Valência

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O céu era chato. Ou pelo menos a parte do quartel general em que eu fui colocada. Toda a parte reservada para o exército era, podemos dizer, deprimente.

A cidade onde os anjos viviam-Valência- era diferente da cidade onde os místicos moravam-Colônia- mas eu não tinha muitos motivos para ir a nenhuma delas, além do mais, as pessoas que viviam lá olhavam pra mim de um jeito diferente, como se fosse desconfortável me ter por perto. Mesmo assim, Valência tinha me convocado, e eu era obrigada a lutar por aquelas pessoas.

Enfim, depois de algumas horas voando sem parar eu vi ao longe o quartel general. A primeira coisa que eu fiz quando cheguei, cansada de voar por tanto tempo e sentindo dor na base das minhas asas, foi procurar Galadriel. Eu andei e os soldados me reconheceram. Eu era a única híbrida de anjos e demônios, as pessoas falavam de mim, eu era a vilã das histórias que os pais contam para as crianças. Mas de algum modo, os soldados me respeitavam. Eu me aproximei de um grupinho e eles bateram continência.

-Descansar.

-Senhora Sofia. -Um deles apertou minha mão.

-Não sabíamos que a senhora viria.

-Bom, eu estou aqui, onde está o Coronel?

-Em sua sala, senhora. Ele nunca sai de lá.

-Bom, soldado, eu não sei onde a sala fica.-Disse com preguiça de falar qualquer coisa.

-Ah sim, vamos eu acompanho a senhora.-Ele andou até a sala de Gael com a cabeça abaixada e eu o segui quase querendo esconder minhas asas de tão pesada que elas estavam, mas no céu esconder as asas era visto como crime, e eu não iria atiçar a ira do General logo no primeiro dia. Chegamos em uma das salas do complexo e o soldado bateu mais uma continência, me deixando sozinha. Entrei na sala e ele estava sentado em sua fortaleza, assinando papéis.

-Gael. Eu preciso me deitar. - Disse caindo na sala dele. Estava cansada e triste, e ele viu aquilo. Quando Gael se aproximou ele me pegou no colo e me colocou sentada na cadeira.

-Sofia, não sabia que você vinha hoje. Como foi com a menina?

-Tão terrível quanto poderia ser. Não quero falar sobre isso. Só preciso me deitar. -disse estirada na cadeira a sua frente.

-Claro, venha. -Ele levantou e me ajudou a levantar, fomos andando até uma outra porta no mesmo corredor. Eu não entrava ali há muito tempo, portanto não reconheci de primeira. As paredes eram totalmente brancas, com desenhos dourados. Os desenhos mostravam anjos com suas asas enormes, voando e lutando contra inimigos mais velhos do que a civilização. Me lembrei do quadro que Margot tinha me mostrado no museu. Minha cama, que um dia fora a cama do meu pai, ficava ali no meio. Uma cama de casal, com dossel. Bem clichê.

Quando me deitei senti as mãos de Margot passeando pela minha cintura, mas sabia que aquilo não era de verdade, tentei fechar os olhos até que Gael percebesse que eu não o queria ali dentro. Não pareceu funcionar, já que ele sentou na beirada da cama, os olhos cravados em mim.

-Nao quero falar sobre isso, Gael. Pode ir fazer suas coisas. -Disse ainda de olhos fechados.

-Nao quero deixar você sozinha. Eu consigo sentir essa sensação que está se apoderando de você. Essa inquietude.

-Não é assim que se chama. É só tristeza, nada mais. -Disse sem ainda me dar o trabalho de abrir os olhos. Eu só precisava ficar sozinha, e ele não ia embora.

-Só tristeza. Então você tem certeza que...

-Saia daqui, Gael! -Gritei abrindo os olhos. Uma lágrima desceu pelos meus olhos me assustando. Eu não chorava, o que estava acontecendo? Eu a limpei e suspirei pesadamente- por favor, só... só saia. Quando acordar eu vou me encontrar com você.

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