Capítulo 10 - Desistir ou persistir?

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Ao chegar em casa, corri para o quarto da Priscila e não a vi na cama. Um sorriso apareceu em meu rosto, pois imaginei que ela estaria dormindo com o Hugo na nossa cama, aconchegadinha no papai.

Fui para o meu quarto e vi só o Hugo. Estava com sono pesado, roncando. Corri pela casa toda e não encontrei a Priscila.

Voltei para o quarto e sacudi o Hugo, perguntando pela minha filha. Ele teve a audácia de me pedir calma e, com a maior cara de pau do mundo, falou que tinha levado a Pri para a casa da minha mãe, porque não estava conseguindo se concentrar no documento que ele tinha que finalizar para o trabalho.

Saí como um furacão pela porta afora e dirigi como um piloto de Fórmula 1 até a casa da minha mãe.

Só quando cheguei lá e percebi a cara de sono dela é que percebi que eu devia ter telefonado antes ou até deixado para resolver isso no dia seguinte.

Senti uma culpa imensa se apoderar do meu coração e várias coisas passaram pela minha cabeça ao mesmo tempo: eu não devia ter entrado nesse curso; não devia ter deixado a Priscila sob a responsabilidade do Hugo; não devia ter pedido para a minha mãe ficar com ela caso o Hugo não pudesse; eu não vou continuar a fazer esse curso!

Foi tanta pressão na minha cabeça, que comecei a chorar ali, na porta da casa da minha mãe. Foi incontrolável.

Minha mãe, receptiva e carinhosa como sempre, deixou seu sono de lado, me abraçou calorosamente, me guiou até o sofá e me fez deitar com a cabeça em seu colo, como sempre fazia em minha época de infância e adolescência quando eu tinha algum problema. Ah, se eu soubesse que aqueles problemas não seriam nada perto dos que eu teria depois que virasse adulta...

Depois de chorar bastante e me sentir mais calma, perguntei por Priscila. Minha mãe disse que ela estava dormindo com meu pai e que eles tinham brincado bastante juntos. Comecei, então, a desabafar.

– Tudo o que eu queria era ter um casamento feliz como o seu, mãe. Vejo você e meu pai sempre tão unidos em tudo que fazem, sempre tão felizes e prontos pra ajudar um ao outro e a todos os que estão à sua volta... Mas não consigo isso com o Hugo! Ele não consegue ajudar nem a própria filha! Só pensa no próprio umbigo e sempre coloca o trabalho em primeiro lugar! E ainda acha que EU é que tenho problemas e tenho que procurar uma terapia! Fiz o favor de começar a fazer esse curso pra procurar uma solução pro nosso casamento, e ele já me provou que não vai conseguir cuidar da Priscila nos dias de curso logo no primeiro dia! Eu desisto! Se eu quiser ser feliz pra sempre, vou ter que me separar mesmo! O nome desse curso tá corretíssimo!

Minha mãe afagou minha cabeça, me olhou com ternura e começou a falar, depois daquela minha enxurrada de palavras.

– Minha querida filha, eu compreendo você estar confusa e sentindo essa raiva toda. Antes de qualquer coisa, quero pedir desculpas por fazer você achar que a vida de casados é sempre um mar de rosas. Eu e seu pai não estamos sempre sorrindo; não estamos sempre dispostos a ajudar o outro. Nós também temos nossas diferenças e até desavenças. Mas nós aprendemos, no decorrer dos anos, a melhor forma de lidar com os problemas. Nós também já pensamos em nos separar por diversas vezes.

– O quê??? – aquela informação me pegou de surpresa.

– A reação mais natural do ser humano é a negação, minha filha. Quando estamos diante de um problema, queremos fugir, pra não precisar mais viver aquela dificuldade. E é por isso que a separação é o que vem logo à cabeça dos casais – como se isso fosse resolver o problema. Mas eu e seu pai descobrimos a tempo que nos separarmos não ia adiantar nada, pois a raiz dos problemas que aconteciam conosco estava dentro de cada um de nós. Se nos separássemos e acabássemos nos relacionando com outras pessoas, os mesmos problemas iriam voltar a acontecer.

– Ah, mas vocês não passaram por nenhum problema parecido com os que eu e Hugo já passamos. No meu caso, só separação mesmo! Como continuar com um homem que dá mais importância ao trabalho do que à família?

– É aí que você se engana, minha filha. Seu pai também já foi desse jeito, já me deixou de lado muitas vezes por causa do trabalho. Mas, aos poucos, com paciência e persistência, fomos nos entendendo e buscando o equilíbrio. A vida a dois não é fácil pra ninguém. São duas pessoas que vêm de famílias diferentes, com valores diferentes, que têm que abrir mão de muita coisa pra conseguir construir os próprios valores – juntos!

É, nisso a minha mãe tinha razão. Os valores da família do Hugo eram muito diferentes dos valores que recebi da minha família. O pai dele ficava fora de casa a semana inteira, trabalhando em outra cidade, e eles só se viam nos fins de semana – mas como o pai estava sempre cansado, ficava o tempo inteiro deitado no sofá vendo televisão e nunca dava muita atenção ao Hugo. Quando Hugo tinha 10 anos, seu pai morreu, então ele nem teve a presença paterna que um menino deveria ter.

Minha mãe continuou:

– Posso te dar um conselho, filha? Vou preparar a cama de hóspedes pra você. Enquanto isso, tome um banho pra relaxar e durma aqui esta noite. Assim você evita brigar com o Hugo em casa e ainda poderá brincar um pouco com a Priscila amanhã de manhã, antes de ir trabalhar. Que tal?

A minha vontade mesmo era levar a Priscila para casa naquele momento, dormindo mesmo, e falar para o Hugo tudo que estava entalado na minha garganta, mas consegui dizer para mim mesma que as mães sempre têm razão – frase que eu sempre odiei quando minha mãe falava para mim, mas que constatei que estava certa depois que virei mãe – e aceitei a proposta.

Apesar de ter demorado a dormir, pensando em tudo que havia acontecido, tive uma noite de sono profundo. Acordei no dia seguinte com um beijinho delicado em meu rosto e o "bom dia, mamãe" mais lindo de todos!

Vi no celular duas ligações perdidas do Hugo, mas não liguei de volta. Ainda estava muito chateada com ele.

Enquanto tomava o café da manhã com a Priscila e minha mãe, lembrei do exercício que Carlos e Amanda passaram no dia anterior e comentei com a minha mãe.

– Eu já teria enchido umas duas páginas só ontem à noite se tivesse que escrever sobre as atitudes negativas do Hugo, mas vai ser difícil conseguir escrever alguma coisa positiva sobre ele! Enfim, nem vou pensar muito nisso, porque acho que não vou continuar no curso.

– Não faça isso, filha... Pelo visto, esse curso vai ser muito útil pra você. O exercício propõe que você escreva as suas atitudes negativas, certo? Acho que você já pode começar...

– Que isso, mãe? Tá jogando contra mim???

– Pelo contrário, filha. Refletir sobre suas posturas negativas vai ajudar você a se conhecer melhor, a saber quais são os seus limites. Consequentemente, vai ajudar no seu relacionamento com o Hugo, você vai ver.

– Não tô convencida disso, mãe. Vou pensar se vou continuar mesmo perdendo meu tempo com esse curso e tendo mais problemas ainda com o Hugo toda terça-feira.

– Bem, eu já dei minha opinião de mãe. Mas você é adulta e deve decidir por si. Se precisar do meu apoio, saiba que estarei aqui pra tudo que você precisar, inclusive pra te acolher em nossa casa se a sua decisão for pela separação.

Minha mãe sempre se mostrava disponível para mim, mesmo. Eu gostava de saber que poderia ter o apoio dela para qualquer coisa, mas me deu um frio na espinha quando a ouvi falando que poderia me acolher caso eu decidisse me separar do Hugo. Voltar para a casa dos meus pais seria um fracasso em minha vida, que eu não estava preparada para enfrentar. O que os outros iriam pensar? Que eu não sou capaz de me sustentar sozinha! Seria a glória para a minha sogra!

Comecei a refletir se a primeira atitude negativa que eu deveria colocar na lista a meu respeito era depender demais da ajuda que minha mãe me dava, em vez de atacar meus problemas sozinha.

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E aí, gostaram do capítulo?

O comportamento do Hugo só piora, hein... E agora, o que Cristiane deve fazer?

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Novos capítulos toda quarta e sábado!
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