KR, duas semanas após a morte de PabloOlho para o prédio que conheço desde a infância, prédio que me lembra as duas mulheres que mais amei na vida. Sinto a saudade apertar, me lembrando o vazio gigantesco dentro de mim.
Nunca estive tão sozinho e tão determinado a mudar, o que vou fazer nos próximos dias me levará a mais solidão mas me livrará de uma vida inteira de prisão e sofrimento. Ouço o som de pegadas e olho para o lado, vendo que não estou mais sozinho, o policial se aproxima desconfiado.
– KR – Me cumprimenta baixo. Aceno em resposta. – O que fez o comandante sair da toca? – Ele pergunta.
– Vim cobrar o que me deve. – Falo e ele não faz perguntas, só assente.
Esse cara é o único cana que tenho contato, desde uma invasão da polícia lá na Trindade e ele ficou pra morrer, meus truta pegaram ele e iam matar mas não deixei, disse que ele me devia uma e liberei. Isso ficou guardado por anos e hoje preciso do pagamento.
– Do que precisa?
– Vou invadir outra favela e matar o comandante de lá, depois vou me entregar. – Falo tranquilo e ele me olha sem acreditar.
– Sabe que não vai sair vivo da cadeia. – Ele afirma.
– É, tô sabendo, por isso tu vai mexer os pauzinhos lá dentro pra reduzir minha pena. – Lanço o plano.
– Não tenho o controle sobre isso, sou só um policial. – Ele fala se saindo.
– Não vai ser quando prender um peixe grande, matar outro, prender outros envolvidos e pacificar uma favela. – Mando o papo reto de como as coisas vão funcionar e ele fica pensativo.
– Como tem tanta certeza de que vai dá certo? – Pergunta de cu trancado.
– Dinheiro compra tudo nesse país, só preciso de alguém lá dentro comprando minha liberdade.
Ele fica um tempo encucado mas depois concorda.
– Vou te recompensar por isso, mas vou logo deixando registrado, se tu inventar de vazar o plano prós cana, eu te mato e dou um jeito de matar todos os envolvidos. – Ameaço pra deixar o nego ligado.
– Pode ficar tranquilo, te devo uma. – Fala e sei que está sendo sincero. Deixo tudo esquematizado, e dou o primeiro passo para a minha pena.
***
Estou na minha sala, me preparando para mais uma invasão, pego o rádio e chamo Palito, que minutos depois entra na sala. – Manda o papo chefe.
– Tu vai ser o novo Sub, e se me acontecer algo nesse conflito, Trindade é tua responsa. – Falo tranquilo, conformado que não vou mais voltar pra favela.
– Não se tô preparado pra isso não patrão.
– Tu é esperto, conhece os esquemas e a favela, vai desenrolar o trampo bem. – Ele assente.
– Agradeço a confiança patrão. – Diz e baixa a cabeça em reverência.
De todos eu sei que ele é o mais preparado, não queria colocar outro na berlinda que é comandar o tráfico, mas se eu vou preso, preciso deixar as ordens, se não a confusão mata eles e os moradores.
– Jaé, mete o pé. – Digo, ele assente e sai.
Hoje faz duas semanas que Pablo morreu, e hoje vou vingar ele e minha mãe, tenho que fazer isso se não, não vou conseguir seguir em frente em paz. Tô cansado disso tudo e a liberdade vai ter um preço, estou disposto a pagar pra experimentar uma vida de verdade. E ela me vem a cabeça.
É torcer pra que tudo dê certo, pra que eu possa algum dia botar meus olhos nela de novo. E se isso acontecer, garanto que nunca mais perco ela de vista.
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AO SAIR DO MORRO (Completo)
RomansaCallie é uma jovem dançarina, dedicada fielmente a sua carreira, onde batalha diariamente para receber uma tão sonhada bolsa para estudar fora do país. Seu foco muda ao aceitar um convite, e esse convite a levará a um rosto conhecido, e mesmo que a...