Capítulo quarenta e dois

3.1K 200 7
                                    

Quando cheguei à escola na quarta-feira de manhã, fui direito para o pátio a procura de um cartaz do baile, e anotei a data na última folha rabiscada do meu caderno. Corri para sala, as duas primeiras aulas eram do Bortolotto e ele aplicaria a tal prova. Me sentei no meu novo lugar e assim que ele entrou, avisou que daria uma prova de recuperação para quem havia tirado nota baixa. Metade da sala quis fazer, e eu achei até gentil da parte dele ter me avisado com antecedência.

— Por que mudou de lugar, Srta. Villar? Não está pensando em colar, está? – Ele perguntou ao me entregar a prova, me fazendo arrepender-me dos pensamentos bondosos que havia tido sobre ele alguns segundos antes.

— Não, senhor. – Respondi rapidamente. Só faltava ele dizer a minha mãe que eu estava tentando colar.

— Parece que as caipiras se desentenderam, Sr. Bortolotto. – Disse Marion irônica.

— Hum. Em todo caso a senhorita irá fazer a prova de frente para a minha mesa. – Ele disse ao continuar entregando as provas. Não sei se tinha vontade de dar um soco em Marion ou agradecê-la, pelo menos eu não ficaria de castigo pelo resto da minha vida. Penso que dizer a Marion que ela havia me causado algum bem, seria muito pior do que arrancar todos aqueles cabelos ruivos com as mãos. Arrastei a carteira para frente da mesa de Bortolotto e me sentei olhando a prova. Havia apenas uma questão e várias linhas, da qual pedia para fazer um resumo de quarenta linhas de todo o capítulo do livro estudado no último bimestre. Como é mesmo que se diz quando só um milagre pode te salvar no momento? Estava ferrada!

— Além de mentirosa, agora é trapaceira, Villar? – Disse Marion seguida de um assovio e várias risadas abafadas de toda a sala. Tentei ignorá-los. Eu nunca entendi por que havia caído em uma sala formada por um bando de idiotas com mestrado em falsidade. Fiquei algum tempo olhando para a prova em branco sem saber por onde começar. Não poderia olhar para os lados e muito menos para frente, ou teria que encarar Bortolotto monitorando cada um dos meus movimentos. Tentei escrever tudo que me lembrava, aumentando a letra ao máximo para atingir as quarenta linhas, conseguindo com muito esforço. Eu não sabia se o que eu havia escrito tinha nexo, mas havia usado cada segundo disponível das duas aulas, rezando para que estivesse certo. A aula de artes passou tranquila como todas as outras, mas essa tranquilidade durou apenas até a hora em que a professora de biologia nos chamou até o laboratório. Sempre me sentava com Júlia, e acho que não havia mais mesas disponíveis. Cutuquei Guilherme ao sair pela porta, e ele olhou confuso.

— Já tem dupla para a aula de biologia? – Não me lembrava de tê-lo visto com ninguém, na verdade não me lembrava de tê-lo visto na aula.

— Não. – Ele respondeu.

— Posso me sentar com você?

— Pode.

— Obrigada. – Dei um meio sorriso para ele agradecida. O segui até o laboratório e nos sentamos em uma mesa ao fundo. Observei pelo canto dos olhos Júlia se sentar bem mais à frente na nossa antiga mesa, e tentei afastar os pensamentos rapidamente. Por que eu ainda sentia saudades de alguém que mal se importava comigo? A professora chegou à sala pedindo para pegarmos os materiais que estava em cima da mesa, pois iríamos extrair o DNA da cebola. Ela havia colocado todo o procedimento em uma folha e distribuiu entre as duplas. Comecei a descascar a cebola enquanto Guilherme lia as instruções. Entre risadas silenciosas, estávamos quase terminando a nossa experiência. Poderia até dizer que Guilherme era uma boa companhia, apesar de não termos dito muitas palavras um para o outro. Estava colocando o álcool enquanto ele segurava o becker quando derrubei um pouco na sua mão.

— Desculpa. – Eu disse. – Sou um desastre.

— Sem problemas. – Ele disse sorrindo. Olhei para Marion que estava rindo alto um pouco a nossa frente, e voltei à concentração para a mistura, tentando ignorá-la.

Diário de uma fãOnde histórias criam vida. Descubra agora