Capítulo 26 - Quando a esperança é a única saída

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A fisionomia do médico me parecia de alguém preocupado – o que fez meu coração disparar ainda mais rápido do que já estava.

– Correu tudo bem durante a cirurgia. Conseguimos manter uma parte do baço da Priscila, o que significa que ela poderá ter uma vida normal, já que as funções do órgão continuam sendo feitas adequadamente com o pedaço que ficou. – o médico iniciou.

Senti um pequeno alívio com aquela notícia.

– Ótimo, doutor! Posso ir lá ver minha filha agora? – perguntei, ansiosa.

– Infelizmente não, senhora Cristiane. Quando estávamos terminando a cirurgia, sua filha sofreu uma parada cardiorrespiratória. Fizemos todos os procedimentos necessários, e agora ela está no CTI, ligada a aparelhos respiratórios.

– Eu quero ver minha filha! Ela precisa de mim ao seu lado! – gritei, descontrolada.

– Sra. Cristiane, infelizmente não é possível no momento. Assim que as visitas forem liberadas, avisaremos à senhora. – O médico falou com naturalidade, como se fosse normal uma criança passar por uma cirurgia e, ainda, ter uma parada cardíaca depois.

Aquilo parecia um pesadelo. Minha cabeça começou a girar, mas dessa vez respirei fundo e consegui continuar em pé. Hugo, que estava ao meu lado o tempo todo, tentou me abraçar. Dei um soco em seu peito, com raiva, e saí correndo até a sala onde minha mãe estava.

Naquele dia, pude passar 15 minutos ao lado da minha filha, no CTI. Foi traumático vê-la ali deitada naquela cama enorme de hospital, desacordada, ligada a vários tubos. Fiquei o tempo todo segurando a mãozinha dela e cantando algumas musiquinhas perto do seu ouvido. Quando tive que sair, acariciei seu rosto, dei um beijo delicado em sua testa e falei que ela ficaria boa e logo eu voltaria para buscá-la.

Hugo se ofereceu para dirigir meu carro, para que eu pudesse descansar um pouco. Deixamos minha mãe em casa e fomos, em silêncio, para a nossa casa. Hugo parecia querer falar alguma coisa, mas não abriu a boca. Dirigiu o tempo todo com a testa franzida. Parecia um misto de preocupação, tristeza e culpa.

Chegando em casa, chorei bastante enquanto tomava banho. Eu estava morrendo de medo de perder a minha filha. Depois fui direto para a cama. Ao me deitar, eu ainda ouvia os sons daqueles aparelhos que estavam ligados no corpinho da Pri. E, para ser sincera, eu não queria parar de ouvi-los em minha mente. Assim eu me sentia ligada a ela – e sentia que ela estava viva.

No domingo acordei assustada. Tive uma noite agitada, com sonhos ruins, cheios de brigas entre Hugo e eu, e a Priscila aparecia chorando muito e pedindo para nós pararmos de brigar.

Levantei-me, lavei o rosto e fui até a sala. Hugo estava preparando a mesa para o café da manhã de nós dois. Havia sobre a mesa nossos pratos, nossas xícaras de café, um cesto com pães franceses que pareciam fresquinhos, e um jarro com tulipas – minhas flores preferidas – realçava-se no centro da mesa.

Hugo estava colocando sobre a mesa uma travessa cheia de ovos mexidos no momento em que cheguei. Ele esboçou um sorriso sem graça e me deu bom dia, estendendo sua mão em direção à minha cadeira para eu me sentar.

– Não tô com fome. Vou trocar de roupa pra ir visitar a Priscila. – informei.

Apesar de perceber que Hugo havia se esforçado para me agradar, eu ainda estava com muita raiva dele pela imprudência que teve com a nossa filha. Além disso, eu não conseguia pensar em mais nada além de ir para o hospital ver Priscila e saber notícias sobre seu quadro.

– Coma alguma coisa rapidinho, Cris. Você não pode ficar com o estômago vazio... – Hugo insistiu.

– Quem é você pra dizer o que é bom ou ruim pra mim, Hugo? Você não sabe nem cuidar de uma criança, que dirá de uma adulta como eu!

Quer ser feliz para sempre? Separe-se! (COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora