Capítulo 8 - Eu não sabia.

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Manske me deixou sozinha na casa de chá dizendo que ia receber a princesa na sua volta. Eu pensei em ir falar com ela mais tarde, tinha muitas pessoas reunidas na entrada do castelo para recebe-la, não sei se devo ocupar o tempo dela perguntando sobre oque ela tinha feito comigo. Eu já estava acostumada nesse corpo mesmo sendo tão diferente do que eu tinha, odiava a espécie humana pelo oque ela fez com meu clã, mas concluir que eu apenas sou parecida com eles. Uma espécie híbrida, eu não sou nenhum dos dois. Isso parecia ser tão ruim, ser pelo menos doze por cento igual à eles. Eu queria poder voltar a minha vida normal de antes, cuidando das minhas flores e do meu jardim. Tenho saudades das minhas amigas flores, a Lírio, a orquídea e até a rosa falsa.
Suspirei cansada respirando a fragrância que tinha no ar das flores, quando abri os olhos, eu avistei algo engraçado no meio do gramado alto enfeitado com flores pequena amarelas que não conseguir identificar. Poderiam ser dentes de leão. Eu vi alguém pulando ali como uma gazela atrás de borboletas, eu fiquei observando até perceber que era uma raposa. Na hora eu ri adivinhando que era Ebert na sua forma animal brincando ali feito um filhote. Tive vontade de ir lá também mas depois abaixei a cabeça lembrando que não sabia como me transformar de novo na minha forma original.
Levantei a cabeça de novo não querendo ficar triste por causa disso, mas agora era ele normal colocando sua blusa preta e enrolando seu cachecol no pescoço levantando seu rosto me avistando aqui sentada o observando. Meu rosto esquentou quando ele sorriu de lado pra mim caminhando na minha direção.
Passei a mão no cabelo que ainda me incomodava esquentando meu pescoço fazendo uma cortina no meu rosto com vergonha dele. Fiquei de cabeça abaixada esperando ele se sentar do meu lado.
— Você viu aquele doido brincando ali no jardim feito um idiota? — perguntou se sentando na mesma mesinha que eu estava, eu ri da sua brincadeira boba fingindo que não era ele ali comendo as borboletas.
— Sua risada é tão bonita — disse em uma voz baixa e carinhosa fazendo meu rosto esquentar ainda mais, me encolhi na cadeira brincando com meus dedos esperando o tempo passar incapaz de dizer alguma coisa. Desde que vim pra cá, não tenho falado muito com medo de alguma coisa que poderia dizer que eles não entenderiam.
— Não existe muitos de nós em Moroe, você é daqui mesmo? — ele abaixava sua cabeça tentando ver meu rosto escondido na cortina de cabelos.
— Sim... Eu perdi minha família e... — fui interrompida quando ele arregalou os olhos do nada me assustando.
— Eu soube do massacre que fizeram com as raposas. Eu vim de lá também, vi os caçadores levando elas para algum lugar, eu pensei em voltar para ver se tinha algum sobrevivente, mas achei melhor manter distância daquele território... Eu poderia ter encontrado você se estivesse ido — ele abaixou a cabeça entortando sua boca fina parecendo triste, eu fiquei o encarando me sentindo bem pior do que ele por vê-lo assim. Então levantei minha mão e toquei sua bochecha macia novamente me aproximando para fazer aquele gesto sem ser interrompida dessa vez. Ele ficou confuso quando eu acabei e eu não entendi o porquê.
— Você sabe que as pessoas só fazem isso com alguém muito especial para elas... Certo? — falou ainda confuso com uma sobrancelha levantada. Eu balancei a cabeça afirmando tirando minha mão do seu rosto.
— Entendeu...? Eu quero dizer que só fazemos esse gesto quando gostamos mesmo de uma pessoa, mais do que só uma amizade que temos com alguém — agora eu retirei meu sorriso abaixando o rosto bem devagar raciocinando sobre isso profundamente. Então eu estava errada sobre oque pensava sobre esse gesto antes, Manske me ensinou errado. Eu não sabia se ele não sabia disso também, ou se fez sabendo que era um gesto tão significativo como ele acabou de me explicar.
— Desculpa... — falei envergonhada me levantando da mesinha deixando ele lá sozinho e confuso comigo. Eu tinha que resolver uma coisa, mas estava com medo ainda. Não sabia como iria interroga-lo sobre esse assunto. Oque eu iria dizer a ele? Porque ele fez aquilo comigo? Eu não sabia... Eu sou ingênua nesses assuntos ainda. Ele se aproveitou da minha ingenuidade então?
No meio da minha correria até o castelo, eu acabei caindo na entrada de trás machucando meu joelho na porta. Me encolhi no chão com mão onde estava sangrando chorando de dor me sentindo uma idiota.
A única pessoa que apareceu para me ajudar, foi Nagel, o braço direito da princesa que estava carregando alguma coisa pesada nos braços quando me viu no chão chorando.
— Raposinha... Oque houve? — perguntou ele se abaixando para ver meu machucado. Eu não respondi nada limpando meu rosto com a outra mão. Ele ficou me olhando com pena de mim e depois me carregou me levando para uma salinha no corredor para cuidar do meu ferimento.

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