Capítulo 24 - Uma nova tentativa

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Somente quando acordei na quarta-feira é que me lembrei de ligar meu celular novamente. Eu tinha saído do curso tão cansada, que só pensava em buscar logo a Priscila e ir para casa dormir com ela.

Vi que o Hugo tinha respondido à minha mensagem aceitando almoçar comigo – e sugeriu aquele restaurante onde o vi almoçando com outra mulher na segunda-feira.

Imediatamente perdi a vontade de encontrar com ele. No entanto, respirei fundo, lembrei-me da fatalidade do caso dos noivos do curso e decidi que eu não podia mais adiar ter uma conversa com o Hugo, ainda que fosse a última.

Aceitei ir almoçar no restaurante que ele sugeriu. Assim eu já poderia começar o papo falando que o vi lá dentro dois dias antes, para ver como ele iria reagir.

Ao encontrar com ele no local marcado, senti algo estranho. Não sabia se devia beijá-lo na boca, na bochecha ou não dar beijo nenhum. Ele também se atrapalhou. Deu um sorriso sem graça quando me aproximei e se inclinou levemente para me dar um beijo – que acabou acertando a minha bochecha, mas pegou também o cantinho da minha boca.

Naquele momento, senti que ainda havia algum sentimento entre nós. A minha vontade era beijá-lo intensamente, mas ainda era cedo demais para isso. Eu não podia me entregar à emoção tão facilmente.

Hugo colocou a mão nas minhas costas, me guiando até o buffet. Fizemos nossos pratos em silêncio e, após passar pela balança, ele andou até uma mesa – a mesma onde eu o tinha visto com a outra mulher!

Enquanto sentávamos, perguntei:

– Você sempre senta nessa mesa quando vem aqui? – Preferi tentar descobrir sobre a outra mulher de forma mais sutil.

Hugo fez expressão de estranhamento. Levantou os olhos para a esquerda, como quem tenta resgatar alguma memória visual. Depois de alguns segundos, respondeu:

– É, acho que, na maioria das vezes que venho aqui, sento nessa mesa mesmo, talvez por ser mais perto da balança. Mas como você sabe disso?

– Eu te vi aqui anteontem. – respondi, observando bem a reação de Hugo, para ver se ele ficaria nervoso, já que estava com outra mulher.

– E por que não veio almoçar comigo? – ele respondeu sem nem pensar.

– Porque eu não queria atrapalhar a conversa animada que você estava tendo!

Hugo pareceu se espantar e, em seguida, deve ter lembrado que não estava sozinho naquele dia.

– Bom, se você acha que contar pra outra pessoa que você está envergonhado e arrependido é animado...

Envergonhado? Arrependido? Isso era novidade para mim. Eu não imaginava mesmo que Hugo estivesse arrependido de sair de casa. Gostei de saber daquilo, mas não dei o braço a torcer. Continuei avançando em meu objetivo.

– E você estava buscando o ombro de outra mulher pra chorar pelo seu arrependimento?

A expressão do Hugo mudou. Sua testa franziu e ele olhou bem nos meus olhos.

– Por favor, deixa disso, Cris... Você não tem motivo algum pra ter ciúmes da Beatriz.

– Beatriz? Eu nem conheço nenhuma Beatriz!

– Como não conhece, Cris? Aquela que trabalha na mesma gerência que eu, e nós almoçamos juntos de vez em quando. Eu já te falei dela algumas vezes.

– E você acha que eu vou ficar gravando nome de outras mulheres que almoçam com você, Guinho?

Senti meu rosto esquentar e meus olhos se encherem de lágrimas. Aquele era um assunto que me enchia de ciúmes. Eu me lembrava do nome dessa colega de trabalho dele sim, mas nunca a tinha visto. Agora que eu sabia que era com aquela mulher exuberante que ele saía para almoçar de vez em quando, fiquei morrendo de ciúmes! Continuei a falar, com a voz trêmula.

– Além disso, nunca nenhum colega de trabalho meu ficou me tocando o tempo todo e, ainda por cima, colocando a mão por cima da minha! – Nesse momento não consegui me segurar, e algumas lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos.

Hugo passou sua mão em meu rosto, secando minhas lágrimas carinhosamente.

– Cris, eu não sei se você ficou me olhando durante o almoço inteiro, mas, se ficou, você deve ter percebido que eu tirei a minha mão de baixo da mão dela assim que ela fez isso. A Beatriz tem essa mania de ficar tocando nas pessoas enquanto conversa, mas é com todo mundo, não é só comigo. Por favor, vamos deixar a Beatriz de lado pelo menos agora? Eu gostaria muito de conversar com você sobre nós dois.

Eu ainda estava bastante chateada. Mesmo se fosse verdade que o Hugo tirou a mão dele naquele momento em que saí correndo do restaurante, a tal Beatriz só fez aquilo porque, de alguma forma, ela se sentiu à vontade para tocar nele. Se ele tivesse cortado esse comportamento dela desde a primeira vez, ela não faria mais isso com ele.

Mas resolvi deixar aquele assunto encostado, pelo menos naquele momento. Nós realmente precisávamos conversar sobre nós dois.

Hugo me contou que estava dormindo em um hotel baratinho no Centro da Cidade e que, naqueles poucos dias em que ficou sozinho, conseguiu refletir sobre alguns erros que ele próprio também estava cometendo em nosso casamento. Prometeu que ia mudar e me pediu mais uma chance.

Não resisti. Acabei permitindo que Hugo voltasse para casa, mas com a condição de que ainda iríamos conversar sobre quais seriam as mudanças que cada um de nós teria que se comprometer a fazer para melhorar nosso casamento.

Tivemos essa conversa na sexta-feira à noite. Até lá, Hugo dormiu na sala, pois eu não queria ter nenhum contato íntimo com ele antes de travarmos esse compromisso um com o outro. Contei para o Hugo tudo que eu tinha aprendido no curso sobre diálogo, naquela semana, e falei que a condição para continuarmos juntos seria que ele passasse a fazer o curso comigo.

Ele demorou alguns segundos para responder. Eu poderia imaginar que ele estivesse inventando alguma desculpa, mas senti que, na verdade, ele estava refletindo sobre o que falei.

– Cris, eu adorei tudo que você me contou agora. Realmente, as dicas que eles deram sobre como dialogar melhor são ótimas, e reconheço que nós dois temos que melhorar muito o diálogo aqui em casa. Porém, esses dias eu também refleti sobre outro assunto: o meu relacionamento com a Priscila. Eu tenho sido um pai ausente, não tenho brincado com ela, pelo contrário, tenho brigado demais com a nossa filha. Então, eu imaginei que o fato de eu poder ficar sozinho com a Priscila nesses momentos em que você está no curso é uma ótima oportunidade pra nós dois nos aproximarmos, pra ela começar a me ver como um pai que também brinca e se preocupa com ela, e não só um papai brigão.

Hugo me emocionou com aquele discurso. Eu não imaginava que ele tinha refletido até sobre isso! É claro que concordei com ele, afinal, não há desejo maior para uma mulher do que ver seu marido se empenhando em ser um bom pai para sua filha.

Combinamos, então, que eu continuaria frequentando o curso sozinha, mas o Hugo iria se comprometer a ouvir tudo que eu repassaria para ele e, principalmente, faria todos os exercícios junto comigo.

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Humm, quanto tempo deve durar a boa vontade do Hugo? O que você acha?

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Novos capítulos toda quarta e sábado!

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