Capítulo 31

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KR, duas semanas após a morte de Pablo 

Olho para o prédio que conheço desde a infância, prédio que me lembra as duas mulheres que mais amei na vida. Sinto a saudade apertar, me lembrando o vazio gigantesco dentro de mim.

Nunca estive tão sozinho e tão determinado a mudar, o que vou fazer nos próximos dias me levará a mais solidão mas me livrará de uma vida inteira de prisão e sofrimento. Ouço o som de pegadas e olho para o lado, vendo que não estou mais sozinho, o policial se aproxima desconfiado.

– KR – Me cumprimenta baixo. Aceno em resposta. – O que fez o comandante sair da toca? – Ele pergunta.

– Vim cobrar o que me deve. – Falo e ele não faz perguntas, só assente.

Esse cara é o único cana que tenho contato, desde uma invasão da polícia lá na Trindade e ele ficou pra morrer, meus truta pegaram ele e iam matar mas não deixei, disse que ele me devia uma e liberei. Isso ficou guardado por anos e hoje preciso do pagamento.

– Do que precisa?

– Vou invadir outra favela e matar o comandante de lá, depois vou me entregar. – Falo tranquilo e ele me olha sem acreditar.

– Sabe que não vai sair vivo da cadeia. – Ele afirma.

– É, tô sabendo, por isso tu vai mexer os pauzinhos lá dentro pra reduzir minha pena. – Lanço o plano.

– Não tenho o controle sobre isso, sou só um policial. – Ele fala se saindo.

– Não vai ser quando prender um peixe grande, matar outro, prender outros envolvidos e pacificar uma favela. – Mando o papo reto de como as coisas vão funcionar e ele fica pensativo.

– Como tem tanta certeza de que vai dá certo? – Pergunta de cu trancado.

– Dinheiro compra tudo nesse país, só preciso de alguém lá dentro comprando minha liberdade.

Ele fica um tempo encucado mas depois concorda.

– Vou te recompensar por isso, mas vou logo deixando registrado, se tu inventar de vazar o plano prós cana, eu te mato e dou um jeito de matar todos os envolvidos. – Ameaço pra deixar o nego ligado.

– Pode ficar tranquilo, te devo uma. – Fala e sei que está sendo sincero. Deixo tudo esquematizado, e dou o primeiro passo para a minha pena.

***

Estou na minha sala, me preparando para mais uma invasão, pego o rádio e chamo Palito, que minutos depois entra na sala. – Manda o papo chefe.

– Tu vai ser o novo Sub, e se me acontecer algo nesse conflito, Trindade é tua responsa. – Falo tranquilo, conformado que não vou mais voltar pra favela.

– Não se tô preparado pra isso não patrão.

– Tu é esperto, conhece os esquemas e a favela, vai desenrolar o trampo bem. – Ele assente.

– Agradeço a confiança patrão. – Diz e baixa a cabeça em reverência.

De todos eu sei que ele é o mais preparado, não queria colocar outro na berlinda que é comandar o tráfico, mas se eu vou preso, preciso deixar as ordens, se não a confusão mata eles e os moradores.

Jaé, mete o pé. – Digo, ele assente e sai.

Hoje faz duas semanas que Pablo morreu, e hoje vou vingar ele e minha mãe, tenho que fazer isso se não, não vou conseguir seguir em frente em paz. Tô cansado disso tudo e a liberdade vai ter um preço, estou disposto a pagar pra experimentar uma vida de verdade. E ela me vem a cabeça.

É torcer pra que tudo dê certo, pra que eu possa algum dia botar meus olhos nela de novo. E se isso acontecer, garanto que nunca mais perco ela de vista.

AO SAIR DO MORRO (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora