-A gente vai pro Rio essa semana.
-E só agora você lembrou de me avisar?
-Desculpa Le, esses dias tem sido corridos. A Vitoria deve ideia de marcar o encontro com os fãs e tem sido uma loucura organizar isso.
-Ana - Ela suspirou. – Tem sido difícil do jeito que está. Você parece me usar de bote salva vidas.
-Que?
-Sim. Eu nunca sou seu primeiro pensamento. Se não é o trabalho, é a Vitoria e as necessidades dela. Ai quando você pode se volta para mim. Você não me inclui na sua rotina, nem me deixa tentar ser amiga da Vitoria. Isso é medo?
-Do que?
-Dela. Do sentimento dela. Você acha que se eu ficar perto dela vai incomodar. Você acha que eu não sei que ela se declarou para você? Ainda em Araguari?
-Que? Como?
-Ela. Ela teve a coragem que você não teve. Ela me falou que estava sentindo algo por você.
Olhei assustada para ela e esperei uma reação.
-Ana eu sei que gosta de mim. E que me respeita. Mais eu também sei que o sentimento é correspondido e você não está sabendo lidar com isso. Vocês vão para o Rio juntas. Melhor então você pensar no que quer. Esses dias vão ser bons para eu colocar a minha cabeça no lugar também.
-Le, eu não preciso de tempo. Eu sei que eu gosto demais de você. Admiro você como mulher e eu quero sim continuar na sua vida.
-Esse é o problema Ana. Você não vê? Você gosta de mim. O que seria gostar? Você não ama. Você ama ela. De uma forma tão profunda que às vezes você se perde no meio desse sentimento todo. As musicas. São sobre um amor tão leve, tão tocante. Você nunca escreveu sobre mim.
-Le, Eu deixei claro antes disso começar que Vitoria era sim o amor da minha vida. Mais ela é muito mais que só amor entende? Ela é amizade, casa, conhecido. Aqui nessa cidade ela é minha ligação. Meu conforto. A gente tem algo e eu prezo muito por isso. Porem, como posso falar isso sem te magoar? Amores vem e vão. Vitoria vai permanecer. Onde quer que eu esteja.
Ela respirou fundo, e os olhos transbordaram.
-Eu tenho tentado te entender, juro. Eu amo você Ana. Muito. Eu fico na minha, não exponho, por que sei que sua família jamais iria aceitar. Tento aceitar o fato que eu sempre vou ser um segredo na sua vida.
-Eu sei disso Le. E gosto muito mesmo de você. Não penso em terminar nosso namoro. Eu e Vitoria não temos nada. A gente tem convivido na mesma casa e não rolou nada.
-Tudo bem. Faça boa viagem. Quando você voltar à gente conversa mais OK? Preciso ir, tenho uma apresentação de seminário.
-Boa sorte Lá. Arrebenta. –Ela sorriu com os lábios frágeis e tremidos.
-Se cuida.
-Eu vou.
**
Rio era uma das cidades mais bonitas que eu já tinha visitado. Naquele dez de Setembro se mostrava nublado e tristonho como os meus sentimentos. Eu me sentia em uma sinuca de bico. De um lado meus sentimentos por Vitoria e do outro Letícia.
Eu tinha medo. Medo que o meu amor por Vi me afogasse e isso acaba-se com a carreira e com a amizade. Ficava pesando em como eu iria prosseguir sabendo que ela não era mais minha. Da onde ia vir à inspiração para compor? Eu não sabia o que fazer. Vitoria era furacão. Letícia era conforto, zona mansa.
Olhei Vitoria com os pés na areia. A água indo beijar os pés gorduchos. Ela ria alto e brincava de pular as pequenas ondas. O biquíni preto contrastando com a pele leitosa. Os cabelos brincando com o vento e o chapéu sendo levado algumas vezes.
Fui correndo para perto dela, e ela me agarrou pela cintura me girando. Ri alto, ouvindo o barulho das ondas e sentindo seu cheio de maresia.
Felicidade tinha gosto de água do mar?
Adentrei o quarto do hotel e olhei a cama de casal. A gente tinha pedido um quarto simples para dividir e não era a primeira vez que a gente dormiria na mesma cama. Mais dessa vez, eu tinha medo. Medo do que ia acontecer em ter ela tão perto de mim desse jeito.
-Ninha vou tomar banho. Tu quer sair para comer, ou prefere pedir?
-Pedir. To podre hoje.
-Então pede para mim uma salada qualquer....
-E arroz com feijão e se tiver um hambúrguer de grão de bico.
-Isso.
-Pode deixar.
Ouvi ela entrando no chuveiro, e por um instante imaginei a água batendo no corpo dela, descendo pela barriga e se enroscando nos pelos entre as pernas. Senti o desejo apertando tudo dentro de mim. Respirei fundo enquanto pegava o telefone e discava para a recepção. Vitoria saiu do banho com os cabelos molhados exalando um suave aroma de lavanda. Entrei no banheiro correndo, evitando olhar demais para o corpo envolto pela toalha.
Quando sai do banho o jantar já tinha sido entregue. Jantamos juntas ouvindo o suave barulho das ondas e os sons de carros passando pela avenida. Vitoria deitou logo após comer e eu fiquei sentada na pequena mesa esperando ela dormir. Não confiava em mim, em deitar naquela cama após os pensamentos impróprios que tinha tido há alguns minutos.
Peguei meu celular para responder as mensagens e só após ouvir o ressonar baixinho me permitir deitar na cama macia. Vitoria dormia virada para o outro lado, mais foi só eu deitar que seu corpo buscou o meu calor. Prendi a respiração enquanto suas mãos buscavam minha cintura e puxavam meu corpo de encontro o seu. Senti sua respiração em minha nuca e sua perna buscou espaço entre as minhas.
-Agora sim. –Ela sussurrou baixinho.
Mal eu sabia que o tormento tinha começado.
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Depois de Você
FanfictionFreud dizia que Nós nunca somos tão desamparadamente infelizes como quando perdemos um amor. Eu podia dizer mais. Perder Vitoria foi como ser queimada viva. Era como ser engolfada pelo mar. Mal conseguia respirar , nunca senti tamanha dor na vida...