Capítulo 8 - O problema não é comigo

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Passei na casa da minha mãe para buscar a Priscila e fui pra casa com ela. No caminho, ela me contou algumas coisas do seu dia, ainda em uma linguagem que as outras pessoas não entendiam muito bem – mas eu entendia tudinho! Ah, como é bom o sentimento que uma mãe tem por seus filhos. E como é puro o carinho que recebemos deles...

"Se os casais conseguissem se amar incondicionalmente como é o amor entre mãe e filhos, não haveria tantas brigas e separações por aí." – pensei.

Fiquei refletindo sobre o que havia acabado de passar pela minha cabeça, agraciada pela musiquinha que a Pri cantava.

Se essa rua, se essa rua fosse minha

Eu mandava, eu mandava ladrilhar

Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante

Só pro meu, só pro meu amor passar.

Pensei alto: "É, minha filha, o papai ladrilhou o meu caminho com pedrinhas de brilhante durante muitos anos, mas agora essas pedrinhas estão precisando de um polimento...".

– O quê, mamãe? – Priscila perguntou, com sua vozinha linda.

– Ah, nada não, querida, vamos cantar outra música juntas?

– Vamooooos!

A Pri sempre conseguia levantar meu astral! Enquanto cantava musiquinhas com ela, fui me sentindo mais leve e encorajada a falar sobre o curso com o Hugo.

Quando entramos em casa, Hugo estava no lugar habitual dele dos últimos tempos: sentado no sofá, com notebook no colo e televisão ligada.

A Priscila já chegou gritando um "Papaaaaai" alto e feliz, correndo de braços abertos para ele. O Hugo apenas passou a mão na cabeça dela e falou um "oi" seco.

A Pri pareceu não se abalar com a falta de afeto do pai e foi saltitando pro seu quarto brincar com as bonecas.

Às vezes me pergunto se nós, adultos, deveríamos mesmo perder esse encanto que as crianças têm. Elas não guardam mágoas, se esquecem rapidamente de fatos tristes, não ficam remoendo pensamentos ruins...

Inspirei-me no sentimento puro das crianças, respirei fundo e cumprimentei Hugo com um beijo em sua testa.

– Oi, Guinho! Tenho novidades pra te contar! Mas te conto depois que a Priscila for dormir.

– Tudo bem, assim eu posso terminar de analisar esse documento do trabalho antes.

– Trazendo trabalho pra casa de novo, Guinho?

– É importante pra minha carreira, Cris! Você quer ou não quer que eu seja promovido?

Ao ouvir essa declaração, lembrei da frase na plaquinha de acrílico sobre a mesa do escritório do Carlos:

Nenhum sucesso no mundo compensa o fracasso no lar.

"Hum, acho que tô começando a entender o significado daquela frase..." – pensei.

Não respondi nada e fui brincar um pouco com a Priscila, para espairecer e me esquecer dos problemas por alguns momentos.

Depois que ela dormiu, tomei um banho e fui para a sala, pedindo que Hugo desligasse os eletrônicos e me desse atenção.

– Tudo bem, já terminei o trabalho que estava fazendo. Pode começar. – ele respondeu, secamente.

Entreguei o prospecto do curso para ele e, antes que eu conseguisse falar qualquer coisa, ele perguntou, exaltado:

– "Quer ser feliz para sempre, separe-se"? Era essa a novidade que você queria me contar? Conheceu outro cara e agora quer se separar de mim?

Respirei fundo e consegui manter minha tranquilidade.

– Calma, Guinho, não é nada disso. Ouça o que eu tenho pra falar.

Peguei o prospecto do curso de volta e comecei a explicar.

– Esse é o nome de um curso que tem o objetivo de melhorar o relacionamento entre os casais.

Hugo soltou uma gargalhada irônica e fingiu que estava sendo locutor de uma propaganda.

– Hahahaha! Essa é boa! "Quer melhorar o seu relacionamento? É simples: separe-se de seu marido!".

Diante daquele deboche, foi difícil não explodir! Tive que respirar fundo, para conseguir continuar falando o que eu queria.

– Não seja debochado, Guinho! Dá pra me escutar?

– Ok, ok, pode continuar.

– Fui conhecer a estrutura desse curso hoje e achei muito interessante. Lá nós vamos conhecer outros casais que também estão com dificuldades no relacionamento e vamos aprender, juntos, a melhorar nossa vida. Vamos ter até exercícios dirigidos pra fazer em casa!

– Peraí, Cris. Como assim "vamos conhecer", "vamos aprender juntos"? Que história é essa?

– O curso é voltado pra casais, Guinho. Pra dar certo mais rápido, os dois devem fazer o curso juntos.

– Sem chances! Eu já falei que quem está precisando de terapia aqui é você! E esse curso aí não vai adiantar nada! Você precisa é de um profissional que saiba te orientar! O que vai adiantar ficar se encontrando com outras pessoas que têm os mesmos problemas que você?

Minha tatuagem começou a coçar. Meu humor começou a se alterar, mas eu precisava continuar tentando convencê-lo a fazer o curso junto comigo.

Fechei os olhos, lembrei que os bons momentos que já havíamos passado juntos ainda superavam esses momentos ruins e continuei.

– Guinho, o curso é dado por um casal que já está casado há 15 anos e tem muita experiência em aconselhamento de casais que estão passando por dificuldades. Eles montaram esse curso há 5 anos e já ajudaram muita gente a voltar a ser feliz com sua família.

– Eles são psicólogos?

– Não.

– Então como é que eu vou confiar no que eles dizem, se nem têm formação para aconselhar outras pessoas, Cris?

– Eu também pensei nisso assim que soube do curso, mas a Carmem me fez refletir com uma pergunta interessante: você confiaria em um pediatra que não tem filhos ou em um endocrinologista obeso?

Hugo ficou alguns segundos pensando. Pela sua expressão, parecia que ia concordar comigo. Depois, respondeu:

– Não, não confiaria. Eu procuraria outro pediatra que tivesse filhos e outro endocrinologista que não fosse obeso. Mas o que isso tem a ver com o seu problema? Basta você ir à terapeuta da minha mãe e tudo vai ser resolvido!

– Ai, Guinho, você insiste em achar que o problema tá só em mim, né? Por que você não olha um pouco pro seu próprio umbigo e percebe que as suas atitudes também contribuem pro nosso casamento estar ruim do jeito que está?

– Ah, Cris, faça-me o favor! Você quer que eu liste todas as coisas erradas que você vem fazendo nos últimos meses pra destruir nosso casamento?

Naquele momento percebi que a conversa ia acabar virando mais uma das inúmeras brigas que vínhamos tendo e achei melhor terminá-la.

– Tudo bem, Hugo, já entendi que você não vai fazer o curso comigo. Vou dormir, boa noite.

Fui para a cama quase arrancando a pele da minha canela, de tanto que minha tatuagem coçava.

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E aí, gostaram do capítulo?

E agora? Será que a Cristiane vai continuar querendo lutar pelo casamento? Ou é melhor se separar logo?

A sua opinião é muito importante pra mim! Deixem seus comentários, por favor. 😁

Novos capítulos toda quarta e sábado!

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Quer ser feliz para sempre? Separe-se! (COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora