Capítulo 16 - Adversários/Saudades.

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Não sabia que era boa com bastões, Warren, o garoto raposa que me colocou no grupo, sabia muito bem ensinar os golpes mais simples de uma maneira paciente. Ele se movia bem devagar me dizendo exatamente onde colocar os pés e quantos graus devo girar meu corpo. Ele vem pra cima de mim direcionando seu bastão na minha cintura, eu bloqueio e bloqueio mais uma vez, e no final acerto o bastão nas suas pernas. Mas ele bloqueia também e nos afastamos. A nossa platéia ficou animada depois disso, eu me empolguei demais e acabei indo pra cima dele antes da hora. Ele bloqueia duas vezes andando para trás, depois eu acerto sua perna direita e o derrubo, aponto o bastão para seu rosto e sou aplaudida.
Percebo a expressão zangada dele antes de se levantar e se posicionar, eu me preparo passando o bastão para a mão direita e espero ele agir primeiro dessa vez. E ele veio mais rápido agora, bloqueio duas vezes me afastando, seu golpe final eu conseguir desviar e acertar suas costas. Ele se levantou rápido e quase ia me acertando nas costelas se eu não bloqueasse. Me afasto um pouco e começamos e fazer uma roda esperando o ataque um do outro.
Giro meu corpo como se estivesse dançando, me abaixo perto das suas pernas e acerto meu bastão nas duas dele fazendo-o cair de novo.
Sou aplaudida mais uma vez e agradeço meu público. Por ser a vencedora, escolho meu próximo adversário. Apontei para uma garota sozinha e encolhida ao lado de outro garoto que também estava encolhido ali encarando o chão. Ela pega seu bastão me encarando logo me desafiando, eu dou um sorriso a ela e faço a referência para começarmos.
Não conseguir nem piscar antes dela vir pra cima de mim com a intenção de acertar minha panturrilha esquerda, eu bloqueio e giro meu bastão para o lado jogando o seu no chão fazendo-o rolar. Quase parou para fora do círculo que foi desenhado na areia. Olho pra ela mas quando vejo, ela já tinha dado uma cambalhota no chão recuperando seu bastão.
Não espero ela se posicionar dessa vez, acerto dois golpes nela mas parece que ela conseguia me copiar. Ficamos alguns segundos acertando golpes que eram bloqueados por nós duas ao mesmo tempo. Por um segundo nós duas ficamos presas nos bastões, eu forçava o meu na sua direção e ela fazia o mesmo comigo me copiando.
Uso meu joelho e consegui afastá-la, avanço rápido com mais um golpe rápido e acerto seu ombro fazendo ela recuar por um tempo. Me posiciono mais uma vez e espero ela reagir.
Sou golpeada na barriga e sou jogada no chão em seguida, ela fica sobre mim mas eu a chuto mais uma vez e ficamos frente a frente de novo. Nós duas estávamos cansadas, eu estava ofegante e ela também, mas não desistimos ainda, fomos ao mesmo tempo e batemos de frente repetindo o mesmo golpe e a mesma posse. Nossos bastões formaram um X e nos encaramos confusas e ao mesmo tempo impressionadas uma com a outra. No fim Warren decidiu encerrar como um empate.
Eu dou meus parabéns a Kendra, minha adversária favorita e depois fomos juntas conversando pelo caminho para o campo.

— . —

>Manske narrando.

Se completa uma semana hoje, sinto saudade de tantas coisas e só uma pessoa. Acordar em uma cama dura e sem ninguém ao meu lado me deixa deprimido, olhar para as pessoas estranhas daqui me deixa depressivo, fazer exercícios me deixa triste. Tudo aqui me deixa com sentimentos negativos. Participar de atividades me deixava entediado, minha dupla infelizmente era uma garota. Tudo que estava tentando evitar nesse lugar. O nome dela é Eleonor, uma garota alegre loba de cabelos cinzas, baixinha e o tempo todo sorrindo pra mim. Sempre retribuia seus elogios, sorria na hora certa, mas tomava cuidado com nossas conversas. Deixei bem claro que amava outra pessoa que tinha feito a viagem também.
Eleonor se colocou do meu lado de repente trazendo consigo seu caderno vermelho de anotações, eu estava sentado tranquilo na mesa do refeitório comendo sozinho quando ela veio falar comigo.
— Oi, Manske! — ela sorria radiante jogando seu cabelo para o lado se sentando ao meu lado colocando seu caderno sobre a mesa. Eu cumprimentei ela com um aceno e depois continuei comendo ignorando-a, era isso que eu fazia com quase todos aqui.
— Estava fazendo as contas... — disse ela abrindo seu caderno pegando um lápis de dentro dele deixando em uma página cheia de números e nomes.
— Só essa semana você perdeu vinte pontos nas atividades individuais — falou me olhando sério agora parecendo preocupada, depois me mostrou com o lápis meu nome e meus pontos dentro de um quadrado mal feito. Eu fiz as contas rapidamente na minha cabeça e tinha que recuperar pelo menos trinta na próxima atividade em dupla. Cocei a nuca preocupado e depois suspirei me sentindo cansado demais para pensar nisso.
— Quem sabe eu me saia melhor na próxima com você — digo sorrindo metendo um pedaço de carne espetada no garfo na minha boca.
— Ah... Talvez seja por isso mesmo, eu andei observando que você fica deprimido quando está sozinho — ela riu empurrando meu ombro como quem está querendo me arrancar um sorriso ou tentando me animar. Eu dou de ombros e continuou mascando um troço grudento que não sabia oque era. Não seria educado cuspir no prato na frente dela. A única pessoa que já viu eu fazendo isso era Libby.
— Manske? Ei... Você apaga de repente — Eleonor me cutuca no braço e eu ligo novamente olhando pra ela meio bobo.
— Desculpa, eu estava pensando numa coisa — falo baixo e rápido me arrependendo de ter dito isso a ela que é curiosa demais.
— Em que? — pergunta como o esperado e eu dou de ombros de novo tentando fazer ela desistir.
— Fala, Manske — pede apertando seu caderno no peito e me olhando de um jeito fofo e engraçado. Dou um sorriso fraco balançando a cabeça negativamente para o prato.
— Nossa... Tudo bem então... Eu vou ver o quadro dos nossos pontos de novo — disse meio triste se levantando e caminhando até a porta do refeitório me olhando de lá para conferir algo em mim. Abaixei o rosto para o prato e terminei de comer assim que meti um pedaço de alguma coisa na boca engolindo de uma vez desistindo de tentar me alimentar.
Vou até a grande caixa de plástico deixando meu prato lá dentro andando para meu quarto apressado pelo corredor. Tinha coisas demais na cabeça para treino agora, poderia perder pontos por causa disso, mas tenho muitos adversários fracos. Não preciso me preocupar por tirar um cochilo depois do almoço.

A raposa Solitária. Onde histórias criam vida. Descubra agora