01X16 - PERDIDOS

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Pai e Mãe,

Vou virar comida de jacaré. Pelo menos, vou morrer ao lado do Zedu. Mas, que morte horrível e impactante. Será que vai doer?

***

Pouco a pouco, os jacarés se aproximavam de nós

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Pouco a pouco, os jacarés se aproximavam de nós. O Zedu ficou na minha frente e pegou um graveto para tentar afugentar os animais. Olhei em volta para ver uma rota de fuga e o único jeito era escalando um outro barranco, mais alto do que aquele que caímos.

A forte chuva atrapalhava a nossa visão e enchia com uma velocidade assustadora o local onde estávamos. A água já batia no nosso joelho. O Zedu gritava com os jacarés, achando que assim, os mesmos iam embora, mas eles só se aproximavam de nós, usando a água a seu favor.

— Corre!!! — falei puxando o Zedu para a direção oposta aos jacarés.

Mesmo sem entender, ele me seguiu e tentamos subir o barranco íngreme. Fui primeiro e consegui segurar em uma raiz de árvore, virei para trás e dei a mão para o Zedu. Eu não pude acreditar no que vi, um dos jacarés mordeu o pé direito do Zedu.

Eu nunca estive em uma situação dessa, de vida ou morte, não sou a pessoa mais indicada para tomar qualquer tipo de decisão drástica, porém, quando estava segurando a mão de Zedu e, o vi em dor, pensei rápido. Agarrei um pedaço de ferro, que estava ao meu lado, e taquei na cabeça do animal.

Infelizmente, a mordida no pé de Zedu causou um grande ferimento, mas não tínhamos tempo para ficar parado. Bati pela segunda vez na cabeça do jacaré, com mais força e urgência, ele, finalmente, recuou e se juntou aos outros.

Com uma força descomunal, consegui puxar o Zedu para perto de mim. Ele estava em choque, não conseguia chorar ou gritar, apenas tremia e olhava assustado na minha direção. Tive que tomar a dianteira e o ajudei na subida.

Eu já tive várias ideias de merda durante a minha doce existência, entretanto, essa foi sem dúvidas a pior de todas. Com pressa, devido ao ferimento do Zedu, não olhei para onde estávamos indo, foi quando um pedaço de terra se desprendeu e nos lançou dentro de um igarapé.

Dessa vez não doeu tanto, mas não foi fácil. A correnteza nos levou rio abaixo, para a minha surpresa, conseguia ver vários jacarés no trajeto. Com dificuldade, consegui nadar até Zedu. Bati várias vezes em pedras que estavam no caminho, uma delas me acertou na costela, apaguei por poucos segundos e, quase me afoguei, porém, o Zedu me puxou.

— Nós vamos morrer!!! — Zedu gritou, pela primeira vez, desde a mordida.

— Para com isso! — gritei engolindo um pouco de água.

Estávamos entregues ao rio, ele nos arrastou por um longo trajeto. Me separei do Zedu duas vezes e sempre precisava nadar para perto dele. O rosto dele não conseguia esconder o medo, então, comecei a gritar palavras de encorajamento. Vamos conseguir, Tenha fé, Precisamos ser fortes. Acho que nem eu acreditava naquelas palavras.

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