Capítulo setenta e cinco

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Os dias foram passando lentamente e junto com eles vieram as semanas. Parecia que quanto mais tempo passava, mais a minha decisão se tornava sufocante e difícil de manter. Frederico e Júlia também haviam se inscrito no teste de admissão. Ele decidira fazer odontologia e ela iria para onde ele fosse. Todo fim de tarde Guilherme ia até a minha casa ajudá-lo a estudar, e apesar de eu ter desistido de fazer a prova eu me sentava com eles à mesa para tentar me distrair. Eu me esforçava ao máximo para tentar ocupar minha cabeça e impedir que meus pensamentos vagassem até Shawn, mas era em vão, ele não saía da minha mente um só minuto, e eu podia ver seu rosto até mesmo nas equações de matemática.

Ele me ligou assim que saiu do hospital, e voltou a ligar algumas outras vezes. Dizia que há muito tempo não ficava tanto em casa e já estava começando a ficar entediado, pois como era acostumado a dormir tarde, estava passando as noites em claro sem fazer nada. Mas o que eu mais admirava em Shawn, era que apesar de tudo, ele estava sempre otimista, dizia que estava se recuperando, que logo voltaria aos palcos e estava aproveitando aquele tempo para compor novas músicas. Eu não havia dito nada para ele sobre o intercambio, estava tentando achar o momento certo. Ele dizia que eu estava estranha, mas acho que você fica estranha quando está tentando deixar o amor da sua vida. A cada dia que passava era uma batalha diferente contra a dor que meu coração sentia em deixá-lo, e eu achava que nunca me acostumaria com ela.

Minha mãe estava me ajudando com os preparativos para viagem, que seria logo no começo do ano. Como os estudos na França eram diferentes, eu teria um longo ano letivo pela frente. Estava pensando em prorrogar a minha estadia por lá e terminar a faculdade. É claro que não havia cogitado essa possibilidade com a minha mãe ou ela enlouqueceria, mas uma vez fora do país, tudo seria mais fácil. O mais difícil era saber que quando voltasse, dali há cinco ou seis anos, tudo estaria diferente, e provavelmente eu seria apenas uma vaga lembrança na memória de Shawn.

Eu já sabia o nome e o endereço da família que me receberia em Provença, e estava tentando entrar em contato para ir conhecendo-os, e até havia entrado num curso rápido de Francês. Algumas semanas após ter saído do hospital, Shawn deu sua primeira entrevista. Ele me ligou pedindo desculpas, pois não conseguiu evitar as perguntas sobre mim. Eu disse para ele não se preocupar comigo, e ele me garantiu que logo eles iriam esquecer e nos deixar em paz.

O programa foi ao ar num sábado à tarde e eu resolvi assistir. A entrevista foi rápida, a apresentadora foi até a casa de Shawn, fez várias perguntas sobre como ele estava e o que havia acontecido. Ele disse que estava bem, que andava compondo bastante, e que sobre o acidente não lembrava de quase nada. E quando ela perguntou sobre mim, pude ver ele ficar tenso. Ele apenas respondeu que éramos grandes amigos e estávamos nos conhecendo melhor, mas que não estava namorando. Desmentiu a história da gravidez e quando ela perguntou se ele pretendia namorar, ele respondeu que o futuro só a Deus pertencia e deu risada. Aquilo me deixou confusa e perturbada. A entrevista terminou com ele tocando uma das suas músicas, e apesar de tudo, vê-lo havia sido maravilhoso, e eu percebi que não importava a distância que eu ficasse dele, a cada segundo que passasse eu estaria cada vez mais apaixonada.

No domingo de manhã Frederico me acordou aos gritos.

— O que foi? – Perguntei assustada, me sentando na cama enquanto ele abria a janela.

— Você já está atrasada.

— Atrasada para que?

— Esqueceu que dia é hoje?

— Hoje é domingo Fred, não tem aula.

— Não, mas hoje é o teste de admissão.

— Esqueceu que eu não vou mais fazer?

Diário de uma fãOnde histórias criam vida. Descubra agora