Capítulo 29 - Sem lar.

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>Libby narrando.

Nosso reino não poderia está pior do que o refúgio que já deve estar totalmente destruído. O desespero daquelas pessoas inocentes correndo de um lado para o outro fugindo das bombas, os soldados lobos atacando sem motivos até mesmo crianças. O castelo ainda estava longe, tivemos que passar pelo meio daquilo. Era realmente uma guerra dentro do nosso reino, só nos restava correr até um lugar seguro, se é que o castelo da princesa se encontrava seguro.
Manske e eu passamos por cima de corpos e eu procurei não olhar para trás. Minha vontade era de ajudar, mas não sabia como. Então só entramos no castelo e ficamos algum tempo recuperando o ar no meio do salão.
— O que fazemos agora?
Perguntei preocupada olhando para o portão, ainda não estavam tentando invadir o castelo, mas ele estava destruído por dentro e possivelmente não estávamos sozinhos aqui.
— Vamos fugir — ele respondeu começando a correr de novo, em direção ao corredor onde ficava os quartos. Mas eu o segurei e o fiz parar.
— Não podemos fugir, Manske, e aquelas pessoas...?
— Não podemos fazer nada. Temos que sair daqui — ele se soltou dos meus braços e foi na direção do meu quarto parecendo meio bravo. Eu me sentir mal por não fazer nada, mas realmente não tinha como ajudar ninguém aqui no meio dessa guerra.
Seguir ele até meu quarto e o encontrei arrumando uma mochila minha sem minha permissão.
Eu peguei ela dele e comecei a colocar várias roupas lá dentro e mais alguns objetos valioso pra mim. Fizemos tudo em silêncio e eu sabia que no fundo ele também estava com medo.
Terminando nossas mochilas, ele foi na minha frente abrir a porta bem devagar, olhou para um lado mas quando foi olhar para o outro. Alguém tinha pulado em cima dele e o derrubou no chão.
— Ebert!
Gritei olhando para os dois no chão, só depois de alguns segundos ele notou que era Manske.
— Vocês estão vivos! — Ele disse alto feliz puxando Manske do chão que ficou o encarando emburrado. Depois ele olhou pra mim sorrindo também.
— Raposinha! Como chegaram aqui tão rápido?
— Me diz você, onde está o Nagel?
De repente ele foi retirando seu sorriso bem devagar e seu olhar ficou no chão me deixando preocupada pensando no pior. Mas depois suas sombrancelhas foram ficando unidas e ele fez uma cara de nojo.
— Já está muito longe daqui — respondeu ainda com aquela expressão de nojo, mas me deixando um pouco aliviada e decepcionada. Pelo menos ele não tinha sido morto.
— Eu fiquei pra tentar defender nosso reino, mas já estou de saída... A princesa está revidando com metade do nosso exército no reino gelado.
Ele explicava guardando sua espada e tirando alguma coisa do seu cabelo. Agora que eu notei que ele parecia ter saído de uma lata de lixo, estava machucado nas pernas e braços. Mas não fugiu como o covarde do Nagel.
— Então... — ele disse suspirando e olhando para os lados pensando em alguma coisa.
— Vamos embora desse lugar antes que caia sobre nossas cabeças.
Nos três olhamos pra cima e parecia que o teto estava rangendo e estalando. Olhamos para o fim do corredor e vimos soldados invadindo o salão, mas o teto finalmente desabou em cima deles bloqueando a entrada para o corredor.
Depois disso nós corremos para os fundos passando pela cozinha e a biblioteca, ouvimos uma explosão vindo dos quartos dos empregados e depois uma imensa ripa de madeira caiu no nosso caminho quase em cima de nossos pés.
— Melhor nós irmos pelo calabouço — Ebert sugeriu assustado olhando para aquela ripa.
— Tem saída por lá? — Manske perguntou também assustado olhando pra trás com os olhos arregalados, ele estava ouvindo os soldados se aproximado de nós.
— Não sei mas é melhor nós irmos logo!
Ebert também ouviu os gritos pelo corredor e eu também fui atrás deles assustada, as janelas estavam sendo apedrejadas, o corredor da cozinha estava cheio de cacos de vidro, mas tivemos que passar assim mesmo. Eu levei uma pedrada no ombro mas não falei pra ninguém e continuei correndo descendo uma escada que fazia várias curvas e que parecia nunca acabar.

——  .  ——


O calabouço era só um enorme salão com paredes de pedras e prisões assustadoras. Ficamos meio perdidos mas depois Ebert achou uma pequena janela de vidro que dava para o quintal do castelo. Eu fui a primeira a passar e tomei cuidado vendo se alguém estava por perto.
Quando já estávamos do lado de fora, vimos pessoas no teto do castelo, e infelizmente eles estavam com arcos. E começou a chuva de flechas, tivemos que correr para a floresta mas não adiantou muito. Todos nós fomos atingidos, mas tivemos que continuar ou se não iríamos ser atingidos ainda mais.
Paramos em um rio e eu sentei no chão com a respiração acelerada e agoniada vendo aquele corte grave na minha panturrilha. Estava mais preocupada com os outros, Ebert tinha uma ainda cravada atrás do seu ombro e ele a tirou de lá como se fosse uma simples farpa.
— Que merda... Esses idiotas...
Ele gemeu e rosnou ao mesmo tempo lavando seu ferimento. Eu fui lavar o meu também e quando acabei sentir falta de Manske.
Logo vejo que ele parecia está mais ferido ainda, veio mancando para perto do lago e lavou seus braços e pernas cortados e também perfurados com as flechas.
— Tudo bem...?
Perguntei quase com medo pois ele parecia irritado ou deprimido. Mas ele não respondeu, abaixou a cabeça e continuou lavando seus braços sem me olhar.
— Precisamos sair da floresta, não é seguro, eles vão nos procurar e nos expulsar. Ou talvez nos matar... — disse ele se levantando com a expressão séria, depois começou a rasgar suas mangas com violência. Quando ele se aproximou de mim, pensei que iria até me bater porque ainda estava com aquela cara de irritado. Mas ele somente enrolou minha perna onde estava machucado com aquele pedaço da sua roupa.
Fiquei aliviada mas mesmo assim não disse nada, iria esperar ele se acalmar pois sei que oque houve com o reino o afetava profundamente.
— O reino das fadinhas então? — Ebert disse sacudindo sua cauda e a espremendo, eu pensei que ele estivesse brincando, mas estava sério.
— Você ainda visita suas amigas lá? — Manske perguntou se virando pra ele.
— Eu só sugerir, não vou lá a muito tempo e você sabe disso — Ebert agora parecia envergonhado e dizia isso sem olhar para Manske. E eu não fazia ideia do que eles estavam falando, mas sentia uma certa empolgação para conhecer esse reino.
— Com certeza é melhor do que os outros reinos, eles são ricos e nunca fizeram guerra com ninguém porque nem precisam.
Fiquei pensando sobre oque Manske disse e comecei a me imaginar naquele lugar mágico cheio de fadas.
— Então vamos logo.
Falei me levantando colocando o peso do corpo somente em uma perna.
— Mesmo que a gente comece hoje, andando, só chegaremos lá em três dias — Ebert me deixou cansada apenas falando a palavra andar. Se pelo menos meu grifo estivesse aqui.

A raposa Solitária. Onde histórias criam vida. Descubra agora