Capítulo 24 - Sou um idiota.

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>Manske narrando.

Primeiro dia de trabalho, eu não estava nervoso mesmo sabendo que deveria está. Tudo que peguei foi uma espada, me vesti como se fosse ao mercado e estava ficando entediado mesmo antes de começar. Já sentia saudades de Libby mesmo me despedindo dela com um beijo de manhã, claro que tive que dizer mil vezes que ficaria bem e que ela não precisava se preocupar. Mas eu estava errado. Assim que chegamos à vila, fomos recebidos por dois grupos de ladrões mascarados que estavam assassinando moradores inocentes e roubando suas casas na maior cara de pau. Claro que reagimos, fomos defender nosso povo da melhor forma que conseguimos.
Eu fui atrás de um que fugiu para um lado onde não tinha saída, ele ficou encurralado e isso me ajudou muito. Só tive que pegar tudo que ele havia roubado e cravado minha espada no seu peito para uma morte rápida. Quando voltei, fui surpreendido por um lobo muito grande e branco que com certeza era do reino do inverno pela sua marca na perna esquerda traseira. Os outros estavam ocupados demais para me ajudarem, então eu resolvi fazer tudo sozinho.
Deixei minhas coisas no chão e continuei com minha espada nas duas mãos esperando seu ataque. Era um lobo gigante, eu não queria acreditar em mim mesmo que isso tinha me deixado com medo. Me sentia indefeso com um garfo na mão em vez de uma espada, então como eu era intimidado por lobos maiores que eu, corri feito um covarde para me salvar subindo em um telhado de uma casa para me recuperar e pensar no que eu iria fazer.
Deixei a espada no chão e tentei me concentrar na minha transformação, mas eu fui pego por ele, sentir suas garras enormes perfurarem minha barriga quando ele me arrancou de cima do telhado e me colocou contra o chão.
Conseguir me transformar totalmente só quando já havia sido mordido duas vezes, e também jogado contra uma carroça de frutas.
Levantei rápido mancando mas mesmo assim fui pra cima dele mais uma vez e conseguir morder sua pata direita dianteira. Mastiguei ela até ouvir os ossos lá dentro se partirem ao meio, depois o soltei com força para aumentar sua dor.
Ele se afastou de mim abaixando as orelhas e gemendo, depois uivou bem alto chamando seus companheiros. E quando percebi, já estava na minha forma humana de novo e sangrando muito. Tudo que pensei foi que eu tinha conseguido afastar os lobos invasores e que agora Libby jamais iria acreditar nas minhas mentiras.

—— .  ——

Acordei com a vista um pouco embaçada, estava em cima de uma cama dura e sentia um forte cheiro de sangue e também vários perfumes diferentes no ar. Tentei ficar sentado mas minha barriga doía muito, então relaxei e tentei me concentrar em fazer a dor parar.
— Eu não quero que nunca mais minta pra mim, Manske.
Ouvi a voz dela vindo do meu lado, e quando abro os olhos de novo, ela está bem ali vestida como se fosse sair. Reparo em uma mala encostada na parede e logo penso que ela iria embora por eu ter mentido pra ela.
— V-você vai pra onde...?
Pergunto com dificuldade levantando somente minha cabeça olhando pra ela já quase chorando.
— A crise tomou conta de todo o reino, metade da nossa população está se mudando, eu também estou — ela explicava séria me deixando ainda mais nervoso, alguma coisa no seu rosto estava me deixando com medo. Ela não iria embora sozinha... Iria?
— Eu vou na frente com Ebert e Nagel, vamos para um refúgio no interior até isso se resolver.
Ela explicou tudo ainda séria e com firmeza na voz, depois se virou para a porta e pegou a alça da sua mala. Eu queria ter feito ela parar ali mesmo e ter me esperado, mas eu nem tive tempo de dizer alguma coisa antes dela bater a porta e sair da minha vida. Nem sabia se ela tinha ido desse jeito como uma forma de terminar nosso relacionamento. Mas eu me sentia péssimo. Um monte de merda.
— Ei... Você tá vivo, mano?
Olho pra porta e Ebert estava ali entrando caminhando na minha direção me deixando com raiva. Pois ele iria com Libby para o refúgio e eu não. Ainda.
— Ela só está com raiva de você porque você não teve cuidado com si mesmo.
Ele disse cruzando os braços forçando um sorriso torto. Eu voltei a encarar o teto me sentindo um merda de novo com vontade de levantar e ir atrás dela.
— Toma conta dela até que eu melhore aqui.
Pedi com raiva quase não abrindo a boca, ele entendeu que eu estava bravo por causa disso. Então foi embora me deixando sozinho pra pensar de novo em tudo de idiota que eu fiz. Principalmente quando fui atacar aquele lobo gigante que quase me matou.

A raposa Solitária. Onde histórias criam vida. Descubra agora