Um reencontro interessante.

541 80 2
                                    

"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo."
(2 Coríntios 5.17)


     Rafael estudava de manhã, a tarde ele trabalhava e a noite ele ia para a igreja. Ele amava estar ali, ele tinha a certeza absoluta de que o Espírito Santo era com ele. O jovem ainda não havia sido levantado a Obreiro, mas sabia que um dia Deus olharia para todo o seu esforço. Claro que o título não importava, ele só pensava na frase de Júlio e o amor pelas almas crescia a cada dia.

     A medicina havia proporcionado para ele várias formas de ajudar as pessoas, mas Jesus havia mostrado que quando se curava alguém interiormente, isso já refletia em tudo ao seu redor.

     Era quarta-feira e mesmo com o cansaço e o corpo de Rafael implorando por descanso ele não deixou de ir à igreja. Quarta-feira era o dia de ele aprender mais sobre a palavra e sabia que quando buscasse a Deus ele poderia descansar no colo de Seu Pai, afinal, do que adiantava ter um corpo descansado, mas se seu espírito estivesse atribulado?

     -Por favor, todos os jovens, evangelistas, candidatos a Obreiros e os Obreiros. Quero falar com vocês, não vão embora. –O Pastor Carlos falou no microfone assim que a reunião acabou.

     Rafael sabia que ainda ia demorar um pouco. Várias pessoas após a reunião iam até os pastores para pedirem alguma orientação ou uma oração, por isso ele sabia que até o Pastor ter tempo, ele poderia ir varrendo a igreja.

     -Na minha vida, houve uma mudança linda! Sem a dor, eu conheci o Verdadeiro Amor... –Rafael começou a cantarolar para si mesmo baixinho enquanto varria o salão.

     -Oi. –Um homem parou na frente do rapaz.

     -Francis? –Rafael perguntou surpreso, mas era mais do que óbvio que aquele homem era o mesmo que havia batido no rapaz até ele apagar.

     -Então é você mesmo... –Francis o olhou novamente. –Quando vi eu não consegui acreditar, Rafael Oliveira aqui na igreja.

     -Mas como...? –Rafael tinha tantas perguntas. –Eu dei um tiro em você, acertei em um local mortal, você não tinha chances de estar vivo...

     -Sim, você atirou em mim. –Ele puxou a gola da camisa e Rafael pode ver a bala ainda no peito do homem. –Não conseguiram tira-la daqui, mas disseram que por um triz eu não morri.

     Rafael sentiu seu estômago se contorcer. Parecia que fazia tanto tempo, ele não era nem capaz de reconhecer mais a pessoa que ele era antigamente. Jesus havia transformado tanta coisa em apenas alguns meses!

     -Meu Deus! Por favor, me perdoe! –Rafael fechou os olhos. –Naquele tempo a única coisa que importava para mim era eu mesmo, e se alguém ficasse no caminho ou me atingisse eu não tinha pena nenhuma.

     -Por favor, Rafael. –O homem colocou a mão em um dos ombros do rapaz. –Não precisa se desculpar tudo aquilo ficou no passado. Eu sou um novo Francis, e você mesmo não te conhecendo só de olhar para você eu posso ver que é um novo Rafael, há um brilho diferente em você.

     Rafael tentou mais não sabia como agradecer por aquelas palavras, uma coisa era você perceber a mudança em você mesmo, outra coisa é essa mudança atingir as pessoas ao seu redor positivamente.

     -Papai, papai! –Duas garotinhas vieram correndo até Francis. –Olha o desenho que eu e a Lúcia fizemos!

     -Deixa eu ver, Leila. –Ele pegou o desenho e Rafael esticou o pescoço para poder ver também.

      -Olha, esse daqui é o senhor, essa daqui é mamãe, nós duas e esse aqui é Deus! –Lúcia falou.

     -Que lindinho! Olha esse vestido da mamãe que bonito! Parece com o da nossa vizinha, a Cláudia... –Ele falou franzindo as sobrancelhas.

     -Sim! –As duas riram como se fossem cúmplices e saíram correndo.

     -Elas são muito bonitas. –Rafael comentou com um aperto no coração. Se Deus não tivesse feito algo, ele teria arruinado a vida daquelas duas meninas.

     -Sim, se parecem com a mãe. –Francis as olhou sonhadoramente. –Sabe, Rafael a gente nunca entende as coisas que acontecem no momento em que elas acontecem, mas depois parece que tudo se encaixa sabe?

     -Como assim? –Rafael perguntou.

     -Lembra-se daquele dia que íamos te prender?

     -Sim, e por ser menor vocês quase me mataram de tanta pancada. –Rafael falou rindo.

     -Éramos para ter te matado, Rafael. –Francis também riu, mas não tinha humor nenhum em sua voz. –Quando você desmaiou eu tirei o meu revolver, mas quando mirei para você ele não funcionou. Eu achei que o problema era a arma que eu estava segurando, tentei com a de Luan e de Rodrigo... Mas todas, quando apontadas para você não funcionou.

    -Talvez as armas estavam bichadas...

     -Eu também pensei nisso, mas logo em seguida a gente foi para um confronto e lá elas funcionaram bem.

     -Eu não entendo...

     -Na hora eu também não entendi... mas agora vendo você aqui, Rafael, eu sei que Deus já tinha te separado para Ele há muito tempo. –Francis sorriu. –Que Deus te abençoe grandemente, garoto. Até breve. –Ele começou a andar em direção a suas filhas deixando Rafael com seus pensamentos.

Feito de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora