Pedido

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Estava na cozinha fazendo o café da manhã. Margot começaria a reclamar se continuasse a comer omelete. Eu precisava urgentemente achar outra coisa que eu conseguisse fazer sem sentir total repulsa. Ouvi um barulho no quarto e no próximo segundo já estava lá, Margot estava deitada no chão e reclamava baixinho. Me aproximei devagar.

-O que aconteceu, amor?

-Não é óbvio? Eu caí da cama. -Ela disse me fuzilando com os olhos. Ela estava irritada e eu tinha certeza de que sabia o motivo. Eu a ajudei a levantar e dei um beijo em sua testa.

-Você se machucou?

-Não, está tudo bem.

-Ok, eu estou fazendo o café.

-Eu vou tomar um banho.

Ela se soltou do meu abraço e andou devagar até o banheiro. Ela parecia distante hoje, talvez estivesse com a conversa de ontem na cabeça, como eu queria poder saber o que ela pensava. Eu voltei pra cozinha e servi seu prato na mesa. Dez minutos depois e nada de Margot, eu fui em direção ao banheiro e entrei devagar, ela estava no banho e lavava a cabeça enquanto cantava baixinho uma música. Eu me sentei no vaso do banheiro e fiquei olhando a cena. A água correndo por seu corpo, a distração a deixava ainda mais bonita. Quando ela se virou e me viu sentada tomou um susto e eu me segurei pra não rir.

-Nossa, Sofia. Você me assustou.

-Desculpe amor. Vim ver porque você estava demorando, acho que me distrai com a cena.

-Quer entrar aqui? - Ela perguntou se aproximando do vidro do chuveiro, me distraindo mais uma vez.

-Se eu entrar, não vamos sair tão cedo e seu café está esfriando na cozinha. - disse olhando em seus olhos. Margot achava que podia me pegar em seus joguinhos. Ela quase conseguia, mas eu tinha provado ter um auto controle considerável.

Eu a esperei sair do banho e segurei em meus braços, enxugando sua pele devagar. Ela fechou os olhos enquanto sentia o toque em sua pele.

-Tem certeza que não se machucou, amor?

-Tenho sim.

-Esta tudo bem com a gente?-perguntei a abraçando por trás enquanto enrolava a toalha nela.

-Sim, eu só estou um pouco triste, e você sabe porque.

-Se veste que nós vamos conversar.
Eu beijei a parte de trás do seu pescoço e saí do banheiro. Eu pensava em um jeito de fazê-la mudar de idéia e eu jogaria pesado. Depois que ela tomou o café, sentou no sofá e eu sentei na mesa de centro a sua frente. Como eu queria que aquilo não estivesse acontecendo.

-Então, Gogo. Fale.

-Eu já toquei no assunto algumas vezes e você sempre dizia que iríamos conversar, e então eu te peço a única coisa que eu realmente quero e você me diz não.

-Calma, calma. Bom, você está certa, eu sinto muito por te cortar daquele jeito. Vamos conversar, estamos aqui, não estamos? Quando eu não cumpri uma promessa a você?

-Nunca. Eu sei o que estou pedindo.

-Só quero que você pense nos seus pais. Você teve contato com eles, depois de tudo que aconteceu?

-Sim, eu já me encontrei com eles. Mas eles não se lembram de você.

-Eu sei. Estou falando sobre eles. Você sabe o que eles são. Eles queriam me matar. Acha que se você for igual a mim, eles não vão se importar? -Ela parecia pensar no assunto. Eu aproveitei o momento para tentar dissuadi-la daquele pedido insano.

-Amor. Você não precisa fazer isso. Pode viver uma vida longa ao meu lado, eu posso proteger você.
Ela fechou os olhos suspirando e soltou minhas mãos, que eu nem percebi que estavam presas às dela.

-Vida longa, Sofia? Você realmente acha que eu vou aceitar ficar ao seu lado, com você sempre aparentando 21 anos, enquanto eu envelheço e fico toda enrugada? Acha mesmo que você vai me querer desse jeito? Eu vou ficar velha e você vai me deixar por outra, alguém mais jovem, é inevitável. -Ela disse andando de um lado para o outro na sala do apartamento.

Eu estava completamente paralisada por suas palavras. Ela se sentou mais uma vez quando viu que eu não me mexia.

-Sofia? Sofia, você está bem?

-Você realmente acredita nisso.

Minha voz saiu quebrada, eu ainda não tinha me mexido, não conseguia olhar em seus olhos. Eu não conseguia fazer nada. Aquelas palavras estavam a minha volta, me prendendo ali.

-Sofia, eu não quis dizer assim. -Eu a encarei e ela parecia preocupada. Consegui me levantar. Eu não queria deixá-la ali, mas ao mesmo tempo eu só queria sair dali. Eu me encostei na parede e mais uma vez percebi que minha respiração estava descompassada. Ela se aproximou e colocou a mão em meu peito.

-Me desculpe. Não queria ter dito aquilo.

-Sim, você queria. Você realmente acredita nisso. Margot, eu nunca amei ninguém como eu amo você. Eu nunca vou deixar de te amar. Você acha realmente que eu me importo com como você vai se parecer daqui a 20 anos?

-Você pode não se importar, mas eu sim, Sofia. Por favor, eu quero ser como você.

Eu suspirei e abaixei minha cabeça, derrotada.
-Você tem certeza disso, Margot?

-Sim, quero ficar com você pra sempre, não só por 20 anos.

-Tudo bem, mas eu tenho algumas condições.

-Sofia.

-Eu aceito o seu pedido se você aceitar o meu.

-O que é?

-Preciso de tempo.

-O que você está esperando?

Eu peguei a caixa no meu bolso e a apertei. Eu estava pronta, mas tinha medo de a assustar.
-Margot. -Eu sussurrei enquanto ela passava as mãos na minha cintura.

-Sofia?

-Eu não sei se eu consigo. Estou nervosa.

-O que aconteceu?

Eu tirei a caixinha preta de veludo do meu bolso, abri e a coloquei em suas mãos.

-Casa comigo?

Ela tinha uma expressão surpresa que teria me divertido se eu não estivesse tão nervosa. Eu não pretendia fazer o pedido daquele jeito, mas ela queria uma resposta, eu pediria uma resposta dela também. E eu tinha toda a eternidade para esperar.

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