Capítulo 23 - Pierre Lamartine

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Eu tinha que ter coragem de entrar naquele apartamento e encará-los, mas era difícil. Não pensava que as coisas estavam tomando aquela proporção.

Pensava que Lise gostava de mim. De verdade. Doía saber que meu pai queria se livrar de mim mais uma vez.

E Deus? Onde Ele estava naquele momento? Por que Ele não me mandava uma carta para dizer que tudo ficaria bem? Ou melhor, por que há uma semana atrás Ele me disse que as coisas iriam melhorar e que haveria mudança? Pelo contrário, só piorou.

Sentia-me sozinha. A solidão poderia ser considerado o pior dos sentimentos. Era terrível olhar em volta e ver que não havia ninguém.

Era terrível abraçar o próprio corpo enquanto as lágrimas banhavam o meu rosto, enquanto não havia ninguém para me abraçar ou para enxugar minhas lágrimas amargas.

Enxuguei meu rosto e aguardei alguns minutos. Iria lidar com minhas confusões internas sozinha. Deveria me acostumar com a solidão.

Afinal, era isso que iria acontecer depois que Felipe me mandasse para a porcaria de um colégio interno. O que mais magoava era Lise. Ela só se aproximou de mim por que não podia ter filhos? Quer dizer, se ela pudesse ser mãe, seria a madrasta má da Cinderela comigo?

Entrei no apartamento. Lise já não estava mais na sala. Felipe parecia tenso. Mal me olhou, apenas fez um aceno com a cabeça.

Fui direto para o quarto. Joguei a mochila em cima da cama e respirei fundo. Precisava ordenar meus pensamentos.

— Como foi a aula Gen? — Lise apareceu na porta. Estava com os olhos meio vermelhos.

— Legal.

— Está tudo bem? — Ela entrou no meu quarto.

Queria gritar que não. Queria gritar que tudo estava uma droga.

— Tudo ótimo. — Engoli em seco.

- Vamos almoçar?

— Não estou com fome.

— O que você comeu?

"Você se importa?", meu cérebro apontou.

— Hambúrguer. — Dei de ombros.

— Hambúrguer não tem todos os nutrientes que você precisa e...

— Quero ficar sozinha. — Soei mais ríspida do que gostaria. — Estou com dor de cabeça. Preciso dormir um pouco.

Lise se aproximou e checou minha temperatura. Segurei o choro compulsivo. Estava cansada de derramar lágrimas por quem não merecia nada que viesse de mim.

— A dor começou há muito tempo?

— Não. Foi quando cheguei. — Fui sincera com essa resposta.

— Tomou remédio?

— Vou tomar. Tenho na mochila.

— Está bem, então. Qualquer coisa me chama. Vou ficar no apartamento hoje.

Ela saiu do quarto e eu chorei. Tirei meus tênis, fechei a janela e as cortinas. Desliguei a luz e deitei. O ar estava ligado, deixando o ambiente propício para um cobertor. Estava encolhida na cama, deixando as lágrimas rolarem livremente.

O celular vibrou. Era mensagem do Jughead. Ele e Darla vinham notando que estava mais distante. Disse apenas que estava com meus comuns problemas entre pai e filha.

Jug:
Gen?

Eu:
Oi.

Jug:
Como você tá, princesa?

De Pai Para FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora