Capítulo 24 ❌

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Mais um ano letivo estava a começar. Os alunos do primeiro ano entravam na sala, conversando com seus amigos, revendo-os, animados com a fase nova que estavam vivendo. A turma continuava a falar em um alto - e até incomodo - tom de voz.

- Bom dia. - disse num tom firme, fazendo-os olharem para mim, respondendo ao cumprimento em coro. - Meu nome é Ted Kim, - disse o sobrenome a qual todos me chamavam. - por conta da minha descendência coreana, mas vocês devem me chamar de Senhor, ou professor, Kim. Serei o professor de filosofia e darei aulas a vocês às segundas-feiras e às sextas-feiras, mas estou na escola de segunda à quarta e na sexta. Estarei recomendando livros mensalmente para aguçar o lado crítico de vocês. Érr... Alguém tem alguma pergunta?

- Que tipos de livros o senhor recomendará? Porque eu não curto clássicos, prefiro suspense.

- Qual o seu nome? - perguntou, antes de responder-lhe.

- July.

- July, filosofia não se trata de apenas clássicos ou apenas suspenses. Serão vários livros, sobre inúmeros temas. Podem acreditar que vou tentar suprir os desejos de cada um. Mais alguma pergunta?

- Por que precisamos estudar filosofia?

- Na verdade, você não precisa estudar filosofia, mas tem de estudar.

Ela fez uma cara de confusa.

- Bem-vinda ao mundo da área de humanas.

- O senhor namora? - outra aluna perguntou.

- Sou noivo, mas mesmo se eu não fosse comprometido, creio que sou muito velho para você. - fiz a turma rir. - Vou perguntar o nome de cada um de vocês e algumas informações e depois começamos a aula, OK?

De todos quarenta e três alunos da sala, um cujo nome era Hansol foi o que mais me chamou atenção, tanto pelo nome que era igual ao meu, quanto pela aparência: alto, magro, com óculos que quase cobriam seu rosto, tímido e que nenhuma menina da sala parecia desejar, total oposto dos jogadores do time de futebol, que as faziam suspirar.

Os dois tempos de filosofia passaram num piscar de olhos, quando percebi, o sinal já estava tocando.

- Ei, turma! Esperem mais um pouco antes de saírem do intervalo! - exclamei, fazendo-os pararem para me ouvir. - Na última sexta-feira deste mês, preciso que leiam, tragam-me uma análise crítica sobre o livro citado hoje na aula e que respondam à seguinte pergunta: Como um homem pode construir um futuro, sem conhecer seu passado? Estão liberados!

Todos saíram, menos Hansol, que manteve-se dentro da sala, como se estivesse inconformado com algo.

- Alguma dúvida, Hansol?

- Eu queria saber... - pareceu um tanto tímido. - Como um homem consegue viver sem passado?

- Mas quem tem de me responder isso é você. - sorri.

- Mas... - pareceu inconformado. - O senhor, por exemplo, não nasceu ontem! Claro que tem lembranças da sua infância, adolescência, do seu primeiro beijo, primeiro amor... Essas coisas da vida!

- E não seria o ontem uma forma de passado também? - questionei. - Você é de exatas, certo?

- Sou.

- Não enxergue o mundo de uma forma tão... Exata! O mundo é abrangente, tudo não passa de uma grande filosofia, cujo fim já sabe, mas o desenvolver, não.

- Então... A vida é uma história clichê?

- Se você fizer dela uma história clichê, então ela será.

- Eu acho que um homem não pode viver sem passado, professor. Viver sem as experiências e lembranças? Não rola! Que tipo de seres humanos seremos no futuro se não tivermos um passado, lembranças, experiências?

- Já eu acho que sim. Criar lembranças no presente supri o vago passado do indivíduo sem lembranças. - contradizi sua colocação. - Você é muito inteligente, Hansol. E participativo também.

- Eu... Estou me esforçando para conseguir boas notas, professor!

- Vai conseguir, sei que é inteligente!

A partir daquele dia, passei a ter uma grande simpatia por ele. Sabia que seria um bom aluno e, talvez, até teríamos uma grande afinidade. Por quê? Eu realmente não sei. Minha intuição apenas dizia.

Ele saiu da sala, agradecendo por aqueles quase dez minutos de debate, indo ao intervalo acompanhado de uma menina que o esperava na porta.

- Desculpa a demora... - disse a ela, um tanto tímido, distanciando-se da sala junto a a amiga, creio eu. - Como foi seu treino de ontem, Lily? Desculpa por não ter te acompanhado...

Continuei na sala, mexendo no celular enquanto lanchava ali mesmo - um sanduíche que Rimena fazia todos os dias para mim e um suco - quando recebo uma ligação dela:

- Amor... - disse, ao pegar o celular, com uma voz apreensiva.

- O que foi? Aconteceu algo?

- Você pode vir pra casa agora?

- Estou no intervalo, ainda tenho mais dois tempos com o segundo ano. Rimena, o que houve? Por que está chorando?

- Assim que acabar os dois tempos, vem pra casa... Preciso de você aqui.

- Está me deixando preocupado!

- Não fique... - começou a chorar mais ainda. - É uma coisa muito boa.

- Foi... Sobre seu doutorado?

Então, ela desligou, deixando-me corroer de preocupação e curiosidade. Por ela estar chorando - aparentemente de felicidade -, logo associei ao seu doutorado, aquele que lutava para conseguir, mas, por conta do trabalho, enfrentava algumas dificuldades para. Seria algo relacionado a isso? Por que ela parecia mais eufórica?

Independente do que fosse o que ela tinha a me contar, seja bom ou não, eu ficaria do lado dela, afinal Rimena é a mulher da minha vida e acho que nem em outra amaria alguém tão intensamente como a amo.


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Carpe Diem: Playground [pt.3] EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora