Capítulo 33 ❌

57 10 18
                                    


{×××}


Era quinta-feira. A diretora solicitou todos os professores da área de letras do Ensino Médio para um evento anual escolar que, desta vez, seria sobre futuro, o que esses planejavam e sonhavam para sua vida adulta, para a faculdade.

Assim como, no ano passado, os professores de exatas, nós, da área de letras, nesse ano, ficamos responsáveis por cada uma das três turmas: eu, de filosofia, com o terceiro ano; John, de gramática, com o segundo e Mary, de literatura, com o primeiro.

Deixei meu carro no estacionamento dos professores e andei calmamente à entrada principal, onde notei um grande tumulto com direito a gritaria e celulares a postos.

Corri ao meio da confusão, dando-me de cara com Hansol agredindo fisica e verbalmente um colega de classe.

- GUARDEM ESSES CELULARES E VÃO TODOS ÀS SUAS SALAS! AGORA! - gritei, fazendo-os obedecerem-me instantaneamente. Segurei firme os braços de Hansol, puxando-o para longe. - VOCÊ ENLOUQUECEU? PIROU?

- Me solta! - debatia-se. - ME SOLTA, PORRA!

- Olhe como fala comigo! Eu sou...

- Meu professor! Você não manda em mim! Tá se achando demais!

- O que tá acontecendo com você, hum? Olhe seu estado! Olha as suas mãos! Estão sujas de sangue daquele menino! Hansol, o que ele te fez? - perguntei retoricamente.

- Ele esbarrou em mim e derrubou meu material no chão! Foi de propósito que eu sei!

- Vai pra sala do diretor, agora!

- De novo?

- De novo!

Assim ele fez, de certa forma, satisfeito. Era como se ele quisesse aquilo. Quisesse chamar atenção.

- Chad, vem aqui. - ajudei-o a levantar-se. - Passa o braço sobre meu ombro, isso, toma cuidado...

- Professor, eu só esbarrei nele, não foi proposital! Eu juro! - soluçava de tanto chorar, amedrontado. - Só fui me despedir do meu pai! E... E... Não olhei por onde andava!

- Tá tudo bem. Acalme-se. Vou te deixar na enfermaria do colégio e os pais de ambos serão comunicados.

- OK. Obrigado, professor.

- Por nada, Chad.


{•••}

- Cara, qual o teu problema? Por que tá agindo assim? Cadê o Hansol que eu conheci?

- Morreu.

- NÃO MORREU! PARA DE DIZER ISSO! - gritou Lily, brava, chorando. - Eu quero te ajudar, Hansol! Eu te amo! Mas não tô conseguindo! Olhe o que fez com o garoto... Ele só esbarrou em você!

- Não precisa tentar. Desiste de mim. Vai ser mais fácil.

- Eu não vou. Já disse que não vou!

- Escolha sua.

Então, entrou na sala da diretoria, onde levou suspensão por uma semana inteira. Os pais de ambos já estavam na escola e, pelo meu consentimento, os de Chad estavam prontos para processar os de Hansol.

- S/N, pode deixar que eu resolvo isso. Me espera no carro. Já disse que você não pode se estressar.

- Mas eu preciso saber o que houve!

- Sua gravidez é de risco.

- Eu sei, mas Hansol é meu filho! Não posso deixá-lo de lado!

Enquanto isso, os pais de Chad os olhavam com dó; não de Hansol, mas do casal que enfrentava uma gravidez complicada.

- Não vamos processá-los. Derrick, ela está grávida... - sussurrou ao marido.

- A gente vai levar isso à frente! É o nosso filho!

- Mas a gravidez dela é de risco. Olhe como ela está.

- Tem certeza disso?

- Tenho. Mas que a escola fique avisada: se isso acontecer novamente, tanto o estabelecimento quanto o os pais daquele delinquente serão processados!

De longe, eu observava toda a situação: o padrasto de Hansol, àquele instante, tomava conta da situação, enquanto a mãe mal conseguia parar de tremer de nervosismo ao saber que seu filho agredira um colega de classe. A senhora Martins nunca fora chamada ao colégio para situações como essa, apenas para ouvir elogios de seu brilhante filho.

Hansol, quando saiu da sala do diretor, encostou-se na parede, sério, como se aquela situação não o tivesse afetado em nada.

- Eu estou tão decepcionado com você, Hansol...

- Bem-vindo ao clube, professor.

- Consegue parar de agir como uma criança por alguns segundos? Você é quase um adulto! Tem dezesseis anos! Olhe suas atitudes! Pensa na sua mãe, cara!

- Ela é com certeza a última coisa que eu quero pensar.

- Pensa em alguém que te faça feliz! Para de ser tão pessimista! - exclamei, compreensivo.

- Estou fazendo o melhor que eu faço para acabar com essa dor.

- Não é descontando nas outras pessoas que vai melhorar.

- Eu faço o que eu quero. - olhou para o lado, vendo seu padrasto aproximar-se dele.

Então, pude ver uma pequena mancha clara em seu pescoço; como a que eu tinha; no mesmo lugar que eu tinha. Meu coração gelou. Minhas pernas ficaram fracas e minha respiração pesou.

- Venha. Vamos ter uma conversa quando chegarmos em casa. - segurou-o pelo braço, com força. - Obrigado, professor...?

- T-Ted.

- Obrigado por nos ajudar, Ted.

Continuei estático por alguns minutos.

~ Lembranças, tempo indeterminado ~


- Quando que... Quando que você iria me contar que estava grávida?

~ Fim das lembranças ~


Vozes vieram à minha mente, lembranças de algum tempo incerto. Perdido em meus pensamentos, olhando fixanente para o chão repentinamente, a diretora me chama, dizendo que naquele dia, não daria para fazermos a reunião por conta do ocorrido. Não vou mentir, fiquei feliz em saber que poderia passar o resto do dia com minha esposa, mãe e filhos sem maiores preocupações além de Hansol.


{×××}

Carpe Diem: Playground [pt.3] EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora