Capítulo 17 - Desenho/Dia cansativo.

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Completa-se um mês hoje, reforcei meus treinos e habilidades, comecei a andar com as pessoas do meu grupo. Me tornei uma verdadeira caçadora mais experiente do que eu era, Kendra, minha nova amiga me ensinou como começar a dominar minha transformação que agora estava bem perto. Ela me ensinou um tipo de dança que ajuda a encontrar paz dentro de si. Ela diz que minha mente anda muito ocupada pensando em algo que me atrapalhava, acabei confessando que era por causa do Manske. Ela ficou bem decepcionada comigo por algum motivo, disse que jamais devo me atrapalhar com qualquer sentimento que estiver dentro de mim nesse momento.
Devo me concentrar, devo focar no momento e esquecer tudo ao meu redor. Imaginar uma névoa branca flutuando ao meu redor me ajudava bastante, uma brisa macia no ar, sem vento, só o som do meu coração e minha respiração calma.
Quando terminamos, kendra e eu fomos ao meu quarto me ajudar a tratar os calos que estavam nas minhas mãos. Eu socava muito uma saca de areia para aumentar minha força, por isso fiquei com dores nos braços e principalmente nas mãos.
— Então...? Me conta como ele é — pediu ela enquanto enrolava uma faixa no meu pulso levando para cima dos meus dedos. Eu olhei em seus olhos vendo se ela estava brincando, mas tinha só um sorriso meio fraco nos lábios dela significando que ela estava falando sério. Mas oque eu poderia dizer?
— Ele... — entortei o canto da boca olhando pro teto tentando encontrar uma única frase para explicar tudo sobre ele.
— Ele é um lobo — falei levantando os ombros e depois os abaixando ajudando ela a enrolar minha mão.
— Isso... É diferente — comentou ela meio confusa e pensativa. Eu não vazia ideia de como explicar isso a ela, mas creio que já é o bastante. Não quero falar disso, ela mesmo disse que me faz mal.
— Vamos voltar pro treino? — perguntei animada me levantando e me olhando no espelho enquanto amarrava meu cabelo que havia cortado com a ajuda dela a poucos meses.
— Precisamos descansar um pouco... Vai você se quiser... Eu vou tirar um cochilo — ela disse baixinho fazendo uma voz fina se deitando na minha cama agarrando meu travesseiro.

>Manske narrando.

Enquanto eu furava diversas vezes uma árvore com uma lança, Eleonor anotava algumas coisas no seu caderno vermelho deitada em uma pedra grande que ficava perto do lago atrás dela. Tiramos um tempo pra descansar, mas eu gostava de relaxar machucando alguma coisa, como esta árvore.
— Oque você está anotando? — perguntei já impaciente de ver ela escrever sem parar. Me aproximei dela e cravei a lança no chão me curvando na sua direção para espiar suas anotações, ela rápido coloca o caderno no peito e o abraça me olhando com cara feia.
— Me deixa ver — pedi com carinho mas ela ficou vermelha e balançou a cabeça violentamente dizendo não abraçando ainda mais o seu caderno. Não costumava ser enxerido, mas minha curiosidade me fez pegar seu caderno a força e o erguer para cima não deixando-a recuperá-lo.
Ela implorou pra mim não abrir enquanto tentando pegá-lo da minha mão erguida para cima. Eu não via motivos pra ela está tão agoniada para recuperar esse caderno que não tem mais nada além de anotações. Eu comecei a folhea-lo de costas para ela que se aquietou e ficou esperando lá atrás.
Eu parei em uma folha que eu suspeitava ser a que ela estava escrevendo naquela hora, mas ela não estava escrevendo. Tinha um desenho meu furando a árvore na mesma posição que eu estava a poucos minutos, embaixo estava o nome dela e o meu...
Fiquei tenso e nervoso sem coragem de virar para trás. Passei a mão na testa e suspirei antes de encará-la, seu rosto estava arrependido e envergonhado, ela abraçava a si mesma e não tirou os olhos do chão mesmo depois de ter percebido que eu estava a encarando. Esse desenho não é apenas um desenho que ela fez.
— Eleonor... Oque é isso? — perguntei entregando seu caderno e depois esperando a resposta tenso demais.
— E-eu só... Gosto de desenhar pessoas... E assinar os nomes no final — respondeu nervosa e sem jeito segurando seu caderno que já estava com as folhas todas amassadas.
— Bom... Você tem talento... — elogiei me fingindo de tonto, não queria entender que ela tinha assinado nossos nomes juntos por outro motivo sem ser esse que ela me falou.
— Eu... Quero que fique com este — se apressou a dizer rasgando a folha que estava meu desenho e me entregando insegura e ainda sem jeito. Eu sorri educado e peguei a folha dobrando ela no meio evitando olhar para nossos nomes.
— Vou afiar minha espada... Vamos ter um duelo mais tarde — falou abaixando a cabeça e mexendo no seu cabelo castanho, depois sorriu pra mim e foi embora andando rápido demais tropeçando em quase tudo pelo seu caminho.
Eu fiquei ali por um momento ainda sobre efeito daquilo, abrir o desenho e desci os olhos pela minha figura mais bonita que na versão original e parei em nossos nomes me torturando com isso. Enfurecido, eu retiro metade do papel separando o nome dela do meu. Deixei o pedaço de papel que estava seu nome cair no chão e pisei em cima sem maldade, apenas prometendo nunca trair Libby por uma coisa que não vale a pena.

>Libby narrando.

No fim do dia eu estava exausta, Warren pegou pesado comigo, fiquei com todos os músculos do meu corpo doendo e latejando a cada movimento que eu fazia para andar até meu quarto. Os desafios e atividades individuais estavam ficando cada vez mais difíceis, vamos ter mais uma atividade em grupo amanhã. Warren, pelo visto, estava se esforçando para ficar melhor do que eu. Mais agressivo nos golpes com bastões, ele estava ficando mais rápido e ágil. Mas eu não ia deixar ele me vencer. Só que a agora eu estava precisando de um banho.
Entrei no banheiro deixando minhas roupas pelo caminho e fiquei debaixo do chuveiro cochilando, tive dificuldade para lavar meu cabelo por não conseguir levantar os braços para esfrega-lo. Tirei a lama das minhas pernas sentindo muita dor nas coxas, não conseguia mas alcançar meus pés por causa dos golpes nas costelas que ganhei de Warren.
Sair do banheiro dura enrolada com uma toalha no corpo e outra no cabelo, sentei na minha cama respirando fundo ainda sentindo aquela dor nas costelas.
Sequei meu cabelo e fui procurar uma roupa no armário, parei na frente do espelho tirando minha toalha e observando as marcas roxas na parte do meu peito, costas, ombros, braços, e pernas. Passei a mão nos meus hematomas apertando de leve vendo se ainda estavam doendo, mas sou interrompida por alguém batendo na minha porta me assustando. Rápido me cubro com a toalha de novo e pergunto quem é alto para a pessoa do outro lado.
— Sou eu, Anon — respondeu ele alto também me deixando com raiva. Jogo a toalha na cama por cima dos ombros e tiro do meu armário um vestido branco de bolinhas pretas e pequenas, Manske não tinha visto esse na mala... Se tivesse visto, tinha rasgado. Mas não era hora de escolher roupa pra ir atender a porta.
— Oque foi, Anon? — perguntei meio rude abrindo metade da porta olhando pra ele que me olhou de cima a baixo. Fiquei envergonhada e coloquei meu braço por cima do meu peito cobrindo meus seios com vontade de arrancar seus olhos.
— Queria te entregar isso — estendeu um livro pequeno pra mim sem jeito e depois abaixou os olhos até o chão me deixando um pouco melhor. Peguei o livro rápido e disse boa noite pra ele que logo foi embora.
Bati a porta e tranquei, sentei na minha cama e joguei seu livro na mesa do computador sem nem ler o título. Me olhei no espelho e realmente eu estava vulgar, esse decote aberto... Foi por isso que escondi no fundo da mala. Mas nem sei porque fiz isso...
Então me irritei comigo mesma pegando um tubo de linha e uma agulha, comecei a costurar o decote fechando-o mais ainda até que estivesse agradável pra mim mesma.
Suspirei satisfeita e o guardei de volta no armário, tirei de lá um short branco e macio e uma blusa com mangas. Me vesti rápido e apaguei a luz me jogando na cama esquecendo que estava com dor em todo o corpo. Gemi alto e fui me virando de lado bem devagar até conseguir ficar em uma posição confortável para dormir.

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