Capítulo 27 ❌

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~ Quatro meses depois ~

O mês de julho já estava quase no fim. O que significava que em algumas semanas, meus dois filhos estariam em meus braços.

Era segunda-feira e eu estava dando aula na minha turma favorita: o primeiro ano. Com o passar desses meses acabei ficando muito próximo de Hansol. Contava minhas experiências - ainda que poucas -, do que aprendi nesses anos e aquelas coisas clichês da vida adulta que precisam ser lembradas sempre. Comversávamos muito sobre a escola, debatíamos sobre alguns assuntos cuja divergência entre nós dois era bem forte e, sinceramente, aqueles quarenta minutos que eu "perdia" do meu intervalo para ficar com ele, eram impagáveis, prazerosos.

Não prazerosos em um sentido sexual e errado, nesse caso, mas pela relação que ultrapassava da de professor e aluno; éramos amigos também. Acima de tudo.

- Não, eu não acredito, professor. Sei que o senhor acredita, mas... Comigo não rola isso.

- Por quê?

- Como Deus pôde tirar meu pai de mim?

- Oh... - espantei-me. - Meus pêsames.

- Ele não morreu. Só... Tá no mundo. Sei lá. Ele nem deve saber que eu existo.

- Você o conhece? Por foto ou algo assim?

Vi lágrimas caírem de seus olhos, molhando seu rosto, respondendo à minha pergunta.

- Não chora, Hansol. Seu pai vai aparecer!

- Ninguém me diz nada sobre ele! Nada! Eu queria saber algo, queria saber... Saber como ele é! Queria saber se ele tinha esse talento para música como eu tenho, se ele tem tanta facilidade em química e matemática, se gosta de jogar futebol... - contava suas inseguranças, curiosidades. - Eu queria conversar com ele sobre minha sexualidade, sobre o quão confuso tô sobre isso! Mas ele não tá aqui! Mal sei o nome dele!

- Você tem padrasto ou alguma figura paterna ao seu lado?

- Tenho. Minha mãe vai casar de novo.

- Pode não ser a mesma coisa, mas se apegue a seu padrasto. Fale com ele e sua mãe sobre suas dúvidas, Hansol!

- Não me sinto mais tão próximo deles. Às vezes eu acabo confiado mais em outras pessoas, do que neles mesmos.

- Não deixa isso te derrubar! - digo firme, como se lhe desse bronca. - Eu não poderia comentar isso, mas vou porque confio em você!: Hansol, seu nome não sai da boca dos professores! Você é um excelente aluno, esforçado, participativo, maduro, caprichoso... Todos eles, e eu também, vemos potencial em você. Seu futuro vai ser brilhante! Qual faculdade pretende fazer?

- Direito.

- Eu posso apostar que será um grande advogado, delegado ou qualquer outra coisa que queira! Você tem um futuro brilhante, não desperdiça isso!

- Não vou, professor. Obrigado por me ouvir.

- Vou sempre estar aqui para vocês. Agora, vai lá! Lava o rosto, coma alguma coisa e vá para a aula!

- Tchau! - levantou-se, secando as lágrimas.

- Tchau!

Fazia pouco tempo em que eu passei a notar o desânimo de Hansol. Nesse dia, chamei-o para conversar. Na sala de aula, fizemos um debate sobre religião, mas notei-o calado demais, o que era estranho, visto que este amava debates. Nossa conversa fez-me sentir mais apego a ele por compartilhar uma dor parecida a minha.

Carpe Diem: Playground [pt.3] EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora