Explicações

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—O que foi? —Perguntei perplexa enquanto olhava confusa o sorriso no rosto da mulher.

—Não, vocês não podem fazer isso, não podem tirar ela de mim. Eu não vou deixar. —Margot levantou do sofá e ficou parada na minha frente. Ela tinha dito isso dormindo uma vez...ela sonhou com isso? O que estava acontecendo?

—Mas, minha querida...Esse sempre foi o nosso plano. - O Sr. Jhonson disse olhando animado para sua filha. Quer dizer que esse sempre foi o plano deles, aquela família queria me matar. Eu precisava sair daquela casa. Tinha que sair dali o mais rápido possível.

—Não pai, eu não vou levar isso a frente. Não mesmo. Eu me apaixonei por Sofia.

—Margot, o que está acontecendo? —Perguntei nervosa olhando em sua direção. Ela sempre me fez perguntas sobre o mundo sobrenatural, ela não parecia saber de nada. Aquilo tudo tinha sido uma mentira?

—Acho melhor você ir, Sofia, eles não estão bem agora. —Ela disse sem emoção na voz enquanto apertava minha mão e encarava os pais. Eu apertei sua mão de volta e saí correndo dali. Quando estava no alto de um prédio afastado, deixei minhas asas aparecerem e levantei voo devagar. Quando estava em uma altura segura eu comecei a pensar no que tinha acontecido. Eu não entendi muito bem o que tinha sido tudo aquilo, Margot vai ter que me explicar o que aconteceu.

Mesmo me sentindo ameaçada eu não iria deixá-la naquele lugar sem antes receber uma explicação. Depois de um tempo resolvi fazer uma "boquinha" antes de voltar aquela casa. Eu não iria até lá fraca, não depois daquela cena toda. Algumas horas depois eu estava parada na porta, as luzes estavam apagadas, mas eu não entrei pela porta da frente, subi pela janela. Margot estava na cama dormindo. Eu vasculhei o quarto e quando vi que não tinha mais ninguém ali, tranquei a porta. Deitei ao seu lado e ela se virou na minha direção.

—Você quer respostas. – Ela gemeu quando eu passei meu braço pela sua cintura, a puxando para mim.

—Seria ótimo. Você vai tentar me matar também? Confesso que não estou me sentindo muito segura aqui agora.

—Bem vinda ao meu mundo...e não, eu nunca conseguiria fazer isso. Talvez antes, mas não agora. Eu falei sério antes, Sofia. Me apaixonei por você. — ela sussurrou enquanto encostava em meu peito.

—Você quer que eu te tire daqui agora? —perguntei fazendo carinho em sua cabeça. Ela suspirou negando.

—Eu preciso conversar com você, mas eu estou com tanto sono.—Ela sussurrava com os olhos fechados. Ela parecia mais cansada que o normal.

—Eu consigo esperar até amanhã. —fiz carinho em sua bochecha.

—Mas você vai ficar acordada até lá. Aqui sozinha.

—Não tem problema, durma por favor.

Ela fechou os olhos e um tempo depois sua respiração ficou mais calma. Eu não ouvia barulho nenhum, mas mesmo assim não dormi aquela noite. Pela manhã eu tiraria Margot de lá.

A noite passou arrastada enquanto eu olhava para o lado de fora da janela. Quando Margot se soltou de mim à noite eu fui até lá mas não me atrevi a sair daquele quarto. Depois de algumas horas quando ela finalmente começou a se mexer eu prestei atenção em seus movimentos devagar. A forma como ela coçava os olhos e bocejava duas vezes. Sempre a mesma coisa. A pequena rotina matinal.

—Bom dia.

—Bom dia, Sofia. Só de lembrar que você me viu dormir...—ela disse se escondendo debaixo das cobertas.

—Você não fez nada digno de vergonha, isso eu posso afirmar. Você dorme excelentemente bem. Agora se arrume, vou te tirar daqui.

—Porque? – Ela perguntou assustada descobrindo seu rosto.

—Porque eu preciso conversar com você e essa conversa não vai acontecer aqui. Vamos tomar café. Onde você quer ir?

—Não sei. —Ela disse levantando e indo na direção do banheiro. Eu sabia onde levá-la, o Gota, um café antigo no Centro da cidade, era perto da minha casa. Eu peguei algumas roupas dela e coloquei dentro de uma mochila, não sabia o rumo que a conversa tomaria, mas ela ainda parecia em perigo em sua casa, pelo menos mais do que na minha.

Talvez eu conseguisse convencê-la a passar uns dias lá, ou com Yuri. Não, Yuri nunca aceitaria uma filha de caçadores em sua casa. Se ele soubesse daquilo talvez ela nem continuasse viva. Eu não podia contar a ele o que tinha descoberto sobre Margot. Ela saiu do banheiro e nós saímos pela janela e corremos até o carro.

Ela dormiu mais um pouco encostada no banco do carona e eu pensei que ela poderia realmente estar com esse sono todo, mas ela parecia estar apenas evitando conversar comigo. Bom, por isso não posso culpa-la. Eu também não sabia se estava pronta para ouvir o que ela tinha pra me dizer. Sentamos no café e eu peguei o cardápio, entregando em sua mão.

—O que você vai querer?

—Um misto quente e um suco de laranja.
Depois de fazer o pedido, eu assisti enquanto ela brincava com as chaves do carro na mesa. Eu não disse nada, apenas esperei ela começar a falar.

—Meus pais eram caçadores antes de eu nascer. Faziam parte de um grupo grande e caçavam todo tipo de criatura sobrenatural. Eles moravam no sul do Brasil e então quando eu nasci, eles se separaram do grupo e se mudaram pra cá. Minha mãe arranjou um emprego como professora e meu pai começou a trabalhar numa empresa. Eu sabia que eles eram caçadores, mas não sabia o que eles caçavam. Há uns dois meses eu descobri em um quarto os registros das missões deles. Eu não perguntei nada pra eles, mas um lugar que eu via muito no diário era a boate Stixie. Eu finalmente tomei coragem um dia e fui até lá.

Eu sabia pelos arquivos que era um covil de vampiros, mas eu precisava de respostas, e eu não podia perguntar aos meus pais. No dia que você foi lá em casa, mamãe me disse que tinha te reconhecido, mas eu não dei atenção. Então um dia eu acordei de madrugada com um barulho e quando eu olhei para o quintal da janela do quarto, eu vi eles dois treinando tiro com arco. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas então eles me contaram toda a história e disseram que estavam querendo atacar a boate. Eles disseram que queriam fazer aquilo comigo e então quase todos os dias eles vêm falando sobre voltar a caçar, e que vão me ensinar tudo e que vamos formar uma equipe. Eles acham que eu devia te matar. Eu não quero fazer isso, eu juro. Então às vezes eles ficam malucos como ontem e me ameaçam dizendo que vão matá-la com ou sem mim.— Ela disse tudo enquanto brincava com a chave na mesa, sem olhar em meus olhos. Eu passei a mão pela mesa e coloquei sob seu queixo, forçando ela a me olhar.

—Eles fizeram alguma coisa com você durante esse tempo todo?

—Não, só me forçaram a treinar, por isso eu tenho estado tão cansada, e ameaçaram te matar, como ontem.—O misto quente chegou e ela começou a comer.

—Você quer voltar pra lá ou quer passar uns dias na minha casa?

—Eu não sei... Só sei que não quero voltar e vê-los ameaçando você de novo.

—Você vem comigo, vai dar tudo certo. Não se preocupe comigo. Eu já sou bem grandinha. Sei me cuidar.

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