Capítulo 21 - Estamos escondendo algo.

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>Manske narrando.

Eu me sentia perdido quando cheguei a estação, tinha muitas pessoas andando em todas as direções, muitas vozes, muito barulho. Eu olhei para o relógio e vi que tinha me atrasado sete minutos. Não era possível, eu cheguei da minha viagem e só fui deixar minhas coisas no castelo. Como pude me atrasar sete minutos? Não fazia ideia de quando ela iria chegar, eu me sentia um idiota, perdi a noção do tempo, talvez esse seja o primeiro trem ainda... Ou talvez eu tenha realmente me atrasado e nesse momento ela já deve ter ido quando eu ainda estava vindo.
Eu andava em direção a um bebedouro que era o único lugar que não tinha tanta gente, me acalmei esperando o copo encher de água e bebi tentando pensar que horas havia chegado aqui e se realmente esperei uma hora antes de vir encontrá-la aqui. Tive tanto trabalho pra descobrir que horas o trem dela chegaria na estação, e agora eu não fazia ideia se tinha calculado tudo direito. Me sentia tão burro e idiota e descontei minha raiva no copinho de plástico que amassei e joguei no lixo quando acabei de tomar água.
Andei em direção a um banco já pensando em ficar aqui o dia todo se precisar esperando por ela.
Mas assim que vou me sentar, alguém me abraça por trás com tanta força que por um momento achei que minhas costelas haviam se encostado. Seguro as mãos finas e delicadas que estavam envolta do meu peito e reconheço o perfume que sinto segundos depois. Apertei suas mãos e as tirei do meu peito abrindo os braços dela a envolvendo em um abraço mais apertado ainda.
Coloquei uma mão atrás da sua cabeça e passei meus dedos por dentro do seu cabelo sentindo aquele cheiro que tanto sentir falta. Um perfume único que ninguém mais tinha. Só minha raposinha.
— Manske — ela pronunciou meu nome me dando mais prazer ainda em ouvir sua voz. Percebi que estava a apertando demais, então a soltei olhando para seu rosto que pra mim estava diferente. Eu levantei uma sobrancelha sorrindo desconfiando de alguma coisa. Tínhamos que pôr a conversa em dia, e ela não esconderia nada de mim.
— Me conte tudo — pedi pegando uma mecha do seu cabelo enrolando ela no meu dedo, eu sorri vendo que ela tinha ficado zangada de repente.
— Você não vai acreditar — seu tom ficou muito estranho, mesmo a conhecendo tão bem em tão pouco tempo, eu não sabia porque ela estava brava agora nesse momento que eu tanto sonhei em dois meses e meio.
— Você está decepcionada? — chutei passando do seu lado e pegando a alça da sua mala acompanhando ela que começou a andar de um jeito estranho também. Oque aconteceu com ela esses dias? Porque ela não me conta logo? Logo ela que quando quer me contar uma coisa sem importância não para de falar um segundo. Agora que é importante ela não fala!?
— Eu fiquei em quinto lugar... Eu não quero nem ter que explicar o porquê, mas vou falar mesmo assim. O segundo mês de treinamento, a diretora nos disse que tínhamos que conseguir o máximo de pontos nas nossas atividades porque iriam adiantar o dia do resultado. Eu não faço ideia porque aceitei essa porcaria de viagem, foi tudo uma perda de tempo, eu fiquei com dores no corpo todo por causa dos treinamentos e vou querer uma massagem quando chegar em casa, e também termino de contar os detalhes porque tem muita coisa ainda que preciso desabafar... E você também vai me contar sobre todas as vacas que ficaram de olho em você nesses dias porque tive muitos pesadelos com você me traindo — quando ela terminou eu me perguntei como tinha me contado tudo isso, que era apenas um resumo, sem ao menos recuperar o ar para continuar. Fiquei até tonto tentando acompanhá-la, mas no final eu me sentia completo de novo observando seu rosto enquanto ela falava.

— . —

Eu sei que não devia, mas enquanto ela tomava seu banho, eu vasculhava suas coisas fingindo está arrumando sua mala. Eu não sei oque estava procurando ali, eu confiava na minha raposinha, sabia que não havia nada ali que...
Parei de pensar nisso quando bati os dedos numa coisa dura no fundo da sua mala, tirei de lá um livro pequeno de auto defesa. Me sentei no chão encarando a capa dele imaginado várias coisas ao mesmo tempo. Ela não tinha livros desse gênero, nunca vi ela lendo sobre isso, não tinha como isso ser dela ou ela ter levado daqui. A princesa tem uma biblioteca livre para todos nós que moramos aqui... Ela poderia ter pego de lá antes de ir? Mas então... Quem é Anon Schade? Esse nome está escrito na folha onde só tem o nome do autor, que obviamente não era ele. Este livro tinha sido dado a ela por qual motivo?
Guardei tudo apressado quando ouvi a porta do banheiro sendo aberta. Deixei o livro nas minhas mãos e continuei sentado de costas para ela, não sabia como interrogá-la. Como não ficar bravo em perguntar uma coisa dessas? Não podia ser nada demais... Não tinha motivos pra me preocupar. Mas ainda não sei disso.
— Estava mexendo na minha mala? — ela perguntou e eu ouvi seus passos molhados pelo piso indo em direção ao seu guarda roupa. Não percebi que eu estava com medo de perguntar. Então só me levantei e me virei na direção dela com o livro na minha mão. Assim que ela se virou eu confirmei oque pensava no seu rosto quando ela ficou séria quando percebeu oque eu segurava.
— Onde achou? — perguntou andando na minha direção erguendo sua mão para tomar o livro de mim. Eu não deixei e desviei da sua mão ficando sério também.
— Quem é Anon? — pronunciei o nome que odiaria por muito tempo, fiquei com nojo e tinha vontade de cuspir.
— Um garoto do meu grupo, ele me deu porque já tinha acabado de ler — enquanto ela falava eu media seu tom de voz, sua postura, suas expressões, e principalmente seus olhos. Eu acreditei no que ela disse, não parecia me esconder nada. Mas quero saber mais.
— Porque ele te deu? — perguntei enquanto abria o livro e andava ao redor da cama vendo se tinha mais alguma lá dentro, não tinha mais rabiscos, procurava uma frase no final como algo do tipo "vou sentir sua falta" ou talvez "nos vemos em tal lugar às tal horas e não se esqueça de não deixar aquele lobo idiota do seu namorado descobrir".
— Não sei, Manske, deixa isso pra lá... É só um livro — ela vestia uma blusa de costas pra mim dizendo isso, eu fiquei encarando ela ficando um pouco irritado. Eu quero saber cada detalhe dessa história, e ela está me dizendo pra deixar pra lá como se não fosse importante?
— Não consigo deixar isso pra lá, como se sentiria se eu trouxesse um presente de uma garota dessa viagem...? — minha voz morreu no final e eu olhei pra baixo lembrando de algumas coisas que fiz lá que poderiam ter irritado ela se estivesse presente. Como aquele abraço que dei em Eleonor, isso me deixou contra mim mesmo. Mas oque ela fez todo esse tempo que poderia me irritar? Ganhar um presente de um estranho. Poderiam ter se abraçado também!
— Acho que você está sendo... Só um pouquinho exagerado... — veio se aproximando de mim falando isso bem devagar com os olhos no livro aberto nas minhas mãos, depois ela o pegou bem devagar e o deixou na mesinha ao lado da cama voltando a olhar pra mim com um olhar preocupado.
— Quer conversar mais sobre isso? Tenho certeza que você tem alguma coisa pra me contar — quando ouvir isso, engoli em seco e minha garganta se apertou. Não iria contar oque fiz de jeito nenhum!

A raposa Solitária. Onde histórias criam vida. Descubra agora