Feito de Pedra

Tudo ou nada. 4/4

"Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me."
(Mateus 16.24)

     Sem dúvida nenhuma, trancar a faculdade foi um dos maiores sacrifícios que Rafael pode fazer. Desde criança, era um sonho ser médico, ajudar outras pessoas... Mas aquele sonho era limitado, Rafael estava se preparando para ajudar as pessoas com Algo sem limitação.

"O meu desejo, não posso desejar
Meu sonho, não posso mais sonhar
Meu querer, não posso mais querer
Essa vida, não posso mais viver..."

     Ele tinha plena consciência de que era o melhor aluno da faculdade, mas aquilo já não o completava mais, ele precisava fazer ainda mais pelas pessoas.

     Ele estava decidido a entregar sua vida inteira no Altar de Deus. Não importava o que iriam pensar, aquilo ainda era pouco pelo que Deus havia feito por ele.

     Não demorou muito para que Rafael começasse a participar das aulas de Pastor, ele conhecia vários jovens que esperavam até mesmo anos para conseguirem entrar na Obra, mas no seu caso foi rápido. Ele podia ver os olhos de alguns rapazes para ele, muitos cochichavam e alguns até chegaram a dizer que Rafael entrou na Obra pela janela e não pela porta. Aquilo machucava o rapaz, por isso ele fazia de tudo, estava ali para fazer qualquer coisa, e mesmo com milhares de repreensões que ele recebia todos os dias, ele apenas concordava e tentava fazer melhor do que antes. Não para mostrar para os outros rapazes que ele era bom, mas para mostrar tanto para si quanto para Deus que Ele não havia errado na hora de escolhê-lo.

     E mesmo com tantas fofocas e palavras para derruba-lo, Rafael permaneceu de pé, com os bons olhos e seu corpo iluminado ajudando pessoas.

     Era de tarde e ele estava junto com outros Pastores fazendo alguns própositos da igreja quando o Bispo Federigo entrou na sala de campanha.

     Todos os Pastores ficaram em silêncio e pararam o que estavam fazendo.

     -Fiquem de pé. –Ele pediu e sua voz era grossa. Rafael imaginou mil e uma coisas que poderia acontecer. –Vocês tem fé? –Ele perguntou e seus olhos passavam por cada um.

     -Sim, senhor. –Todos responderam em uníssono.

     -Você. –Ele apontou para Bastos. –Você, você e você também. –Eduardo, Mariano e Tiago, gelaram em seus lugares. –Vocês quatro irão para o Brasil, fazer a Obra lá.

     Eles concordaram em silêncio.

     Quando o Bispo ia sair, seus olhos capturaram os de Rafael. O rapaz pensou em desviar o olhar, mas continuou firme.

     -Como é seu nome rapaz?

     -Rafael. –Alguns Pastores o olharam de canto.

     -Você também irá para o Brasil. ¿Tiene fe? –Ele arqueou uma das sobrancelhas.

     -Tenho. –Rafael respondeu.

     -Então vocês cinco irão para São Paulo, João Dias. –Ele falou e saiu.

     Os outros Pastores começaram a conversar com empolgação, mas o coração de Rafael parecia querer sair correndo.

     Eles poderiam o ter enviado para qualquer lugar, tanto da Argentina, como do Brasil.

     Mas lá estava ele, com a carta assinada para ir para João Dias.

     Menos de duas horas de distancia da igreja de Teresa.