Callie
Tento ignorar o acelerar dos meus batimentos cardíacos e o aumento significativo da temperatura do meu corpo ao olhar para a avenida e ver Kairo encostado no carro parado no meio fio, já perdi as contas de quantas vezes ele fez isso.
É assim a semana inteira, já faz três semanas desde a primeira vez que o vi. Mantive as mesmas atitudes todo esse tempo, não o dirigi a palavra, passo por ele como se o mesmo não existisse, ele me segue até meu carro e respeita meu silêncio.
Continuou fazendo mesmo após dizer, no dia após a agressão, que não conversaria, não importa o que ele dissesse ou fizesse e ao invés de voltar para o Brasil, continuou vindo só que se mantém calado.
Em alguns desses dias, vi dançarinas do musical tentado conversar com ele, cheias de sorrisos e perguntas, me senti ridícula quando o instinto assassino tomou conta de todo o meu sistema.
Respiro fundo, ergo a cabeça e sigo meu caminho, passo pelos portões do teatro e vejo o fogo e admiração em seus olhos, que fazem minhas pernas perderem a firmeza, não vou conseguir viver tranquilamente com ele ali, presente nos meus dias, me atormentando.
Já não basta as malditas noites?
Paro em sua frente, a alguns metros que me protegem de sentir seu cheiro, cruzo os braços, o encarando.
– Isso já está ficando ridículo, não acha? – Minha voz soa calma, anos de atuação em musicais me ajudaram a mascarar minhas emoções.
Ele sustenta meu olhar por alguns segundos, consigo ver sua determinação. Já conheço ela bem, no pior sentido da palavra.
– Nos dê a oportunidade de conversar Callie. – Sua voz soa igualmente calma.
Ele está diferente, parece ter adquirido algum tipo de sabedoria, que o fez aprender a esperar e saber respeitar o tempo dos outros. Antes ele usava armas pra ser acatado imediatamente, hoje ele parece entender que não é bem assim.
O que aconteceu com ele? Onde está o poderoso chefão? Onde está o cara agressivo e tosco?
– Conversar não mudará nada. – Respondo convicta.
– Então porque a resistência? – Ele rebate.
Analiso todas as opções que tenho e concluo que ignorá-lo não está sendo bem sucedido. Bufo derrotada. Acho que posso aguentar alguns minutos.
– Tem meia hora. – Falo e começo a caminhar até meu carro, sinto sua presença atrás de mim. Abro a porta da direção e entro no veículo, logo mais ele entra, deixando o carro pequeno com todo seu tamanho.
Seu cheiro toma conta do pequeno espaço, paro de respirar tentando evitar ao máximo sentir.
Quem precisa de oxigênio? Besteira.
Solto pequenas lufadas de ar e espiro um número limitado de oxigênio, dirijo rápido até meu café favorito, antes que faleça no caminho.
Lá terá mesinhas fora do estabelecimento e esse horário deve estar bem vazio, me dará a privacidade que preciso. Assim que estaciono o carro ali perto, saio rapidamente, podendo finalmente respirar o ar fresco da cidade, aperto o botão na chave e travo o carro.
Ando pela calçada com ele ao meu lado, sei que me olha mas me mantenho firme olhando para frente, chegamos no café e escolho uma mesinha no canto, longe das pessoas sentadas ali, através da vidraça vejo Deric e aceno sorrindo pedindo por gestos o mesmo de sempre.
Finalmente olho o homem a minha frente, que me olha com intensidade, tento não me abalar e manter meu objetivo, fazer ele sair da minha vida de uma vez por todas.
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AO SAIR DO MORRO (Completo)
Storie d'amoreCallie é uma jovem dançarina, dedicada fielmente a sua carreira, onde batalha diariamente para receber uma tão sonhada bolsa para estudar fora do país. Seu foco muda ao aceitar um convite, e esse convite a levará a um rosto conhecido, e mesmo que a...