Eu acordei em um quarto muito bonito não lembrando de nada que eu tinha feito na noite passada. Estava sobre uma cama com lençóis amarelos, eu olhei ao redor curiosa tentando entender como vim parar aqui. Observei o grande guarda roupas de madeira pintado de branco e marrom, olhei para a janela grande com cortinas claras e depois para o chão onde tinha um carpete muito bonito com cores escuras. Em cima de um baú ao lado da minha cama, tinha um vestido branco e um laço laranja sobre ele fazendo o vestido parecer um presente que alguém tinha me dado.
Fiquei confusa tentando entender porquê haviam deixado um vestido pra mim. Sair de cima da cama percebendo algo diferente em meu corpo, eu coloquei minha pata para frente mas quando olhei para baixo, eu vi uma mão humana sobre o lençol. O susto me fez cair da cama rolando no chão levando os lençóis comigo, rápido me levanto mas cair no chão de novo não conseguindo permanecer de pé sobre duas patas... Ou pés? Porque estou com pernas humanas?
Eu estava com medo e muito assustada chorando, mesmo assim, tentei me levantar de novo e dessa vez usei meus braços para me apoiar na cama. Fiquei exatamente de frente para o espelho do meu guarda roupas e vi uma mulher magra, ruiva, e com a pele rosada. Levantei minha mão e toquei meu cabelo me atrapalhando com os fios grandes e lisos que ficaram presos nos meus dedos. Eu comecei a chorar desesperada tentando entender oque havia acontecido comigo.
Sair do quarto embrulhada em um lençol, tive vergonha do meu corpo humano. Comecei a andar pelo corredor chorando alto pedindo ajuda a alguém, mas o corredor estava deserto. Até eu esbarrar em um garoto alto de cabelos brancos e olhos azuis, ele ficou me olhando com uma expressão familiar no rosto. Me encolhi ali puxando o lençol por cima dos meus ombros ainda chorando, mas depois agarrei sua blusa cinza e olhei para ele implorando por ajuda.
— Libby... — ele disse arfando surpreso abrindo um sorriso enorme, pegou minhas mãos e abaixou a cabeça para olhar nos meus olhos. Ele continuou me admirando sorrindo exageradamente pra mim que não estava entendendo mais nada. Queria acordar logo desse pesadelo.
— Você está linda! — exclamou ele abrindo meus braços para me olhar, mas depois se virou de costas rápido quando percebeu que eu estava nua.
— P-perdão... Eu não sabia que... — ele coçava a cabeça ainda de costas pra mim tentando se explicar. Eu olhei a mim mesma tentando ver oque ele tinha visto para ficar assim. Mas pelo meu pouco conhecimento sobre os humanos, eu acho que foi pelo fato de eu não usar roupas assim como todos eles. Mas eu não sou humana...
— Tudo bem... Eu quero falar com a princesa... — pedi ajeitando o lençol e fazendo ele se virar na minha direção de novo bem devagar, suas bochechas estavam levemente ruborizadas e ele estava tomando cuidado onde colocava os olhos.
— Ela saiu bem cedo com sua tropa para tratar dos seus deveres na vila — explicou passando a mão na nuca desajeitado olhando para a janela que dava direto para o jardim lá fora.
— É... Eu vou... Procurar as empregadas para cuidar de você — ele falou sem jeito apontando para mim ficando novamente corado com vergonha de algo. Depois deu meia volta e começou a andar pelo corredor de cabeça baixa.— . —
Fui tratada com muito cuidado pelas mulheres responsáveis pela limpeza do castelo. Aprendi a tomar banho, cuidar do meu cabelos, limpar as unhas, me vestir direito, aprender até sobre coisas que não sabia sobre o corpo humano. Elas disseram que com um tempo eu me acostumaria, mas eu desejava meu corpo de volta triste pensando sobre o porquê de a princesa fazer isso comigo. Sair do quarto que estava sendo arrumada por elas e fui para o corredor onde ele me esperava. Fiquei com vergonha com o jeito que ele me olhou, sentir minhas bochechas quentes e não entendi isso. Seria mais uma coisa que nunca conseguiria saber sobre esse corpo.
— Você fica bem humana — peguei sua mão ignorando seu elogio que me deixou mais triste ainda, eu ainda queria voltar a ser raposa. Mas as mulheres me disseram que eu conseguiria voltar daqui a um tempo.
Ele me levou até o jardim, e lá, nós ficamos sentados em um banco olhando para as flores sendo rodeadas por borboletas. Me pareceu que eu estava tentando chamar minha atenção cutucando meu braço com seu dedo. Um gesto que eu entendi como uma forma de me fazer dá atenção a ele, ou apenas me fazer olhar para ele. Eu ainda estou tão confusa.
Mas assim que vi uma flor Lírio do campo na sua mão estendida na minha direção, eu instantaneamente sorrir meio abobada levando minha mão até a sua pegando com dificuldade o caule da flor tão delicada. Eu me atrapalhei com esses dedos alongados e finos, acabei quebrando o caule dela usando força demais.
Fiquei tão triste quando metade dela caiu no chão que comecei a chorar feito uma idiota. Sentir água morna escorrendo pelas minhas bochechas e limpei por instinto.
— Não chore... Tá tudo bem, só precisa aprender um pouco — ele passou a mão no meu cabelo e eu parei de chorar no exato momento que sentir o calor da sua palma. Ele mexia no meu cabelo criando uma sensação boa em mim, eu nunca fui tocada antes, não sabia oque era carinho. Minha reação foi começar a esfregar minha bochecha na sua mão como as raposas fazem umas com as outras quando recebem carinho.
— Precisa perder alguns costumes também — riu retirando sua mão e ajuntando a flor do chão que estava ficando murcha. Depois sorriu pra mim e olhou para o céu começando a escurecer, ele me olhou novamente e estendeu sua mão de volta para mim mais uma vez. Eu a peguei e ele se levantou me levando para algum lugar atrás do jardim.
Quando a chuva começou a cair, estávamos protegidos embaixo de uma pequena cabaninha aberta no meio do jardim. Era uma casa de chá, eu concluir. Tinha cheiro de hortelã e ervas de todos os tipos. Eu estava sentada em uma mesinha perto de onde a água do telhado caía no chão escorrendo para algum lugar. Eu olhava aquilo distraída quando ele se sentou perto de mim olhando para a chuva também
— Você sabe que eu sou o lobo que você encontrou na floresta... Certo? — balancei a cabeça dizendo sim depois de dois segundos pensando sobre isso. Eu não sabia, mas agora que ele falou está tudo óbvio. Com certeza tomou aquele suco também.
— Eu posso fazer uma coisa? — ele perguntou sorrindo se virando mais um pouco na minha direção se curvando até ficar do meu tamanho.
— Oque? — perguntei confusa virando a cabeça de lado olhando para seu olhos claros e bonitos. Ele começou a se aproximar de mim e eu continuei confusa, oque ele fez foi encostar sua boca no canto da minha e depois se afastar me observando com cuidado ainda com seu sorriso gentil. Eu olhei pra baixo por um segundo e depois sorrir, tinha gostado desse gesto estranho que nunca vi na vida. Então eu fiz a mesma coisa com ele meio sem jeito quando repetir o gesto no mesmo lugar que ele fez em mim
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A raposa Solitária.
FantasiaLibby, uma raposa que cresceu sem os pais ou qualquer outro membro da sua família para cuidar dela. Teve o desprazer de assistir sua família sendo levada por caçadores, aprendeu a viver sozinha na floresta cuidando de si mesma. Anos depois se tornou...