Feito de Pedra

Um novo pedido e mais uma decepção.

"lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós."
(1 Pedro 5.7)

     Eles estavam dentro da igreja, mas nenhum dos dois cogitou com a ideia de se sentar, Rafael sentia a adrenalina correr por suas veias e a felicidade querer escapar da sua garganta.

     -Então, Tess. Lembra de quando nos despedimos, e você disse que quem sabe eu encontraria alguém lá na Argentina para ficar comigo? -A garota só balançou a cabeça em sinal de concordância. -Eu procurei, mas nenhuma parecia que Deus havia enviado para mim. E eu sabia que na verdade a garota que Ele tinha preparado estava aqui no Brasil. -Os olhos dele brilhavam a cada palavra dita.

     -Olha, Rafael... -Teresa tentou falar.

     -Calma, deixa eu falar. -Ele levantou um dos dedos para ela ficar em silêncio. -E então assim que eu fui levantado a Pastor, fui enviado para cá. -Ele a encarou, seus olhos castanhos estavam profundos. -Poderia ser qualquer parte, sabe? QUALQUER PARTE DO BRASIL OU DA PRÓPRIA ARGENTINA! Mas não, foi para cá, menos de duas horas da sua igreja. Então, eu sabia que era você, Tess. Sempre foi você! E por isso eu estou aqui, eu nunca desisti de nós. Você sempre esteve nas minhas orações, não estou te pedindo como da última vez, tudo jogado pro alto e eu somente me importando com a emoção que você me causava, mas eu sei, eu tenho certeza...

     -Por favor, Rafael. -Ela sussurrou.

     -Você, Teresa Andrade...

     -Pare... -Sua voz estava dolorida.

     -... quer orar comigo?

     Teresa fechou os olhos.

     -Já estou comprometida, Pastor.

     Foi como se Rafael levasse um soco em seu estômago. Foi como se todo o ar fosse sugado de seus pulmões. Foi uma sensação odiosa, e Rafael não desejou aquilo para ninguém.

     -Oh... eu não, eu... com quem?

     -Com o Pastor Patrick.

     Rafael engoliu em seco.

     -Achei que você ainda estava esperando por mim... –Ele falou como se fosse uma criança de cinco anos.

     Teresa pareceu tentada a consola-lo, mas não tinha nada que ser feito.

     -Eu fui muito bobo... desculpe. -Ele balançou a cabeça.

     -Não, Rafael. Não é bem assim...

     -Achei que título não importava para você. -Ele falou e sabia que estava sendo cruel, mas quando havia deixado Teresa para ir estudar em Argentina ele acreditava, nem que fosse um pouquinho, que ela sentia algo por ele, e que ela só precisava de espaço...

     -E não importa... -Ela desviou o olhar. Rafael a conhecia bem para saber que aquilo mostrava que ela estava mentindo.

     -Se não importasse, você teria esperado por mim.

     -Isso não tem nada a ver!

     -Então, me responda com toda a sinceridade possível, você realmente gosta dele?

     Teresa hesitou.

     -É claro que sim!

     O rosto tão elegante de Rafael endureceu.

     -Você hesitou.

     -Rafael!

     -Teresa! Como pode estar com ele apenas por um título? Logo você que jurou de pés juntinhos nunca fazer isso?

     Teresa não respondeu, e também não precisou.

     -Pastor Rafael? -O Obreiro Mateus o chamou. -O Pastor Marcos queria trocar algumas palavras com o senhor antes que vá embora.

     -Já irei, Obreiro. -Ele olhou para Teresa. -Tchau, Obreira.

     E saiu sem esperar ela sequer responder.

     Os pensamentos de Rafael pareciam gritar em sua cabeça. O que havia acontecido? Como Teresa havia chegado aquele ponto? Por que os mesmos meses que fizeram tão bem a Rafael, pareciam ter feito tão mal a garota?

     Ele balançou a cabeça pensando em cada detalhe da garota.

     O rosto mais magro marcado pelos ossos aparecendo sob a pele. As olheiras profundas debaixo de seus olhos, a voz rouca e o brilho que ele sempre havia admirado parecia ter se apagado.

     Teresa estava mal, ele podia ver isso só de olhar. Mas mesmo que quisesse ajudar, ele não poderia certamente seus sentimentos só atrapalharia, e ele acabaria fazendo alguma besteira que prejudicaria ainda mais os dois.

     Então apenas uma coisa restava a ser feita, orar por Teresa, afinal antes dele estar apaixonado por ela e querer que ela fosse a sua companheira, ela era uma alma que padecia da misericórdia do Senhor.