Acordei com os olhos pesados. Juntei todas as forças para mantê-los abertos. Sentia minha cabeça doer. Estava um pouco escuro. A pequena lâmpada que iluminava o lugar era fraca demais. Estava presa num quarto, ao menos era o que me parecia ser.
Havia uma cama com lençóis empoeirados, uma cômoda velha e uma janela trancada por três tábuas pregadas na parede. Eu não seria louca de tentar abrir a porta, sabia que Pierre estaria atrás dela. Pronto para me atormentar.
Meus olhos marejaram. Mentalmente, clamei a Deus. Lembrei-me do que aconteceu. De Jughead. Será que meu amigo estava bem? E meus pais? Meus tios? Todos deveriam estar preocupados comigo.
Não sei quantos minutos se passaram até a porta abrir e Pierre Lamartine entrar. Confesso que ele me dava medo.
— Como vai, Gen? — Tinha um sorriso macabro em seu rosto.
Pierre abaixou-se ao meu lado.
— Apesar de estar num lugar que eu não sei onde fica, com um possível psicopata, eu estou bem, graças a Deus.
Apesar da resposta ousada, minha voz estava impregnada de pavor.
— Não nega carregar o sangue de Felipe Beaumont. — Pierre falou o nome de meu pai com nojo. — A culpa é sua, Genevieve. É sua e do Felipe. Vocês tiraram a Diane de mim. Nós seríamos felizes se você não tivesse nascido, sua assassina. — Ele gritou e deu um tapa forte eu meu rosto.
Não consegui evitar as lágrimas, o medo. Eu queria meu pai, a Lise.
— Eu não tenho culpa de nada. — Sussurrei sentindo meu rosto arder.
— Ah, você tem. Mas o seu pai tem mais culpa. Eu vou acabar com você e Felipe não vai suportar viver sem a filha e vai acabar se matando. — Ele gargalhou.
— Você é doente. — Murmurei sem coragem de encará-lo.
— Eu liguei para o seu pai, Gen. Ele e seus amigos estão preocupados. — Pierre acariciou meu rosto. Senti nojo. — Ele quis me dar todo o dinheiro dele, quis ficar no seu lugar... mas eu sei que só você é capaz de provocar o sofrimento de verdade nele. E eu vou cuidar disso.
Pierre lavantou-se e saiu. Desabei. Chorei lágrimas grossas. Estava com muito medo. Não sabia o que fazer ou para onde ir.
Não havia nada naquele quarto que pudesse usar para bater na cabeça de Pierre e fugir. Mesmo se tivesse, com certeza haviam mais homens junto com ele.
Aproximei-me da janela e chequei as três tábuas. Estava noite, não enxergava nada pelas frestas. Poderia tentar tirar as tábuas dali, o problema era força e o barulho que seria feito.
A porta abriu novamente. Um dos homens que estava com Pierre quando fui atingida largou um prato com sopa, uma colher e garrafa de água e saiu logo em seguida.
Não comeria aquela comida. Pierre era maluco e poderia muito bem tê-la envenenado, tal como a água.
Fiquei no chão, aguardando, pedindo socorro aos Céus. Minha situação era crítica, não sabia o que esperar e não tiha o que fazer.
Não fazia ideia de quanta horas passaram. Já devia ser madrugada. Fiquei alerta quando ouvi um barulho do lado de fora. Será que era meu pai?
Sorrateiramente, coloquei-me de pé e fui até a janela, olhar pelas frestas. Os faróis de um carro permitiam-me enxergar cinco homens. Um deles era Pierre.
Respirei fundo quando quatro dos homens entraram no carro e sumiram do meu campo de visão. Pierre também sumiu, entrou na casa, possivelmente.
Se fosse esperta o suficiente, talvez conseguisse fugir dali.
— Me ajuda Jesus. — Sussurrei comigo mesma.
Aguardei pacientemente até a porta abrir. Observei a figura de Pierre a minha frente. Na porta, estava a chave, para o lado de fora. Precisava ser rápida.
— Genevieve, pensei que estivesse dormindo. — Ele se aproximava de mim. — Agora, finalmente vamos nos divertir, princesa. — Sua mão tocou meu rosto.
Abaixei o olhar e notei a arma na cintura dele. Eu deveria correr, mas estava com medo. Eu queria meu pai naquele momento.
A distância até a porta não era tão longa. Só precisava ser o que eu nunca fui: rápida.
Num momento de coragem, empurrei Pierre e corri para fora do quarto. Tranquei a porta com as mãos trêmulas. Usei toda a força que tinha para barrar a porta com uma mesinha.
Ouvi os gritos do Lamartina e me arrepiava todas as vezes que sua voz tinia em meus ouvidos. Sobre um sofá empoeirado notei um celular. Peguei o aparelho e saí do que descobri ser um barraco de madeira no meio da floresta.
O celular tinha dez por cento de bateria. Corri até o mais longe daquele barraco e me escondi entre as árvores. O único número que me veio à mente foi o de Lise.
— Lise?
— Gen? É você filha? Você está bem? — Ela soluçava.
— Eu tenho pouca bateria. Consegui fugir do Pierre. Estou no meio da floresga. Tem uma estrada e um barraco velho. — Deixei as muitas lágrimas rolarem. — Vem me buscar. Por favor.
— Nós vamos. Fica calma e se esconde, filha. Nós vamos te achar, certo? Eu te amo, filha.
— Eu também te amo... mãe.
Encerrei a chamada e apertei o celular contra meu peito ao ouvir o som de passos. Encolhi-me ao máximo e tentei sequer respirar.
— Genevieve... — Ouvia a voz de Pierre um pouco longe ainda. — Felipe não te deu educação, sua vadiazinha. — O grito ecoou pela mata. — Eu vou acabar com você.
Não tive escolha a não ser correr quando o celular tocou, provavelmente era Lise tentando ligar. Larguei o aparelho e disparei.
Corria entre as árvores e podia ouvir Pierre cada vez mais perto. Eu não fazia o tipo que tinha resistência física. Minhas pernas já estavam protestando, assim como meus pulmões clamando por ar. Quase caí quando ouvi um disparo.
Continuei correndo até conseguir me esconder novamente. Abaixei-me e aguardei Pierre passar por mim. Ele seguiu a minha procura. Suspirei aliviada quando me certifiquei de que ele estava longe. Ao menos era o que eu imaginava.
Iniciei uma caminhada silenciosa, tentando me guiar pela luz da lua, já que não tinha mais o celular. Procurava manter a calma. Precisava raciocinar e tentar sair do meio da mata.
— Pernas continuem funcionando. — Sussurrei comigo mesma.
Estava exausta, com sede e com vontade de ir ao banheiro. Entretanto, nada disso sobressaía a vontade que eu tinha de encontrar meus pais e abraçá-los. Apesar das circunstâncias em que me encontrava, eu nunca esqueceria do dia em que, pela primeira vez, chamei alguém de mãe.
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De Pai Para Filha
Teen FictionFelipe Beaumont era o tipo de homem que procurava fugir de encrencas, mesmo que não fizesse isso com muito êxito. Tornou-se pai no auge dos seus vinte anos, no entanto após a morte de sua amada decidiu que a filha deveria ficar aos cuidados da avó m...