Tédio

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Depois de um tempo, um soldado totalmente atrapalhado veio correndo na minha direção. Ele parou na minha frente e bateu continência.

—Major.

—Descansar soldado.—Ele soltou uma lufada de ar que me fez pensar que ele estava prestes a desmaiar bem ali na minha frente.

—O coronel pediu para chamá-la na sala dele, senhora.

—Tudo bem, eu já vou.

—Ele se preparou para correr mais uma vez mas eu segurei seu braço.

—Não precisa correr para avisá-lo se eu estou indo agora, soldado. Pode descansar e vir comigo... andando.
Ele pareceu meio surpreso e andou uns passos atrás de mim por todo o caminho até o QG de Valência. Cheguei na porta de Gael e bati.

—Entre.

—Coronel.—A parte mais chata era ter que começar qualquer assunto assim.

—Major—Eu ouvi todos da sala responderem, inclusive uma voz mais cortante. Eu nunca iria deixar de reconhecer aquela voz. Eu odiava aquela voz e sabia que ele estava ali.

—General — disse batendo continência para Gabriel e me amaldiçoando por isso. Ele era meu superior, pelo menos ali dentro. Vi ali Zaz, escorado no canto, encarando suas mãos machucadas. Os anjos se curavam mais rápido, o que estava acontecendo com ele?

—Descansar major. Não sabia que já tinha chegado. Senão teria lhe dado às boas vindas eu mesmo.

—Cheguei há três dias, Senhor.

—Entendo. Espero que aceite o convite para uma bebida mais tarde.

—Sim senhor. Coronel —Disse me virando para Gael tentando terminar aquela conversa — O senhor me chamou?

—Sim, major. Mais uma excursão de anjos voltou do vilarejo escondido. Descobriram armas e uniformes e tendas em uma clareira. Aquele era o esconderijo deles e você nos ajudou a achar. —Ele deu ênfase na minha ajuda para o General.

—Não foi nada, senhor.

—Foi de suma importância para nós, mas temos um problema em nossas mãos. — Disse o General se colocando mais uma vez na conversa.

—E qual seria, senhor?

—A população do vilarejo é de fadas. Elas começaram a rebelião contra nós e vimos agora que estão se preparando. Precisamos invadir.

—Com todo respeito, General. Não seria melhor fazê-los se renderem?

—Nao, major. Nós vamos atacar. Eles serão exemplos para os outros. Não vamos tolerar investida armamentista daquele tipo. Sem ofensas.

—Não ofendeu, senhor.

—Prepare as tropas, Sargento— ele disse chamando atenção de Zaz—Nós vamos daqui a cinco dias.

—Sim senhor —Zaz disse mas Gabriel já tinha deixado a sala. Os poucos soldados que estavam ali foram dispensados e eu fechei a porta, me aproximando de Zaz.

—Deixa eu ver essa mão. — Eu desenfaixei a mão dele e vi os cortes. As mãos não pareciam nem um pouco cicatrizadas e suas mãos ameaçavam começar a sangrar a qualquer momento, aquele sangue dourado dos anjos, que me causava náuseas. Ele deveria estar com alguma infecção.

—Você tem sentido febre?

—O que?

—Sua pele, tem estado quente? Bom, mais quente que o normal?

—Não que eu saiba, Sô.

—E você pode me dizer porque não foi na enfermaria para ver isso?

—Ahn, é meio complicado. —Olhei em seu rosto e ele tinha uma cara de culpado. Aquilo não podia ser bom.

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