Era sábado e faltavam alguns minutos para o culto começar. Lise me levaria até a igreja. A semana passou rápido. Nada de novo. Felipe mal falou comigo. Quando saía para a aula, ele já estava no restaurante. Passei a almoçar no apartamento, então não o via meio dia. À noite, ele só retornava quando eu já estava dormindo. Ao longo daquela semana nos tornamos ainda mais estranhos um ao outro. Os anos luz de distância entre nós só aumentaram.
Mas ocorreram coisas boas. Como por exemplo: Darla, Jughead, Theo e eu passamos a formar um quarteto na escola. Por sermos cristãos, estávamos sempre juntos. Eles me ajudaram bastante à medida que os dias passavam e meu pai não falava comigo.
Não só eles. Aos poucos, estava reconectando-me com o céu. Não era uma tarefa fácil. Até porque, quando parecia que uma reconexão seria estabelecida, as lembranças vinham à mente e eu chorava. Porém, Ele sempre me escrevia. Recebi suas cartas de segunda à sexta. Era inusitado e maluco. Não queria contar para ninguém, achariam que eu pirei. De certa forma, as cartas eram algo muito pessoal. Tratavam-se das respostas aos meus sentimentos e às minhas confusões internas. Poderia sim estar perdendo minha sanidade ao estar recebendo cartas de Deus, mas aquelas cartas eram a única coisa que não permitiam que eu fosse diretamente para o fundo do poço, o que me mataria aos poucos, numa provável depressão.
Além da carta que recebi na segunda, recebi mais quatro cartas. Ainda não tinha recebido nenhuma naquele sábado.
Terça-feira:
"Querida filha,
Não se preocupe. Estou fazendo história na sua história."Quarta-feira:
"Querida filha,
Não cabe a você entender o modo como ajo. Por mais que seus olhos não contemplem ou seu coração não sinta, estou trabalhando."Quinta-feira:
"Querida filha,
Você é mais forte do que imagina. Esqueceu que fui Eu quem te criou? Conheço os teus limites. Sei que você aguenta."Sexta-feira:
"Querida filha,
Sei que está difícil pra você. Porém, continue. Continue tentando. Vá em frente. Eu nunca solto sua mão."— Já quer ir, Gen?
— Vamos. — Assenti.
Eu não tinha mais uma Bíblia, a minha queimou no incêndio. Lise e Felipe também não tinham. Mesmo assim, estava ansiosa. Eu ansiava entrar na igreja. Eu queria sentir Deus. As cartas que vinha recebendo do Senhor me deixavam feliz, faziam-me chorar. No entanto, desde que vim para Nova Orleans, desde que fui golpeada pela morte de vovó, não tinha mais sido invadida pela presença de Deus. Eu sentia Ele por poucos instantes, não conseguia manter a chama viva e eu desejava isso. Desejava manter a presença de Deus ardendo em meu coração. Lembrava-me que, quando ainda tinha essa presença, não importava o que estivesse passando, eu abria um sorriso e dizia: Senhor, eu confio em Ti. Sentia saudades dessa confiança.
O caminho até a igreja durou alguns longos minutos. Lise disse para eu ligar quando o culto terminasse. Jughead se ofereceu para me buscar junto com Darla, mas Lise achou melhor ela me levar. Nem ela ou Felipe se impuseram quando eu pedi para ir à igreja. Minha madrasta ficou feliz. Felipe... eu não saberia dizer. Quando pensava que o conhecia, apareciam mais incógnitas.
Entrei na igreja. O porteiro me cumprimentou com um sorriso no rosto. O culto já havia começado. Darla e Jughead estavam sentados mais a frente, com alguém que deduzi serem seus pais. Não quis chamar atenção, então me sentei no último banco.
Um grupo estava cantando. Naquele instante, senti falta de estar em cima do púlpito, com o meu violão, adorando a Deus. Não contive as lágrimas diante daquele momento nostálgico. A igreja estava lotada. Senti saudade dos meus irmãos em Cristo, saudade da comunhão que tinha com o Senhor.
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De Pai Para Filha
Teen FictionFelipe Beaumont era o tipo de homem que procurava fugir de encrencas, mesmo que não fizesse isso com muito êxito. Tornou-se pai no auge dos seus vinte anos, no entanto após a morte de sua amada decidiu que a filha deveria ficar aos cuidados da avó m...