AO SAIR DO MORRO (Completo)

Capítulo 21

No auditório da DanceRio os alunos conversam entre si, curiosos para saber porque nos reuniram aqui no meio da semana. O som fino do microfone sendo testado por um professor logo a frente no palco pequeno, incomoda meus ouvidos. Disseram que é um comunicado importante, Karen está ao meu lado, mechendo no celular com um sorriso safado no rosto, e já deduzo que está falando com Pablo.

Estamos no mesmo barco, se relacionando só por telefone, já que nossos namorados estão em guerra na favela, fazendo hoje três semanas que não o vejo. Que saudade. A cada ligação noto ele mais estressado e distante, compreensível, já que é tudo novo para ele, nunca precisou se abster de sexo e manter uma relação a distancia.

Só que hoje, com guerra ou não, pretendo fazer uma surpresa para ele.

Na parte da tarde trabalharei na minha coreografia solo e quando anoitecer, passarei lá. A Diretora se posiciona no palco e pede atenção, Karen bloqueia o celular e olha pra frente, aos poucos os cochichos cessam.

- Bom dia alunos, reunimos todos aqui esta manhã para avisar de algumas mudanças, as coisas no mundo da dança estão mudando, ficando mais exigentes. - Ela faz uma pausa, olha nossa reação e os cochichos começam novamente.

- Atenção pessoal, atenção. - Ela diz e todos se calam. - Como era de costume aqui na DanceRio, todos os alunos do último ano se apresentavam em uma noite decisiva para olheiros de faculdades de todo o país, isso vai mudar um pouco. - Outra pausa e desta vez todos se mantêm calados. - Todos os alunos do último ano continuarão sendo avaliados por seus professores, como em todos os anos, e se aprovados vão receber seus diplomas, mas só trinta desses alunos serão escolhidos pela escola e terão a oportunidade de se apresentar para os olheiros, a apresentação funcionara da seguinte forma. - Em outra pausa ela olha para o papel em suas mãos. A essa altura já estou suando, e se eu não fosse escolhida?

- Os trinta alunos escolhidos terão que se dividir em dois grupos, cada um dos grupos montarão um número coletivo. Será escolhido quinze mulheres e quinze homens, então cada aluno individualmente terá que ter um número solo e outro em dupla. Ficará a critério de cada aluno a escolha de seus parceiros entre os trinta escolhidos, lembrando que os escolhidos serão do último ano e serão avaliados por notas e desempenho nos últimos anos de curso, colocaremos os nomes ainda hoje no mural de informações, boa Sorte. - Ela finaliza e sai do palco, deixando todos apreensivos. Parada, continuo encarando o palco, até sentir o cutucão de Karen.

- Nossa amiga, que bomba. - Diz impressionada. Só olho para ela e aceno, concordando.

- E se não escolherem a gente? - Pergunto, com medo.

- Estamos fodidas? - Responde com a pergunta, fazendo uma careta de desgosto.

Sim, estamos.

◆◆◆

O restante da manhã passa se arrastando, todos esperam ansiosos o bendito papel ser colocado no mural, os outros alunos, dos outros anos, voltaram a programação normal, já nós, estamos aqui, não faz sentido treinar algo se não sabemos mais se vamos apresentar.

Depois do que parece uma eternidade, Selma vai até o mural e cola o papel ali, alguns alunos já correm para olhar e em segundos a multidão se forma ao redor do papel. Ouve-se de tudo, gritos, lamentos, assovios e múrmuros. Karen e eu nos mantemos sentadas, esperando a aglomeração diminuir, olho para o lado e vejo Rodrigo se aproximar de nós.

- Foram escolhidas? - Ele pergunta e seu sorriso some quando vê nossas caras.

- Ainda não sabemos, vamos deixar diminuir o movimento ali.

- Vocês são boas, com certeza o nome de vocês está lá. - Diz tentando nos animar.

- Deus te ouça, o seu está? - Ele assente sorrindo, pelo menos não terei que escolher outro par e fazer um número do zero se for escolhida. Mas não quero nem pensar se não for.