AO SAIR DO MORRO (Completo)

Prólogo

Morro Trindade, treze anos atrás

Corro pelos becos tentando não esbarrar em ninguém, todos olham quando passo voado com os caras na minha cola. Eles custam a me pegar e isso deixa eles puto, mas tô pouco me fodendo. Quando me pegarem vou apanhar mesmo.

Derrubo coisas no caminho e alguns caem, mas a tropa do maldito era grande e ele colocava todos se fosse preciso, pra me pegar.

Minha mãe morreu por causa dessa merda toda, não vou fazer parte disso.

Entendo o puto querer vingança e até torço pra que ele consiga, quem matou minha mãe tem que pagar. Mas não quero fazer parte disso, essa não pode ser minha vida.

Não vejo quando um vapor vem pela frente e atropelo ele com tudo, logo em seguida os outros se jogam em cima de mim. Pronto, tô fodido.

Entro no barraco do meu pai, que está sentado cheio de puta no colo, o cômodo fede a droga e sangue. As putas me olham enquanto o lambem.

Um puta nojo.

Ele levanta quando fixa os olhos em mim, a raiva é explícita em seu rosto.

— Quando eu chamar tu vem, filho da puta. — Grita furioso, e me soca no rosto. A força da pancada faz minha cabeça tombar para o lado.

— Filho de uma puta, eu sei que não sou. — Rebato com raiva, cuspindo o sangue.

— Vou te ensinar a virar homem, nem que eu te mate. — Outro soco e outro, e mais outro. Acostumado com porrada não choro mas sinto o ódio crescendo em mim. Prestes a explodir.

Me solto dos caras que seguram meus braços e empurro ele, que de tão drogado cai no chão. Não consigo ter outra ação, pois os homens dele me imobilizam de novo. Ele levanta e se aproxima, me encarando de perto.

— Tu vai ser meu sucessor ou vai morrer e se não me obedecer mato aquele teu amiguinho e todos que eu sei que tu gosta. — Seu olhar é frio, seu rosto não treme, então sei que não está mentindo.

A vontade de matar ele é grande mas ela não ia querer isso. Então apenas assinto.

— Tranca ele na casa três, sem comer e sem beber. — Diz pra um dos vapores e me olha com desprezo. — Amanhã vai separar carregamento, vai trabalhar pra comer agora.

Minha mãe ficou com esse verme porque amava ele e ele deixou ela morrer. Acabou com tudo de bom que tinha na minha vida. E talvez nunca mais eu tenha paz.