07 - Eu vou sobreviver

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Com 15 anos meu pai me fazia treinar praticamente todos os dias e eu já tinha passado da idade de querer apenas agradá-lo, como se quisesse provar que não era apenas um garoto fraco. Meu corpo até então franzino começou a se desenvolver, mas a cada dia eu ganhava novos hematomas também. Foi assim que me tornei um adolescente irritante, sempre refutando suas ordens e tornando nossa convivência tão difícil. Ainda não entendo porque ele queria que eu fosse o melhor, sempre incentivando a competitividade entre nós, mesmo quando nada daquilo fazia muito sentido pra mim.

Vez ou outra ele me colocava para lutar com alguns dos seus alunos. Foi assim que eu conheci o Dan. Eu me lembro quando o vi pela primeira vez... ele era um dos melhores alunos da nossa classe, tão centrado e com uma técnica impecável. Eu o observei durante as aulas e foi assim que eu descobri como poderia vencê-lo.

Naquele dia eu estava especialmente ansioso enquanto assistia Dan se aquecer do outro lado do salão. Seus lábios se mexiam como se ele estivesse falando sozinho. Não consegui não sorrir com aquela cena. Havia algo além de sua técnica ou até mesmo de sua fisionomia que me atraiu a ele... era porque ele levava o jiu jitsu tão a sério que eu achava engraçado. Por que ele gostava tanto de uma coisa que pra mim era como uma obrigação?

- Comprimentem-se!

Meu pai gritou com a voz imponente e então fez um sinal com o braço indicando que a luta havia começado.

Deixei-o acreditar que poderia me vencer facilmente no começo. Eu não costumava fazer isso, porque sabia que irritava meu pai, mas o fiz desta vez, golpe atrás de golpe até que Dan finalmente me derruba no chão e me imobiliza, com seu corpo em cima do meu. Só conseguia prestar atenção na sua expressão... tão concentrado e tão confiante...

Mas algo o desconcentrou... "por que você está sorrindo?" ele perguntou e então eu me dei conta do que estava fazendo. Apenas enlacei as minhas pernas ao redor da sua cintura e puxei seu corpo contra o meu com força. Talvez fosse porque agora nossas virilhas se tocavam intensamente, mas esse gesto apenas deixou Dan totalmente aturdido, me fitando com um misto de choque e medo, então aproveitei a deixa para me desvencilhar do seu golpe, o girando no chão e pulando em cima dele. Nossos rostos estavam muitos próximos agora... pude ver o quanto seus olhos pareciam assustados com a minha reação e também ouvi alto e claro as batidas aceleradas do seu coração. Naquele micro espaço, e mesmo com tantos olhos curiosos em cima de nós, ou com a voz de meu pai, distante, gritando comandos indistinguíveis, era como se existisse apenas nós dois ali.

Ele me empurrou brutalmente para o lado, e eu cai no tatame, sem conseguir segurar as risadas. Meu pai nos observava de longe com seu tom de desaprovação. Dan apenas arrumou seu kimono, muito irritado, e me lançou um olhar feroz, como se eu tivesse ultrapassado algum limite invisível entre nós. Ele ao menos fazia ideia que essa era a minha verdadeira intenção?

O segui até o banheiro.

- Que merda foi aquela, Nathan? - ele pergunta com sua voz claramente alterada - Só porque é filho do professor você acha que pode fazer qualquer coisa?!

- Me desculpe... não farei aquilo de novo - tentei soar minimamente sério.

- Não! Não haverá uma próxima vez. Eu me recuso!

Eu me aproximo dele o bastante de modo que nossos narizes quase se tocam.

- Por que? - eu pergunto da forma mais ameaçadora que consigo.

Ele hesita, mas ao mesmo tempo não move um músculo sequer, sustentando meu olhar naquele espaço limitado entre nós.

- Está com medo...? - eu pergunto levantando um sorriso de canto.

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