Olho por olho e dente por dente.

499 82 0
                                    

"Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece."
(Tiago 4.14)


     -Rafael, acho que já está bom. –Sérgio sussurrou, enquanto o rapaz chutava o último policial com toda a força que restava. –Rafael, é sério! Já está bom! Para!

     -Se quiser misericórdia vai pedir pra Deus, comigo não tem essa de ter piedade. –A voz de Rafael era dura e estava irreconhecível aos seus próprios ouvidos.

     Rafael sabia que estava sendo duro, mas ele não sentia compaixão nenhuma pelos três homens que estavam a sua frente.

     O rapaz chutou a barriga de Francis mais uma vez fazendo o policial vomitar sangue e um sorriso surgiu em seus lábios.

     -Bem que o Leonardo disse que você está diferente, parece que tem uma pedra no lugar do coração. –Sérgio disse dando de ombros quando Rafael o encarou.

     -Se você estiver com pena deles, você pode voltar que eu termino o serviço sozinho. –Os olhos dele faiscaram.

      -Nunca que eu vou ter pena desse bando de rato. –Sérgio cuspiu no chão mostrando repugnância.

     -Então vamos acabar logo com isso. –Rafael engatilhou o revolver em suas mãos.

     Rapidamente com dois tiros certeiros, os dois policiais que gemiam de dor no chão pararam simultaneamente.

     Quando o rapaz apontou a arma para Francis, o homem arregalou os olhos e começou a soluçar:

     -Por favor, não me mate! –Lágrimas e sangue se misturavam em seu rosto. –Eu tenho duas filhas pequenas para criar, a mãe delas morreu ainda cedo, não tem ninguém que possa ficar com elas! –O rosto de Rafael continuou sem expressão alguma. –Por favor, elas ainda são pequenas!

     Mesmo que Rafael estivesse em silêncio, dentro de si várias emoções lutavam uma contra a outra. Pensou nas duas meninas que viveriam o resto de suas vidas sem a figura de um pai e como aquilo seria terrível, afinal foi terrível para Rafael. Crescer sem seu pai e sem sua mãe foi a pior coisa que a vida podia ter feito com ele.

     Rafael poderia estar em casa agora ou em algum campinho aprendendo a jogar futebol com o seu pai. A noite ele não precisaria estar em cima do morro de vigia, ele estaria indo para casa esperando o jantar humilde, mas certamente maravilhoso de sua mãe. Rita não teria se perdido nas drogas, ela estaria lá e ele a irritaria até ela começar a gritar pela sua mãe. Todos iam se sentar na pequena sala, iam assistir a novela das nove, Rafael ia falar sobre a faculdade de medicina, seus pais orgulhosos iam se abraçar e eles viveriam como uma família feliz.

     Mas não era assim, Rafael era ajudante de um dos maiores traficantes da Vila, nunca havia conhecido seu pai, sua mãe havia sido morta na sua frente...

      -E aí, Rafael? –Sérgio o cutucou. –Vai amarelar agora?

     -Não. –Ele fechou os olhos e apertou o gatilho.

     E agora Rafael matava as pessoas sem nenhum peso em sua consciência.

Feito de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora