Eu não tinha palavras para expressar minha gratidão a Deus, diante do que ouvi naquele culto, da presença abundante que senti. Foi mágico. Foi lindo.
Quando Felipe foi me buscar, indagou o porquê de tanta felicidade. Minha resposta foi clara e objetiva: eu senti Deus.
Havíamos acabado de chegar no apartamento. Estávamos jantando. Lise fez frango assado com vagens, batatas e um molho que eu não sabia dizer o nome. Foi a comida mais "normal" que ela preparou desde que eu cheguei em Nova Orleans, achava eu.
— O que iria nos dizer hoje? — Lise perguntou.
— Ah... — Suspirei pesadamente.
As alegrias que tive durante aquele dia foram exorbitantes. Grandes o suficiente para ofuscar a curiosidade com relação ao homem que apareceu no dia anterior.
— Está tudo bem, Gen? — Podia ver a preocupação estampada nos olhos de Felipe.
— Ontem, no casamento, quando eu fui no banheiro retocar a maquiagem, apareceu um homem. — Expliquei cautelosamente.
— Que homem? Ele fez alguma coisa pra você?
Felipe, definitivamente, estava preocupado. Apesar de poder ser uma situação séria, até porque, eu não conhecia aquele homem, estava feliz por saber que meu pai estava preocupado comigo.
— Eu não sei. Ele tinha mais ou menos a sua altura, olhos claros e parecia ter a sua idade. Ele sabia meu nome. Disse que ligou pra você há uns dois meses para sondar o território. Ele também falou que eu era mais bonita do que a minha mãe e que nos veríamos novamente. Eu não falei nada ontem porque não queria estragar a festa.
— Por Deus, Gen! — Lise colocou as mãos no rosto em sinal de espanto. — Deveria ter ido falar comigo ou com o seu pai. E se esse homem tivesse feito algo com você? Como acha que eu me sentiria?
— Eu estou bem.
Felipe parecia pensativo. Ao mesmo tempo bravo, apreensivo. Não sabia distinguir todos os sentimentos que estavam impregnados em sua face.
— Só pode ser uma pessoa. —
Ele lançou um olhar sugestivo para Lise. Um olhar nada amigável.— Era só o que me faltava! — Minha madrasta bufou, não escondendo a raiva.
— De quem estão falando?
— Pierre Lamartine. — Meu pai me respondeu com os olhos fixos nos meus.
— Ah, entendi. — Bebi um pouco do suco. — Quem é ele mesmo?
— O cara que a sua mãe namorou antes de mim. Foi pouco tempo, coisa de dias, mas Pierre sempre foi apaixonado pela Diane e nunca lidou muito bem com o término. Ele me odeia.
— Que ótimo! Estive com um possível psicopata. — Desdenhei.
— É sério, Gen! Esse homem é perigoso. Ele ficava ligando pra Diane. Ele até ameaçou ela. Aí nós brigamos e Pierre deixou a cidade. Nunca mais o vi, desde então.
— Há uns dois meses você recebeu uma ligação e ninguém falou nada. — Lise comentou pensativa.
— Com certeza era ele. — Felipe respirou fundo. — Merda! O que ele quer aqui? — Seu questionamento foi quase um grito.
— A pergunta certa é: o que ele quer comigo?
— Nada vai acontecer com você. No que depender de mim, ele nunca mais chega perto de você. — Podia sentir a veracidade em cada uma de suas palavras.
— Seu pai me contou sobre esse homem faz tempo, mas nunca pensei que ele pudesse voltar.
— Vou contratar seguranças, para quando não puder estar com você.
Eu até poderia dizer que não. Entretanto, saber que aquele homem podia ser um possível psicopata atrás de mim era o suficiente para me intimidar.
— E se prestarmos uma queixa? — Sugeri.
— Não temos nada para apresentar para a polícia. Não daria certo. — Lise balançou a cabeça.
— De agora em diante, nenhuma de vocês sai de casa sem estar acompanhada por mim ou por um segurança.
Uma semana depois
Diferente do que eu imaginava, não houve avanço nenhum entre meu pai e eu, desde que ele me falou sobre o tal Pierre Lamartine. Estava devolta à estaca zero. Voltei à fase em que não conseguia orar ou me conectar com o Céu.
Há tempos não recebia uma carta. Desde antes do casamento de meus tios. Há uns dois meses. As coisas estavam estranhas. Felipe parecia ter voltado a se tornar indiferente a mim. Ele voltou a mal olhar na minha cara e a falar meia dúzia de palavras.
Para onde quer que eu fosse, tinha dois seguranças no meu pé. Aparentemente, Pierre se mantinha longe.
Tão longe quanto eu estava de Deus. É incrível como pequenas coisas são capazes de abalar nossas estruturas. Estava dando o meu máximo para me manter firmada, mas era difícil.
Confesso que, à medida que estava mais distante do Céu e de meu pai, automaticamente, acabei me afastando um pouco de Lise, Darla, Jughead e Theo.
Sabia que meus amigos estavam orando por mim, embora eles não soubessem o que estava acontecendo de verdade
Estava mais calada, imersa nos meus próprios pensamentos, no meu próprio mundo cinzento e que estava a cada dia mais mortificado.
Tentava, com todas as forças, apegar-me ao que Deus havia me dito naquele culto. A questão é que não houve melhora, não houve progresso nenhum. Pelo contrário, as coisas só pioraram.
Como não teve o último período, voltei mais cedo para casa. Um dos seguranças também era o meu novo motorista.
Chegando no Beaumont's me certifiquei de que nem Lise ou meu pai estavam por lá. Subi para o apartamento, enquanto os seguranças foram almoçar. Antes de entrar, pude ouvir o som de uma discussão. A porta estava entre aberta, o que me permitia ver Lise andando de um lado a outro e Felipe, nitidamente, com raiva.
— Não pode fazer isso. — Lise falou com a voz embargada.
— Posso sim, Anelise! Eu sou o pai. — Ele bufou.
— Você não pensa, Felipe! Não pensa.
— Vai ser melhor pra todo mundo, Lise. — Ele segurou os ombros dela.
— Pra quem? Pra você, só se for. — Lise se desvencilhou de suas mãos e o empurrou.
Minha madrasta estava chorando. Ok. Qual deveria ser o problema da vez?
— Genevieve vai para um colégio interno e pronto! — Felipe gritou.
Senti uma pontada no peito. Como se tivesse levado uma facada. Instantaneamente, meus olhos marejaram e logo as lágrimas estavam rolando.
— Você não tem esse direito. — Lise gritou, socando seu peito. — Não tem. — Seus soluços me deixavam agoniada.
— Para de drama, Anelise! — Ele segurou seus pulsos. — Você só se apegou a Genevieve porque viu nela a chance de ter o filho que você não pode ter.
Então, ouviu-se o silêncio. Naquele instante, percebi que estava completamente sozinha.
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De Pai Para Filha
Teen FictionFelipe Beaumont era o tipo de homem que procurava fugir de encrencas, mesmo que não fizesse isso com muito êxito. Tornou-se pai no auge dos seus vinte anos, no entanto após a morte de sua amada decidiu que a filha deveria ficar aos cuidados da avó m...