✖

64 11 14
                                    

Leia ao som de: Pais e Filhos, Legião Urbana

- Falou com o Peter? - perguntei, assim que Hansol chegara em casa.

- Por que deveria?

- Ele tá chateado com alguma coisa.

- Deixa ele pra lá! - exclamou, dando de ombros. - Ele tá todo estranho comigo desde o início do ano...

- Deixa pra lá, nada! Ele é seu melhor amigo desde quando chegou aqui!

- E a culpa é minha se ele tá sendo babaca comigo?

- A culpa é sua de não se importar com seu amigo!

- E eu me importo com ele!

- Se importa tanto que nem percebeu a ausência dele aqui, na hora de cortar o bolo.

- E-Ele não tava aqui? Não percebi... Estava falando com a Lily e... Me distrai.

- Liga pra ele. Fale com ele. - disse. - Filho, o Peter gosta da Lily?

- Acho que sim.

- E a amizade de vocês é menos importante que um possível futuro namoro com ela?

- Não.

- Então fala com ele. - dei-lhe meu celular.

Hansol pegou o aparelho, digitando o número do seu amigo dois anos mais velho, sem demonstrar emoções fortes.

- Oi, Peter, eu...

- Não quero falar com você.

- Você chegou bem em casa?

- Agora que vem me perguntar? Depois que levou a Lily pra casa, né? Achei que só se importava com ela.

- Eu me importo com você também. Nós três somos amigos, né?

- Vocês dois são o que quiserem. Eu não quero mais a amizade de vocês.

- Cara, o que tá rolando?

- Para de gastar seu tempo comigo, fingindo se importar. Vai falar com sua namorada. Ela é mais importante que uma amizade de infância.

- Cara, me ouve! Para de... - calou-se por alguns instantes. - Mãe, ele desligou!

- Nunca vi o Peter assim. O que tá havendo?

- Não queria perder a amizade dele...

- E não vai! - vi suas lágrimas caírem.

- Já perdi. Já perdi! Já perdi!

Ele correu para o quarto dele trancando-se lá dentro.

- Você viu isso, Cheol? Viu? Eu vou lá falar com ele!

- Amor, fica aqui. Você não vai até ele.

- Então vá você!

- Deixe-o um pouco sozinho.

- Cheol, ele é uma criança! Olha por tudo o que ele tá passando! Olha essa situação!

- Você está transformando camundongos em hipopótamos! Seu filho está crescendo, já é adolescente! Deixe-o resolver-se com o Peter, a Lily e ele mesmo. OK?

- Ele só tem treze anos. Treze, Cheol. Treze. Ainda é uma criança!

- Nosso filho já está entrando na adolescência!

- N-Nosso?

- Seu. Desculpe-me.

"Você é como um pai a Hansol. Não deveria ter corrigido algo que não estava errado.", pensei, mas não disse.

- Há alguma coisa além disso. Eu sei que tem.

- E como pode saber?

- Intuição de mãe, Cheol. Tem algo a mais nesse triângulo amoroso que meu filho se meteu...

- S/N, pare de tratar seu filho como uma criança de cinco anos, querendo protegê-lo de tudo e todos! Ele vai precisar quebrar a cara algumas vezes, errar, cair! Até hoje ele não sabe andar de bicicleta porque você nunca deixou!

- Ele poderia se machucar! E se caísse?

- Hansol se levantaria e tentaria mais quantas vezes fossem preciso até aprender. É assim que a vida funciona. Não dá para usar rodinhas de apoio na bicicleta pra sempre. Deixe-o brincar no playground sem medo de balançar alto no balanço.

- Eu não quero que ele se machuque.

- Exigir isso é exigir que ele seja alienado e eternamente dependente. Eu sei o futuro que deseja ao seu filho; o sucesso que quer que ele tenha; que herde todo o talento que o pai dele tinha - dizia, alto. -, deixe-o sair aos poucos do ninho. Uma hora ele vai precisar voar, S/N!

- Ele ainda é um bebê. Cheol. - comecei a chorar, batendo no peito. - Ele ainda é aquele bebê de 2.700 gramas que peguei no colo enquanto chorava, celebrando uma nova página da minha vida; ele ainda é aquele menino que brincava com as caixas de sabão em pó, que rabiscava as paredes e sujava o banheiro inteiro de hidratante de pele. O meu bebê, Cheol. O nosso bebê.

- Não dá pra tratá-lo assim pra sempre. Ele precisa crescer e você necessita estar ciente disso.

- Eu não quero que ele cresça. Quero que ele fique assim para sempre: com esperanças, com pureza, com esse amor incondicional que ele tem no peito. Quando ele sair dessa porta, vai estar no mundo; nesse mundo sujo, mau. Você não entende, não entende porque ainda não tem filhos!

- Tudo isso só por conta da Lily e do Peter? Calma, amor. Quem nunca se machucou por um amor adolescente e finito?

- Não é por só por isso.

- Então é porquê?

- Porque acabei de perceber que meu filho tá crescendo e eu ainda não contei a ele sobre o Vernon.

- Você tem que falar, mas hoje não. Agora não. OK?

- Cheol, me dá um abraço forte e... Por favor, me diz que já estamos distantes de tudo, dele.

- Sempre estivemos. Sempre. - deu-me um abraço forte, recebendo um igual. - Eu vou estar sempre com você. E isso foi uma promessa que fiz quando te pedi em namoro e em casamento.

{×××}

Carpe Diem: Playground [pt.3] EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora