Capítulo 3 - Tio

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Meus olhos estavam fixos no teto branco. Estava acordada há uns dez minutos, mas sem coragem de levantar da cama. As lágrimas secaram, deixando um rastro de tristeza. Estava com medo do que o futuro me reservava. Minha fé? Ah, eu não fazia ideia de onde ela havia se metido. Por mais que algo dentro de mim quisesse, não conseguia orar. Tentava formular palavras, porém não saía som da minha boca, meus lábios não se moviam.

Enquanto isso, meu coração e minha mente encarregavam-se de cuidar das emoções mais complexas. Não sabia ao certo o que sentia. Era um misto de medo, dor, tristeza, desesperança. Por mais que soubesse haver, não conseguia enxergar os motivos para continuar.

Estava presa num túnel escuro e diferente do que se dizia por aí, não via uma luz no final daquele breu. Não conseguia sentir Deus e isso me amedrontava. Onde Ele estava? Eu precisava Dele, precisava sentir a sua presença e tudo o que eu tinha era um vazio gigantesco.

Olhei o relógio do lado da cama, o qual não havia percebido na noite anterior, era quase meio dia. Estava em uma casa que não era minha, não podia ficar o dia inteiro dormindo, por mais que esse fosse o meu desejo.

Sentei-me na cama e me encolhi até abraçar minhas pernas e escorar a cabeça nos joelhos. Podia ouvir o som de buzinas, música, pessoas lá fora. Pessoas que não faziam ideia da penumbra que pairava sobre mim. Lenta e gradativamente, sentia como se estivesse caindo num poço fundo, um poço vazio, frio e escuro.

Relutante, levantei-me da cama. Queria disfarçar minhas emoções, entretanto ao me olhar no espelho, vi que isso seria uma missão impossível. Escovei meus dentes com uma escova nova que achei na gaveta da pia, lavei meu rosto e penteei meus cabelos. Vesti a mesma roupa de ontem, eu não tinha outra. Arrumei a cama e dobrei o pijama da minha madrasta estranhamente gentil.

Saí do quarto e fui até a sala, na cozinha também não tinha ninguém. Deduzi que estivessem trabalhando ou algo do gênero. Para falar a verdade, não fazia ideia do que fazer. Sentei-me no imenso sofá branco e encarei tudo a minha volta. Um apartamento luxuoso e grande, ainda assim, nunca chegaria aos pés da minha velha casa de madeira e da felicidade que tive durante o tempo que lá vivi.

Teria que me habituar a uma nova rotina, uma nova casa, uma nova escola e a novas pessoas para conviver ao meu lado diariamente. Não podia chamá-los de família, acho que esse conceito nunca seria aplicado a mim e Felipe Beaumont.

Anelise me pareceu simpática e muito hospitaleira, mas talvez isso fosse apenas no início, apenas enquanto estivesse de luto. Depois disso, ela iria se tornar a madrasta má de todos os contos de fadas da Disney. Sinceramente, lá no fundo, eu queria que ela fosse exatamente como estava sendo: gentil e amável.

Saí de meus devaneios quando a porta se abriu. Anelise estava acompanhada de um homem. Ele era alto, tinha os cabelos na altura dos ombros e seus olhos eram parecidos com os de Felipe. Seriam parentes?

— Bom dia, Genevieve. — Ela sorriu. — Dormiu bem?

— Bom dia. Sim, obrigada. — Forcei um sorriso.

— Então, você é a famosa Genevieve! Lise não parou de falar de você desde que eu cheguei. — O homem sorriu simpático. — Sou Mattew, seu tio.

— Tio? — Não consegui esconder o espanto.

— O irmão mais novo, mais simpático e mais bonito do Felipe. — Ele riu. — Já vi que você puxou a minha beleza.

— Obrigada. — Sorri encabulada.

— Ah... Eu sinto muito pela sua avó. — Ele engoliu em seco.

— Eu também. — Abaixei o olhar.

— Lena vai adorar conhecer você. — Mattew tentou aliviar a atmosfera de tristeza que pairou, após mencionar vovó.

De Pai Para FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora