EXTRA: Se eu pudesse voltar atrás.

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YOONGI POINT OF VIEW.


O dia estava muito quente para um confronto direto, mas não é como se a minha equipe e eu tivéssemos alguma outra opção. Fazia mais ou menos 37 graus com sensação de 42. Calor excessivo dificulta e muito o sucesso da missão.

Nesse tipo de trabalho é sempre tudo ou nada, não tem depois. Fui treinado dois anos para saber disso, e ainda era todos os dias até o final do meu serviço como militar. Eu achava que tinha aprendido essa lição, achava que podia suportar qualquer pressão, mas aquele maldito dia aconteceu, e ele era o lembrete de que eu estava sendo inocente, e prepotente, e egocêntrico, e imaturo.

Meu corpo estava todo coberto pela roupagem oficial, o uniforme de guerra. Virei agente de campo relativamente cedo, eu sempre aceitei ir para investigações perigosas ou suicidas. Daquela vez, eu estava num deserto em Marrocos, nem sabia minha localização direito porque caí literalmente de paraquedas na missão.  Parecia que meu corpo estava envolto num saco térmico. Minha temperatura não baixava, só aumentava. A adrenalina só gelava no ápice, depois esquentava tudo. Eu estava carregando uma metralhadora e uma glock, e enquanto meus parceiros desbravavam a área, eu estava procurando uma posição adequada. Para isso eu precisava observar.

O vento fraco vinha do noroeste, mas trazia um bafo quente e impiedoso. O casebre que estávamos cercando era de pedra, madeira e bambu, e podia parecer piada, mas a construção estava firme e forte. Dois panos rasgados e enormes, um vermelho e um amarelo, balançavam do lado direito e esquerdo da casa, como se fossem faixas; Mas já estavam velhas. Pareciam camisetões sujos e rasgados.

Parecia na verdade um posto de armazenamento, porque era um casebre isolado, grande e descuidado - o que significava que ninguém ficava muito ali ou se preocupava em arrumar. Os quatro homens que entraram (e o alvo da nossa missão em campo) estavam quase desarmados, não fosse uma bomba com potencial grande o suficiente para chegar às casas mais perto da cidade. Só que eles entraram desarmados. Dentro da casa, Deus sabe que tipo de armas eles podiam ter. 

Então não seria fácil. Se tivéssemos conseguido pegá-los antes de entrar...


Além de mim, Arat era a atiradora que também ia ficar no recuo, longe o suficiente para acertá-los à distância caso necessário, mas ao contrário de mim, ela ficaria em movimento ao redor do perímetro.

Arat era a que tinha mais tempo de serviço no FBI, e entre nós a única atiradora de elite. Éramos em doze naquele dia. Quando a missão requeria atiradores à distância ou de elite, nós dois tínhamos que ficar no mesmo time, porque nossos superiores alegavam que tínhamos sincronia e harmonia. Isso nos rendia muito tempo juntos, então desenvolvemos um entrosamento natural e intenso.

Sempre precisávamos medir nossas posições, eu nunca poderia interferir no campo e na mira dela, mas o contrário podia acontecer quando ela tinha que se deslocar.

Arat era também minha melhor amiga. Como eu, ela não tinha pais, mas a história dela era bem mais triste, e de alguma forma eu me sentia responsável pelo bem estar dela. Fomos treinados juntos por anos, vivendo debaixo do mesmo teto, comendo as mesmas melecas e porcarias, passando pelas mesmas privações e por situações difíceis e precárias... E nosso laço tinha que ser forte, porque vimos as intimidades do outro. Eu a vi desmaiar em treino, a vi vomitar de nervoso, eu fiz curativos na sua virilha, dei banho nela quando chegou de uma missão que envolvia matar crianças, entre muitos outros perrengues que graças a Deus eu não passo mais. Ela também já fez muito por mim, coisas como me dar comida na boca porque quebrei os dedos. Ela era a maior guerreira de nós todos. Mira perfeita, corpo perfeito, ágil mais do que o suficiente, e quando ela estava no time, nós dois estávamos, todo mundo se sentia protegido.

Pantera ▫ pjm+mygOnde histórias criam vida. Descubra agora