Ser um monstro.

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"Alimentam-se do pecado do meu povo e da maldade dele têm desejo ardente."
(Oséias 4.8)


     Rafael não deveria ter bebido nem um gole sequer daquilo em hipótese nenhuma.

     Suas emoções estavam afloradas e ele tentava se convencer de que estava tudo sobre controle, mas era óbvio que não estava.

     Kelly havia chegado no horário combinado. Rafael mostrou sua casa para a garota, achava engraçada a forma com ela se impressionava com coisas que para ele já haviam se tornado insignificante.

     Os dois estavam na cama de Rafael com vários livros em volta de si, o rapaz até tentava se concentrar no que estava lendo, mas desconfiava que a bebida estava afetando sua concentração também. Quando pela terceira vez ele ia ler o mesmo parágrafo e não entendia nada sobre a transformação das células ele desistiu e olhou para Kelly.

     -Você está me encarando. –Ela falou sem tirar os olhos do livro.

     Rafael abriu um sorriso idiota:

     -Sim, estou.

     -Deveria estar estudando. –Ela olhou para ele e tirou uma mecha loira de seus olhos.

     -Difícil me concentrar quando tem a oitava maravilha do mundo sentada na minha frente.

     -Que exagero! –Ela sorriu.

     -Mas é verdade!

     -Você é péssimo em paquerar uma garota, sabia? –Kelly disse rindo.

     -Posso te mostrar em outras coisas que eu sou bom. –Ele disse colocando o livro de lado e se aproximando da garota.

     Kelly ia abrir a boca para dizer alguma coisa, mas o rapaz não deu oportunidade, começou a beija-la e por um tempo Kelly pareceu retribuir o beijo.

     Rafael tirou o livro que estava nas mãos da garota e inclinou ainda mais o seu corpo por cima do dela. Sua carne gritava em desejo por aquela moça e ele estava determinado a se saciar.

     Quando suas mãos começaram a desabotoar a blusa de Kelly a garota arfou:

     -Rafael... –Ele não escutava. –Rafael! Para!

     -O que foi? –Ele sussurrou sem se importar com os apelos da garota, já estava quase tirando a roupa da menina, não tinha mais nada que o atrapalhasse.

     -Eu nunca fiz isso! –A voz de Kelly saiu fina.

     -Você vai gostar. –Foi tudo que ele disse e com mais agressividade tentou arrancar a roupa da garota.

     -Rafael, para! –Ela tentou empurra-lo, mas não tinha forças. –Por favor, para! –Soluços escaparam da boca da garota. –RAFAEL, POR FAVOR! PARA! –Kelly gritou o arranhando e começando a chorar.

     Foi então que tudo pareceu parar por alguns breves minutos e uma única lembrança latejava com força na cabeça do rapaz.

     O dia que Ronald havia abusado de Rita, e sua irmã implorado para que ele parasse com aquilo.

     Rafael no mesmo instante largou os braços de Kelly e se levantou. A garota tremia e soluçava, seus pulsos e seu pescoço haviam marcas avermelhadas mostrando a agressividade do rapaz.

     O que ele quase havia feito?

     -Desculpa. –Rafael sussurrou, mas aquele pedido não era nada comparado a tudo aquilo. –Melhor você ir embora.

     Não precisou dizer duas vezes, no mesmo instante, Kelly se levantou, nem sequer pegou seus livros apenas deixou Rafael ali sozinho em silêncio com os pensamentos a milhão.

     Ele iria destruir a vida de Kelly assim como Ronald havia feito com a sua irmã. Ele era um egoísta por pensar somente em seu prazer. Ele que tanto havia condenado Ronald por aquele ato, havia praticamente feito igual.

     Ele era um monstro.

     Não importava o que dissessem, ele era ainda pior do que o homem que havia destruído sua vida.

     Rafael sentou no chão e sentiu ser consumido por suas emoções que ele tanto estava rejeitando.

Feito de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora