Capítulo 8 ❌

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  Havia quase dois anos em que eu estava na minha faculdade de filosofia. Pode parecer estranho, principalmente por minha antiga personalidade ser de exatas, mas, admito, era interessante.

  Na sala ao lado, a da classe de história, havia uma mulher encantadora, de nome forte, que logo chamou-me a atenção. Era hora do intervalo, uns quinze minutos para respirarmos ar puro e comer algo. Meu colega de faculdade, Jeff, havia faltado, então sentei-me sozinho, mexendo no celular.

— Oi. Está sozinho?

— Érr... Estou, Rimena. Quer se sentar comigo?

— Tá. Pode ser.

— Você é da faculdade de História, né? Prazer, sou da de filosofia. Chamam-me de Ted.

— Prazer, Ted. É um bom nome.

— Não tanto quanto o seu.

— É que... Eu sou Peruana. Então, acabei tendo esse nome meio esquisito.

— Não é esquisito. É bom ser diferente!

— Sim, tem razão. Gosto de ser a única Rimena aqui. — sorriu.

— Seu sorriso é bonito.

— Obrigada. Você é fofo, educado e... Aparentemente tímido.

— Educado e fofo, sim. Mas tímido, não.

_ Ah, é? Na primeira vez que pedi uma caneta emprestada a você, ficou todo tímido!

—  Quer sair comigo? Há um bar aqui perto do centro. — disse, de surpresa. — Eu te chamei para sair, não sou tímido.

— Hoje não vou fazer nada com meu namorado. Pode ser. Podemos ir juntos. Espero você lá, às vinte e uma horas.

— Vou estar lá. 

— OK, Ted. Ate à noite.

  Rimena era, na minha opinião, a mulher mais bonita da faculdade. Devia ter uns vinte e seis, sendo quase da minha idade, mas sua maturidade era algo que me fazia suspirar, encantar.

  O namorado dela era alguém de sorte...

  Não lembro muito bem de onde tirei o nome 'Ted'. Só sabia que não queria que ninguém soubesse que eu era o "falecido Vernon". Meus amigos dos Estados Unidos me conheciam por tal apelido e sendo realista, nem queria que soubesse quem eu realmente era.

  Eu ainda morava num apartamento perto da faculdade. Era pequeno, o aluguel era barato e não precisava gastar dinheiro com condução, apenas com a faculdade e utensílios básicos. Minha mãe vinha me visitar de seis em seis meses, e, com o passar do tempo, a ideia dela vir morar comigo tornou-se uma utopia.

  Cheguei no bar às 8:50PM, dez minutos antes para que ela não esperasse por mim. Cinco minutos depois, lá estava ela: num vestido escuro como o céu sobre nós, com um batom num tom de vermelho tão forte que se tornava roxo e salto altos num tom simples de nude. Ah, como aquela mulher me encantava.

— Oi. — sorriu, tímida.

— Oi!

— Vamos entrar?

— Vamos... Érr... Desculpe-me, estava hipnotizado com você, que está muito bonita...

  Ela sorriu, novamente. Dessa vez, porém, diferente: _ Obrigada. Chegou cedo, Ted. Combinamos de vir às vinte e uma.

— Gosto de chegar antes e ser pontual. E... Não queria que me esperasse tanto.

— Que cavalheiro. .

  Segurei em seu ombro direito, guiando-a até a entrada. Todos estavam curtindo, dançando, namorando, mas nós dois preferimos sentar-nos a uma mesa e conversar, enquanto bebíamos.

— Vinho. Por que não estou surpreso?

— Cerveja. Por que estou surpresa?

— Você é uma mulher elegante, mas ao mesmo tempo aparenta ser exata; pensar em linha reta, ter foco único.

— É, eu sou assim. Gosto de exatidão e arrisco até não levar as coisas muito para o emocional. E você parece ser o extremo oposto.

_ Sim. Eu faço filosofia, queria o que? _ brinquei. — Por que ficou surpresa com a minha escolha?

— Há tantas bebidas aqui e você olhou uma por uma para escolher a mais simples e clichê!

— Eu gosto de cerveja! Rimena, nem sempre as mais elegantes, são as melhores.

— E as filosofias começaram! — brincou. — Você disse que eu era elegante, assim como todas as bebidas chiques daqui. Mas disse também que nem sempre as elegantes são as melhores...

— Nem sempre. Você é uma das exceções. Você é... Ah, nem consigo colocar em palavras.

— Por quê?

— Gostei da sua companhia. Acho que poderíamos nos ver mais vezes.

— Podemos sim, Ted. Podemos sim. Vou gostar de vir aqui beber vinho ou... Cerveja com você e falar sobre filosofias da vida e de bebidas.

— Fale-me um pouco de você, Rimena.

— Bem... O que tenho a dizer? Não sou tão interessante assim... Meu pai é peruano e minha mãe, americana. Eu nasci lá, no Peru, e me mudei para cá na infância. Tenho quase vinte e seis anos.  Sou apaixonada por história, coisas antigas e vinho. — respondeu. — Agora, diga-me sobre você. Sobre seu passado ou algo assim.

  Então, gelei. O que eu iria responder? Não podia e nem queria dizer que eu era o Vernon do Seventeen. Não. Não! Não! Eu não era mais aquele maldito cara! Sou o Ted!

— Érr... Ted?

— Devaneios. Desculpa. — disse, procurando as palavras certas. — Chamam-me de Ted. Tenho quase vinte e nove anos e... Gosto de filosofia e... Filmes de ação.

— Qual é... Você é mais interessante que isso!

— Eu não me lembro de nada do meu passado.

— Como assim?

— Vamos mudar de assunto?

— Claro!

— Pelo que posso ver, você é bem desastrada! — logo abri um sorriso, mudando de assunto, deixando aquele clima ruim de lado.

— O que? Como assim?

—Há várias marcas roxas nos seus ombros e braços.

— Ah, é! Eu sempre bato o braço sem querer quando tô saindo do carro. Não liga para isso! Deixe-me te perguntar... Seu nome é Ted mesmo?

—... É... Um apelido. Não curto meu nome.

— É mais estranho que Rimena?

— Seu nome não é estranho! Eu gosto dele!

— Vai... Qual é seu nome de verdade? Pode dizer! Não precisa ter vergonha!

— Meu nome? Meu nome é Hansol.

— É um nome legal. Hansol... Sua mãe era fã de Star Wars ou algo assim?

— Não! Meu Deus! — ri alto, achando a pergunta tosca.

  Eu e Rimena passamos a madrugada inteira conversando sobre a faculdade e o futuro. Ela era interessante demais. Ah, sei que é muito errado dizer isso, mas que inveja do namorado dela!

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Carpe Diem: Playground [pt.3] EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora