Uma conversa franca.

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"Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nele confiaria."
(Salmos 27.3)


     A família de Júlio nem perguntou o porquê de Rafael estar ali, para eles era como se não importasse que o rapaz estivesse com as roupas todas rasgadas e com o cabelo todo bagunçado, eles o trataram tão bem que o jovem pela primeira vez sentiu que estava em uma casa de verdade.

     Ele sabia que era perigoso estar ali, se Russo soubesse que o jovem estava naquela casa, ele não teria piedade nenhuma de ninguém ali, e mesmo explicando tudo isso para Júlio, o rapaz havia apenas dado de ombros e falado "Relaxa, cara! Deus é com a gente!".

     Mesmo sabendo que não deveria relaxar que deveria ficar atento a qualquer movimentação estranha, ainda assim quando se deitou caiu no sono rapidamente.

     Foi a primeira vez que ele descansava no que parecia fazer anos de perturbação.

     Quando Rafael acordou por alguns minutos ele ficou encarando o teto do quarto de Júlio, já estava escuro lá fora e ele pensava sobre tudo o que o Pastor Carlos havia falado.

     Droga nenhuma seria capaz de dar aquela paz que ele havia sentido ao estar dentro da igreja, dinheiro nenhum ia trazer o conforto que era colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente, amigos nenhum poderiam proporcionar a segurança de que depois da morte haveria algo bom.

     Jesus era a única saída para ele.

     -Olha, só! A Branca de Neve acordou! -Júlio entrou no quarto sorrindo.

     -Acho que não é a Branca de Neve que dorme.

     Júlio franziu as sobrancelhas:

     -Mas ela quando come a maça envenenada da bruxa cai em um sono eterno até que o príncipe vem e da um beijo nela, não é?

     -Eu só comi o bolo da sua mãe, está falando que ela tentou me envenenar? -Ele perguntou rindo.

      -Não, se não vai que como eu sou lindo acabo sendo o príncipe da história e vou ter que te beijar! Credo, Deus me livre dessas coisas!

     Rafael começou a rir:

     -Para de ser idiota!

     -Tudo bem, parei! -Ele começou a rir também e colocou um prato de comida na frente de Rafael. -Eu acho que você deve estar faminto.

     No mesmo instante a barriga de Rafael pareceu despertar de um sono de mil anos:

     -Se estou! -E começou a comer.

     Enquanto Rafael praticamente devorava a sua comida, ele olhou para Júlio que observava a aliança que estava em seu dedo anelar.

     -Está pensando em Teresa? -Rafael perguntou.

     Os dois não haviam falado nada que eram namorados, mas Rafael não era idiota, qualquer um perceberia que os dois pareciam um daqueles casais de tela de cinema que eram perfeitos um para o outro.

     -Sim, estou. -Ele respondeu e Rafael parou de comer quando sentiu algumas notas de tristeza na voz do rapaz.

     -Você parece triste por causa disso. -Ele franziu as sobrancelhas.

     -Mais ou menos. -Júlio respirou fundo. -A Teresa é uma moça incrível.

     -É, eu sei disso. -Rafael concordou. -Mas ainda não entendi o motivo dessa cara de bocó ai sua.

     -Amanhã você vai entender. -Júlio falou depois de longos segundos em silêncio.

     -É algo ruim? -O rapaz perguntou.

     -Depende do ponto de vista. -Júlio falou e por um breve instante Rafael achou que ele ia chorar. -Termina de comer, amanhã teremos um longo dia.

     Rafael concordou sem imaginar o quão longo ele seria.

Feito de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora