A ida até o hospital.

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"O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."
(1 Coríntios 13.4-7)


     Quando finalmente chegou o dia que Rafael iria visitar Teresa ele estava mais calmo do que nunca imaginou. Ele achou que suas mãos iriam tremer, que seu estômago iria dar diversos nós... Mas ele estava calmo, tão em paz que quando a enfermeira Marcela anunciou que ele podia entrar, era como se ele não estivesse prestes a fazer um pedido que mudaria totalmente o rumo da vida de ambos.

     Quando Rafael entrou no quarto, pode ver um misto de surpresa e espanto nos olhos de Teresa. Seus cabelos estavam bagunçados, o rosto sem maquiagem alguma mostrava as maças rosadas com a presença do rapaz ali, poderiam dizer qualquer coisa, mas para Rafael, Teresa era linda e ele não acharia tempo desperdiçado se ficasse ali, apenas comtemplando a beleza da garota, mas o que mais o deixou feliz foi ver o brilho de Deus irradiando da garota. Ali estava a Teresa por quem ele havia se apaixonado.

     -É, oi. -Ele parou no pé da cama.

     -Oi.

     -Está melhor? -Ela concordou com a cabeça. -Sua recuperação foi incrivelmente rápida, sabia? Até os médicos ficaram impressionados.

     -Vaso ruim não quebra. -Ela riu.

     -Estou falando sério, acharam que seu corpo não ia se restaurar com tanta rapidez assim. -Ele olhou para o lado e sussurrou. -Acharam até que você iria morrer...

     -Acho que ele já está meio acostumado. -Ela brincou.

     -Tem que parar de colocar a vida dos outros a frente da sua, Tess. –Rafael falou sem nenhum tom de brincadeira.

     -Como assim?

     -Foi heroico e tudo mais, mas e se você tivesse morrido de verdade?

     -Eu não tenho medo de morrer, Rafael.

     -Mas eu tenho... -Ele falou baixinho sentindo a garganta se fechar.

     -Você tem medo de morrer? -Teresa perguntou confusa.

     -Não, tenho medo de que você morra e me deixe.

     Ela o olhou surpresa e limpou a garganta:

     -Hummmm, bem e o Patrick? Ele foi alguma vez à igreja? -Ela tentou desconversar.

     -É, ele está tentando. Tudo ainda o deixou muito abalado. Só se passou uma semana, não podemos esperar que ele do nada se converta de verdade. –Ele respirou fundo. -Bem, mas não foi para isso que eu vim aqui. -Rafael falou e passou os dedos pelo cabelo. -Eu vim para te devolver isso. -Ele tirou a folha de caderno amassada de seu bolso e a estendeu para Teresa.

     Era a carta que ela havia escrito para Deus em relação aos sentimentos dela para com Rafael.

     Ela levantou o rosto ainda mais corado:

     -Você...?

     -Sim, eu li. -Agora ele sabia o que de fato ela sentia por ele. -E te peço perdão por isso, sei que foi muita falta de educação minha, mas não pude evitar.

     Ela concordou.

     -Mas isso não tem que mudar nada... -Teresa começou a dizer.

     -É claro que tem. -Ele chegou mais perto.

     -Você está noivo da Tânia, Rafael!

     -Estava. -Ele estralou um dos dedos.

     -O quê?

     -Tânia desfez tudo no sábado. Disse que o Altar não era o lugar dela, disse que tinha sonhos e projetos, que largar tudo aquilo era pedir de mais dela. Eu sempre achei que ela estava disposta a tudo, mas estava incrivelmente enganado. E ela fez algo que poucas fariam, resolveu agir pela razão do que pela emoção no auge do nosso noivado.

     -Então?

     Rafael tomou fôlego:

     -Estou perguntando a última vez, Teresa. Mas dessa vez, a pergunta não é somente em relação a mim, mas você quer o Altar?

     -O Altar?

     -Sim! Todas às vezes que te perguntei se queria orar, era comigo. Era pra mim. Nunca pensei que fosse não somente uma escolha minha, mas também era de quem estava ao meu lado também. Ela não seria somente minha esposa, mas ela é esposa de Deus. Esposa não do Pastor, mas do Altar. Fui tão imaturo, Tessa!

     -Eu nem sou Obreira ainda, Rafael. -Ela olhou para suas próprias mãos..

     -Eu não me importo de te esperar dessa vez, se você não se importar de esperar também...

     Teresa olhou para os olhos castanhos de Rafael e viu o quanto os dois haviam amadurecido.

     Não era o tempo deles que importava, era o tempo de Deus.

     -Eu vou pensar. -Ela finalmente respondeu e Rafael não contestou. Ele se levantou e saiu andando do quarto fechando a porta atrás de si.

     Mesmo cheia de fios, Teresa se colocou de joelhos no chão. Dessa vez, não erraria novamente. Conversaria com Deus, pediria sua direção, o colocaria na frente de tudo. E mal sabia que enquanto orava, Rafael andava pelos corredores do hospital também orando e a certeza de que o tempo de Deus para os dois havia chegado sobreveio sobre eles.

Feito de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora