Não quero entrar

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Margot estava dormindo ao meu lado e eu não estava conseguindo adiar a queimação na garganta. Levantei e escrevi um bilhete. Eu não iria demorar, mas não sabia se ela iria demorar para acordar. Saí em silêncio e voltei em quinze minutos. Ela não tinha se mexido ainda. Eu amassei o bilhete e o joguei no lixo. Voltando para a cama vi o celular dela, estava quase explodindo de tanto tocar e ela não se mexia. Estava na hora dela acordar, provavelmente.

—Margot. Acorda. — disse fazendo carinho em suas costas devagar. Ela murmurou uma palavra incompreensível e virou para o meu lado da cama.

—O que foi? — Ela disse um tempo depois.

—Você precisa acordar. Chegaram algumas mensagens no seu celular. São todas do mesmo número. Acho que pode ter acontecido alguma coisa. — disse encostando na cabeceira da cama com os braços cruzados.

—Ah, tudo bem. —Ela levantou devagar e pegou o celular na mesinha de cabeceira. Quando ela viu as mensagens, seu corpo antes relaxado, ficou rígido rapidamente e eu levantei da cama, indo até ela e tocando seu rosto.

—Tudo bem? — Perguntei olhando em seus olhos. Quando percebeu que estava completamente sem roupas, ela corou e correu indo procurar algo pra vestir.

—O que você fez com as minhas roupas? - Margot deu um berro assustado de dentro do closet.

—Eu meio que as destruí ontem á noite, você não lembra? Enfim, perdão, você pode colocar qualquer coisa do meu armário se quiser, eu te levo pra casa. Parece que a mensagem mexeu com você, deve ser sério.

—Você está me expulsando? — Ela perguntou desafiadoramente.

—Nunca em sã consciência eu faria isso. Mas você precisa ir, não é? – disse beijando sua boca enquanto vestia de novo minha jaqueta.

—Preciso sim. Me desculpe.

—Tudo bem. Vem, vou te mostrar as roupas.

Eu peguei sua mão e a puxei até o closet pequeno que ficava numa porta do quarto. Ela entrou e pegou um casaco meu grande. Ela vestiu o casaco e ficou só de calcinha.

—Você quer que eu te leve assim pra casa?

—Uhum, espera aí. —Ela saiu e voltou vestindo o casaco e um all star meu. Eu ri e ela veio até mim, me beijando rápido. Como se fizesse isso sempre.

Nós saímos do apartamento e ela sentou no banco da frente do meu carro.

Quando eu parei em frente à sua casa, ela olhou pra mim e riu. Parecia o sorriso mais forçado do mundo inteiro.

—O que foi? —perguntei segurando sua mão e a beijando varias vezes.

—Eu não quero entrar.

—Então fica aqui.

Eu fui desligar o rádio e quando olhei pra ela, seus olhos estavam cheios d'agua.

—Ei, o que foi? — Eu a puxei para o meu colo e passei minhas mãos em seus cabelos.

—Quando eu sair desse carro e entrar em casa, eu vou me lembrar de você? —Ela perguntou apreensiva e eu vi em seus olhos, ela realmente gostava de mim.

—Vai se lembrar de mim, mas não do que eu sou. Você não pode se lembrar de tudo ainda, é perigoso demais.

—Mas isso não é justo. —Ela encostou o rosto no meu pescoço.

—Tem toda razão, e eu sinto muito. Você acha melhor então eu não voltar? —Pensava por favor, diz que não...acho que não vou aguentar.

—Não...—ela disse apertando de leve a minha mão.—Não quero que você se afaste.

—Eu também não quero me afastar. Você vai entrar?

—Eu preciso. Você volta? —Ela encostou o rosto no meu peito e eu beijei seus cabelos. Tudo isso que estava acontecendo era tão fácil. Nós nos conectamos tão rápido.

—Eu venho mais tarde, Margot, prometo. Tenha um bom dia.

—Bom dia, Sofia.

Ela desceu do meu colo e eu a vi sair do carro e se afastar de mim enquanto entrava em casa. Ela não olhou pra trás.

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