Capítulo 18 - A grama do vizinho sempre é a mais verde

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Na sexta-feira, dia em que o pessoal do meu trabalho sempre tira para demorar mais no almoço, resolvi sair antes deles, pois queria refletir sobre minha vida enquanto almoçava – sozinha.

Fui para um restaurante a quilo simples e longe do trabalho, para não correr o risco de encontrar ninguém conhecido.

Não havia muita variedade de comida naquele restaurante. Peguei as únicas opções de salada – alface e tomate –, além de arroz, feijão e frango grelhado. Pesei meu prato e fui procurar uma mesa. O restaurante estava cheio, mas encontrei uma mesa para duas pessoas vazia e sentei-me.

O ambiente estava quente e nada convidativo para a reflexão que eu queria fazer sobre minha vida. A vontade era terminar logo de almoçar e sair dali. Mas lá fora estava mais quente ainda e, se eu voltasse para o escritório, me refrescaria no ar condicionado, mas não teria o tempo que eu estava precisando para pensar.

Quando já tinha comido metade do prato, ouvi uma voz grossa.

– Com licença, posso me sentar aqui?

Percebendo que não ia mais conseguir ficar só com meus pensamentos, assenti, sem nem olhar para a pessoa, e me apressei para terminar de almoçar e sair logo dali.

– Desculpe o incômodo, mas você não é a Cristiane? – a pessoa perguntou.

Só então levantei meus olhos, para ver o rosto de quem tinha se sentado à minha frente. Se eu estava sentindo calor por causa do ambiente quente do restaurante, naquele momento comecei a suar de nervoso.

Era o Guilherme, aquele homem lindo que estava fazendo o curso na mesma turma que eu.

– Ah, oi, Guilherme! Desculpa por não ter percebido que era você. Eu tava tão distraída com meus pensamentos...

– Ah, desculpa por ter te interrompido. Se quiser, eu posso procurar outra mesa e te deixar sozinha novamente.

Fiquei confusa naquele momento. Comecei a coçar minha canela, pedindo ajuda à minha fadinha para decidir se eu preferia sair logo dali ou se deveria aproveitar a oportunidade para descobrir mais sobre aquele homem.

– Não, não se preocupe, pode ficar à vontade! Talvez você até possa me ajudar com os meus pensamentos. – arrisquei um início de conversa.

Guilherme fez uma expressão de que não tinha entendido meu comentário. Imediatamente me arrependi por ter falado aquilo, mas já era tarde demais e resolvi continuar.

– Eu tava pensando sobre os exercícios que o Carlos e a Amanda passaram na terça-feira...

– Ah, sim, exercícios difíceis, né? Você já fez algum?

– Sim, consegui desfazer uma mentira que eu tinha contado pro Hugo. A receptividade dele não foi nada boa e acabamos discutindo, mas pelo menos me senti aliviada por ter contado a verdade.

– Entendo...

Senti um acolhimento por parte do Guilherme, como se ele realmente entendesse o que aconteceu entre mim e Hugo. Talvez tivesse acontecido o mesmo entre ele e a esposa.

Fiquei curiosa para saber, mas como ele não falou mais nada e ficou um silêncio constrangedor entre nós, emendei o papo.

– Ainda não consegui espaço pra fazer o segundo exercício. O clima lá em casa não anda muito bom, então acho que não faz muito sentido eu chegar pro Hugo e dizer que tô liberando o acesso dele às minhas redes sociais sem dar uma explicação pra isso. Espero que o clima melhore no fim de semana e eu consiga conversar com ele.

– Entendo...

A minha vontade foi perguntar se ele só sabia falar que me entende, mas fiquei só olhando para aquele rostinho lindo, que parecia estar pedindo colo.

Guilherme deve ter percebido que eu estava esperando que ele falasse algo mais e, após alguns segundos olhando para o prato e remexendo sua comida com o garfo, ele começou.

– Sabe, Cristiane, vou confessar uma coisa: eu tô me sentindo um peixe fora d'água nesse curso. Esses dois exercícios da última aula, por exemplo, foram nulos pra mim, porque eu não minto pra minha esposa e quase não uso redes sociais. O notebook que eu uso em casa nem tem senha, então ela tem acesso a tudo que faço nele, e eu não ligo pra isso. Ela também sabe o código de entrada do meu celular, porque não tenho nada pra esconder dela.

Fiquei impressionada. Não acreditei no que estava ouvindo. Como podia existir um homem daquele jeito?

– Entendo... – Falei aquilo só para ele se sentir acolhido, porque entender, eu não entendia mesmo!

– Já o contrário não acontece. Ela coloca senha no computador e no celular e não me diz qual é. Gasta um tempo colossal nas redes sociais e, quando pergunto o que ela tanto faz nesses momentos, ela sempre diz que tá se divertindo e me pergunta se eu não gosto de vê-la rindo.

– Então, acho que ela devia estar fazendo o curso junto com você, né?

Depois que fiz a pergunta é que me toquei que, de certa forma, ele devia estar passando por situação parecida com a minha: ele deve ter pedido para ela entrar no curso também, mas ela não aceitou.

Guilherme deu um suspiro, demonstrando cansaço, e passou a mão no cabelo. Foi inevitável reparar no seu bíceps definido.

– Sim, eu tentei de várias formas fazer que ela fosse pro curso junto comigo, mas não consegui convencê-la. Então, resolvi me inscrever sozinho mesmo.

– Foi exatamente o que aconteceu comigo... – solidarizei-me com ele.

– Sabe, eu já falei pra ela diversas coisas que o Carlos e a Amanda estão ensinando no curso, mas ela sempre pergunta que experiência que eu tenho pra achar que tô sempre certo. Por ela ser mais velha que eu e ter passado por relacionamentos anteriores, ela se sente mais experiente e não me ouve. E eu acabo acreditando que os valores que tento seguir é que estão errados mesmo.

Fiquei com pena do Guilherme. Na verdade, foi mais do que isso: fiquei com vontade de acolhê-lo em meu colo e afagar aqueles cabelos macios.

– Mas se você já age do jeito que os professores estão ensinando no curso, pra que você continua indo? – Perguntei, enquanto pegava a carteira em minha bolsa.

Senti necessidade de mostrar a ele de maneira sutil que eu precisava ir embora. Eu ainda poderia ficar lá durante uns 20 minutos antes de voltar a trabalhar, mas a minha necessidade era outra: fugir daquela situação, pois eu estava com medo de me apaixonar!

– Ah, eu achava que, mostrando à minha esposa a apostila do curso, escrita por profissionais experientes e há tantos anos nesse meio, ela poderia dar mais atenção às coisas que já falei diversas vezes e ela sempre achou que eram bobagens. – Guilherme respondeu e se levantou, pegando sua comanda do restaurante e fazendo um gesto com a mão para eu ir na sua frente.

Droga, agora eu tinha ficado curiosa para saber mais sobre a vida conjugal do Guilherme. Por que eu tinha que cortar o papo daquele jeito?

Assim que pagamos e saímos do restaurante, Guilherme perguntou se eu costumava almoçar lá todo dia. Respondi que eu só ia lá quando não queria encontrar ninguém conhecido – e logo percebi o furo que dei. Guilherme baixou os olhos, ficou sem graça e me pediu desculpas por ter me incomodado.

Tentei remediar, dizendo que tinha gostado muito de conversar com ele e que poderíamos marcar outro almoço qualquer dia, mas não sei se consegui me corrigir.

Fui para o trabalho refletindo sobre a situaçãodo Guilherme. Como é que a esposa dele não conseguia valorizar aquele homem tãogentil, educado, transparente com ela e, além de tudo, tão lindo? 

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Xiiiii, será que tem uma nova paixão pelo ar???

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Novos capítulos toda quarta e sábado!

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