Connor N. FitzPatrickO nome estava rabiscado no final da carta. Não era uma caligrafia bonita, se parecia mais com a caligrafia de uma criança do primário. Eu não faço ideia do que está escrito na carta, nunca tinha visto qualquer coisa como aquela em toda a minha vida.
A carta era curta, tinha três parágrafos e uma data, 1847 d.c. Dentro do envelope existe os restos mortais de uma orquídea, a carta com a escrita em outra língua e um colar com uma delicada esmeralda, o que me faz pensar que muito possivelmente era uma carta de amor.
— Vamos falar sobre o que está acontecendo com você, Sophie! — pulo assustada com o esbravejar da sua voz. A carta escorrega pelos meus dedos e o colar pula para fora, o som do metal sendo abafado pelo tapete fofo. Eu olho para o seu rosto enrugado e os grandes olhos castanhos que um dia me transmitiu paz e calmaria. — Como a minha menina se transformou nessa mulher vulgar e grandiosamente estúpida?
Mícheál Strouch é o meu avô paterno. Ele é o único homem que me restou, minha única família, e eu o estou decepcionando. Todas as noites quando deito em minha cama me pergunto o que ele diria se descobrisse sobre toda a minha vida libertina, vulgar e sem preocupações. Viemos de uma grande família da Irlanda antiga, os Strouch foram grandes homens e grandes guerreiros. Até que no ano de 1945 toda a minha família foi dizimada pela guerra. Nesta época meu avô era apenas um bebê deixado pela sua mãe aos cuidados de uma ama de leite. Quando cresceu e assumiu todos os seus bens por direito, casou-se com uma jovem francesa chamada Sophie Loubstrong, minha avó.
— Estamos no ano de 2016, vovô. — digo, abandonando o envelope envelhecido em cima da sua grande mesa de carvalho. — O senhor não espera realmente que eu vá me comportar como a minha avó no ano de 1962.
Ele girou em seu enrugado dedo o grande charuto, seus olhos cansados pareciam prontos para abominar tudo o que deixei escapar, porém certamente ele me conhece bem, não existia nada que poderia mudar minha mente. Éramos tão parecidos.
— Você carrega o nome da sua avó, espero que honre o seu nome e o nome de nossa família quando eu me for.
Honra...
Isso é tão fora de moda e antiquado. Eu não conheço nenhuma mulher que preze a sua honra. Essa palavra é tão ridiculamente idiota.
— O que significa esse diário? — mudo de assunto, indicando a ele o diário envelhecido dentro de um pequeno baú em cima da sua mesa.
— Eu não faço ideia. Durante essa tarde os empregados esvaziaram o atelier da sua avó, eles encontraram uma série de coisas estranhas e confusas, dentre elas estava esse baú. — explica. — Não faço ideia do que tudo isso significa, mas suponho que Sophie gostava de história.
— Você não se interessava pelas coisas dela, não é? — me abaixo, pescando entre os dedos o colar de esmeralda. — Se importa se eu ficar com isso? É tão bonito e eu suponho que tenha sido um presente seu para ela.
Ele estica sua mão a fim de apanhar a peça, analisando-a segundos mais tarde quando a entrego.
— Eu nunca vi tal peça, pelo pouco que sei sobre jóias, esta certamente é uma jóia cara, prata pura pelo peso e com toda a certeza isso é uma esmeralda. — afirma. — Talvez seja alguma jóia de família. — supôs.
— Isso significa que eu possa ficar com o colar?
— Ele é seu. — estendeu a jóia para mim, puxando um trago em seu charuto. — Ele ficará bonito com o seu vestido no baile que daremos ao governador na próxima semana.
— Avô...
— Não me diga mais nenhuma palavra sobre você não estar participando do baile. Não aceitarei um não.
Eu poderia confrontá-lo, deixar a minha fúria crescer, virar a mesa e nunca me arrepender de nenhuma palavra dita. Não poderia estar no mesmo lugar que Febreric, o filho do governador da Irlanda e o homem que um dia foi a minha grande paixão e maior desgraça. Porém, trazer novamente este conflito a tona irá tomar mais do meu tempo do que realmente eu estava disposta. Mícheál Strouch é o homem mais cabeça dura que já conheci, ele não daria o braço a torcer não tendo a sua única família em seu baile.
— Como você quiser, avô. — me levanto, seguindo em direção a grande porta do escritório. — Estarei no seu baile e usarei este colar como deseja.
— Seja sensata Sophie, não mate esse velho de desgosto antes da hora.
Sem nenhuma outra palavra, ando para fora do seu escritório fechando as pesadas portas em minhas costas. Com um suspiro frustrado, me afasto o máximo que posso para fora da casa e em direção ao meu carro parado do outro lado da calçada. Quando estou dentro do meu abrigo particular, acendo a luz do carro para que eu pudesse admirar com mais precisão a jóia em minha mão. Era tão bonita e reluzente, sou capaz de enxergar o meu reflexo dentro da esmeralda. Em seu verso tinha um nome escrito, no entanto, metade dele estava arranhado e eu estava incrivelmente cansada para analisar mais de perto. A única coisa que fui capaz de pegar foi a inicial do nome e eu soube que se tratava de uma mulher; Emma.
Talvez a carta tenha sido enviada para Emma e ela tem estado em poder da minha avó por sabe-se lá quanto tempo. Me perguntei que história existia por trás daquela carta e o motivo que fez a minha avó tê-la em seu poder por tantos anos. Poderia estar sendo uma completa idiota, talvez a jóia seja de família, mas existia uma áurea de mistério dentro daquele envelope e especialmente naquela carta.
Eu estava disposta a descobrir o que significava.
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Laoch, Amor além do tempo
RomanceTransportada para uma época em que mulheres são submissas aos homens e guerras iminentes ameaçam a paz, Sophie se encontra em um mundo estranho, casada com um homem enigmático que acredita que ela é a reencarnação de sua amante perdida. Segundo Conn...