Capítulo oitenta e três

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Chovia forte, e eu caminhava em direção a algum lugar desconhecido. Meu vestido rosa estava encharcado e eu não conseguia enxergar direito. A onde estava? Continuei andando, até ouvir uma voz há alguns metros dali. Alguém estava cantando, e por mais que estivesse distante, meu coração reconheceu ser a voz mais linda que meus ouvidos já puderam ouvir, aquela que tocava no fundo do meu coração, a voz de Shawn. Comecei a andar mais rápido tentando segui-la, tentando saber de que direção ela vinha, pois, a única coisa que queria era poder chegar até lá. Até que eu finalmente o encontrei. Shawn estava no que parecia ser uma clareira, sentado na grama e com o violão no colo, tão lindamente concentrado que chegava a me tirar o ar. Ele estava vestido todo de branco, mas o que chamava a atenção era que tudo a sua volta estava seco e iluminado, como se o sol brilhasse apenas para ele. Eu tentei chegar mais perto, mas não conseguia me mover, era como se correntes invisíveis estivessem prendendo os meus pés, me impedindo de me aproximar. Por mais que tentasse eu não conseguia sair dali, não conseguia chegar até ele. Eu gritava tentando chamar a sua atenção, mas ele não me ouvia, ele continua cantando maravilhosamente, me deixando entorpecida. Sem que ao menos pudesse perceber, me sentei no chão, ainda sentindo a chuva forte sobre mim, e fiquei admirando-o, como se fosse a única coisa que eu precisava fazer na vida, como se nada mais tivesse importância, enquanto eu estivesse ali, olhando meu anjo cantar.

Acordei assustada, tinha a impressão de que havia caído da cama, mas continuava no mesmo lugar. As imagens do sonho passavam pela minha mente se misturando a realidade, confundindo ainda mais a minha cabeça. Tudo estava tão confuso e nebuloso quanto aquela chuva, e eu tinha medo de que aquele fosse o destino que eu havia escolhido para mim.

Ouvi a porta do meu quarto se abrir, e me sentei na cama, sentindo os raios solares incomodarem os meus olhos. Júlia se sentou à minha frente, me olhando receosa.

— Você está bem? — Perguntei.

— Estou, só um pouco estranha.

— Isso se chama ressaca.

— Eu dei muito trabalho? – Ela perguntou fazendo uma careta.

— Não, tudo bem. Foi uma ótima noite.

— Foi sim, o show foi lindo.

— E por que você bebeu? – Questionei.

— Não sei, eu apenas quis. – Ela disse, e eu sabia que estava me escondendo alguma coisa, mas resolvi não insistir. – Mas acho que não farei isso nunca mais, pelo menos não nessa vida. – E então nós duas rimos.

— Minha mãe já acordou?

— Acordou, já é bem tarde Luiza, nós que dormimos demais. – Olhei no relógio da parede me assustando, era quase três horas.

— O Fred e a Chris chegaram?

— Ainda não. Eu vou para casa, minha mãe deve estar surtando, mais tarde eu volto.

— Tudo bem, até mais. – Ela balançou a cabeça e saiu do quarto.

Levantei e fui cambaleando até o banheiro, aquele era meu último dia no Canadá, havia muitas coisas que eu ainda queria fazer. Minha mãe fez várias perguntas sobre onde havíamos ido e que hora tínhamos chegado, mas no fim pareceu aceitar as minhas explicações. É claro que ela poderia desconfiar que tivéssemos chegado tarde, mas nunca imaginaria o quão longe eu havia ido. Eu me sentia mal em ter que mentir, mas não queria deixá-la preocupada. Prometi que um dia contaria a ela todas aquelas minhas aventuras atrás de Shawn, mas eu sentia que por mais que já estivesse casada e com filhos, ela ainda me deixaria de castigo.

Diário de uma fãOnde histórias criam vida. Descubra agora