AO SAIR DO MORRO (Completo)

Capítulo 34

"...Menina, deixa eu te contar tudo que eu planejei Arrumei as malas e vou te levar
Prum lugar tão longe que dê pra sentir
Energia boa e água do mar
É que você sabe, amor
Eu não sou tão bom com a dor
Me ensinou tudo que eu sei
Peço que entenda que
Hoje eu sou mais que pensei
Não mais um fora da lei
Teu olhar não esconde que
Eu sei bem que você me quer, mas eu já sei qual é..."
(Outro dia - Lourena)

Callie

- Um e dois, três e quatro, entendeu? - Explico pela décima vez o mesmo passo para Érica que me olha apreensiva.

- Callie, fiz exatamente como você fez. - Ela repete os movimentos e não consigo aprovar, parece que tudo ao meu redor está fora do lugar.

- Está chegando lá. - Digo ainda insatisfeita, ela me encara desacreditada e se afasta bufando.

Meu nível de estresse subiu muito nesses últimos dias, noites mal dormidas e fodas mal sucedidas estão me tirando do eixo. Tudo por causa dos malditos sonhos, nada está bom, nada parece ser o bastante.

- O que está havendo, você já fez eles repetirem muitas vezes, pra mim parece bom. - Zoe fala quando se aproxima, analisando junto comigo o grupo a frente.

- Você não é figurinista? - Descarrego mal humorada.

- Ok - Responde devagar, surpresa pela minha grosseria. - O que está acontecendo? - Emenda a pergunta e se posiciona na minha frente de braços cruzados.

- Desculpa, não estou boa esses dias, é a TPM. - Digo cansada, tocando minha têmpora esquerda com a ponta dos dedos.

- TPM de semanas amiga? - Continua sondando.

- Olha, não quero falar sobre isso, já vou, preciso descansar. - Repito a mesma desculpa de sempre. - Gente, por hoje é só, podem descansar. - Digo ao grupo de dançarinos. - Vou indo. - Digo para Zoe e mando um beijo no ar.

- Me liga se precisar. - Diz carinhosamente.

- Ligo sim.

Nesses últimos dias só o que faço é descansar, que consiste em me entupir de remédios e dormir tão profundamente sem ter o perigo de sonhar. Desço do palco, pego minhas coisas e saio do salão, me dirigindo ao banheiro.

Não sei o que está acontecendo para as minhas crises estarem tão fortes, consegui manobrar bem nos últimos anos, com terapia e medicação mas de uns tempos pra cá nem isso está adiantando. Tem alguma coisa muito errada comigo. Entro no banheiro e olho meu reflexo, estou acabada, tudo que consegui vestir hoje foi um conjunto de moletom e chinelos.

Amasso meus cachos azuis, eles continuam maravilhosos, pelo menos uma parte de mim não está sucumbindo ao caos por causa de meras lembranças. Sou patética. Vou até o boxe e me alívio, lavo minhas mãos, ponho meus óculos escuros e passo um pouco de gloss nos lábios. É, melhorou um pouco. Ando até a saída e me deparo com uma pequena aglomeração de dançarinas, que cochicham não tão baixo assim, animadas.

- Nossa, ele é bem gostoso. - Ouço de uma delas.

- Gostoso é pouco. - Outra responde.

- Quem será a sortuda que ele ta esperando? - Outra questiona, e começam a olhar umas para as outras e pra quem passa ali. O cara deve ser bem incrível.

Sem dá muita importância continuo meu caminho, atravesso as portas de vidro do teatro e desço as poucas escadas que me levam ao estacionamento, e por curiosidade olho para onde elas tanto olham.