Ameaçado de morte.

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"Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem."
(1 Coríntios 15.21)


     Você é o novo dono da Vila.

     Aquelas palavras ficavam repetindo dentro da cabeça de Rafael, mas não faziam sentido algum.

     Tantos rapazes que almejavam aquela posição dentro do tráfico... Por que Leandro havia escolhido logo ele? Rafael se perguntava ao observar Sérgio dormindo tranquilamente em seu sofá.

     Ele nem sequer havia chegado perto de sua cama, sabia que não obteria sucesso nenhum ao tentar dormir.

     Sua vida parecia estar de pernas para o ar e Rafael não tinha controle de nada, os problemas estavam se tornando maiores que a capacidade do rapaz em resolver, o tempo parecia curto de mais e ele precisava de espaço.

     Ele precisava que a vida desse um pause em tudo aquilo.

     Mal ele sabia que ela só estava começando.

     Rafael se levantou da cadeira e foi até a cozinha, sua casa estava abafada e ele se sentia sufocado por toda aquela situação. O rapaz pegou um copo de agua e começou a beber.

     -Rafael! –A voz de Luana o assustou e várias batidas na porta. –É a Lu, abre a porta!

     Assim que o rapaz abriu a porta Luana jogou os braços em volta do pescoço de Rafael.

     -Graças a Deus, você está vivo! Eles ainda não fizeram nada com você! –Ela o beijou, mas o jovem continuou imóvel.

     -O que está acontecendo aqui? –A voz grave de Sérgio chegou até eles.

     -Sérgio! –Silva soou surpreso e só naquele instante Rafael percebeu a presença do homem ali. –Achei que eles haviam conseguido te pegar também!

     -Foi por pouco. –Sérgio apontou para o antebraço esquerdo que estava enfaixado. –Mas vocês ainda não me explicaram o que infernos estão fazendo aqui a essa hora da manhã! –Ele olhou com raiva para Luana, em hipótese nenhuma sua irmã deveria estar fora de casa naquele horário ainda mais com as coisas tão complicadas na Vila.

     -Descobriram quem mandou os cara ir lá. –Silva falou sem rodeios.

     -Quem foi? –Sérgio perguntou.

     -O Russo. –Luana falou ainda colada em Rafael.

     -Eu não acredito que aquele babaca fez aquilo! –Sérgio esmurrou a mesa. –Leandro já havia arriscado o pescoço duas vezes por aquele imbecil e olha só o que ele faz!

     -O Leandro já estava desconfiado de que alguém entre nós estava contra ele... –Silva sussurrou.

     -Mas o problema não é esse. –Luana falou e Rafael encarou aqueles enormes olhos acinzentados. Ele mordeu os lábios tentando se concentrar apenas na dor que aquilo causava, ele não aguentava mais problemas, ele queria ser apenas um garoto de seis anos que podia se esconder de tudo e de todos atrás do sofá. –Eles sabem que você, Rafa, vai ficar no lugar do Leandro.

      -Como assim? –Rafael perguntou assustado tirando as mãos da garota de seus braços.

      -Era óbvio que eles iam saber. –Silva falou. –Leandro levava o garoto para cima e para baixo, para todo lugar que ele ia você estava lá, meu jovem. –Silva o olhou profundamente como se pudesse enxergar a alma do garoto. –Até em reunião que eram privadas você participou.

     Sérgio balançou a cabeça e passou as mãos pelo rosto:

     -E agora?

     -E agora o Russo quer a cabeça do Rafael em uma bandeja. –Luana falou.

     Rafael engoliu em seco, mas o medo pareceu ficar entalado em sua garganta.

     -Eu não faço ideia de quem quer seja Russo. –Rafael sussurrou.

     -Você pode não conhecer metade das pessoas importantes aqui na Vila, Rafael, mas pode ter certeza que elas te conhecem.

     Assim que Sérgio terminou de falar a porta de entrada da casa de Rafael foi ao chão.

     -Olá, Rafael! –Um homem ruivo sorriu. –Adeus, Rafael. –E apontou a arma para o garoto.

     O que aconteceu em seguida foi muito rápido.

     No mesmo instante que Russo apertou o gatilho, Silva puxou o braço de Rafael e o jovem caiu pesadamente no chão. Ele olhou para cima e viu que o homem tinha errado seu alvo e uma gota de suor percorreu suas costas.

     -Luana! –Sérgio gritou quando o corpo da garota caiu ao lado de Rafael. Sangue jorrava de seu peito e Rafael desviou o olhar sentindo seu estômago se contorcer. Pela primeira vez, o sangue de alguém causava náuseas no rapaz.

     -Mas que caramba! –Russo xingou. –Dessa vez eu não vou errar, pode deixar!

     Mas antes que o homem levantasse a arma e apontasse para Rafael que ainda estava indefeso no chão, Sérgio pulou em cima do homem e eles começaram a travar uma pequena luta.

     -Rafael, corra! –Sérgio grunhiu.

     -Mas... -Russo deu dois tiros na barriga do homem. –Sérgio! –Um grito morreu nos lábios do garoto.

     -Anda rapaz, corre! –Silva gritou e sacudiu os ombros de Rafael.

     -Eu não posso... –Rafael viu sua visão ficar embaçada com as lágrimas.

     -ANDA, RAFAEL! –Silva gritou e sacudiu seus ombros. –ANTES QUE TUDO ISSO SEJA EM VÃO!

     O rapaz se levantou e correu pulando a janela de sua sala.

     A noite o envolveu e alguns pingos indicando que uma chuva estava por vir caíram nos ombros do rapaz. Ele pensou em voltar, mas outros tiros e alguns gritos chegaram até ele.

     -Vão atrás daquele garoto! Eu o quero aqui na minha frente, morto! –A voz de Russo pareceu acordar a vizinhança inteira.

     Sem saber para onde ir, Rafael deixou que suas pernas corressem por vontade própria.

Feito de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora